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I Colóquio Internacional de Filosofia e Ciências do Homem
Michel Foucault
23, 24 e 25 de Novembro
Instituto Franco Português |
Comissão Científica
Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa
Nuno Nabais e Olga Pombo
Centro de História e Filosofia da Ciência da FCT da UNL
António Manuel Nunes dos Santos e José Luís Câmara Leme
Centro de Estudos de Comunicação e Linguagens da FCSH da UNL
António Fernando Cascais e José Augusto Mourão
Tema do Colóquio |
Programa
23 de Novembro
9h30 |
Philippe Reliquet (Dire
Olga Pombo, António Manuel Nunes dos Santos e José
Augusto Mourão |
10h |
Didier Eribon - La Peste, la Lèpre et la Variole: Épidémiologie
des Sociétés Contemporaines |
Intervalo
12h |
Philipe Cabau - Arquitectura e Dispositivos de Controlo Philipe Artières - Archives d'un malentendu. Retour sur la table-ronde de l'impossible prison |
Intervalo para
Almoço
15h |
Manuela Ivone Cunha
- Foucault e a Prisão Contemporânea
José Subtil - A Condução da Conduta e a Modernidade Política em
Portugal (séc. XVII e XVIII) Diogo Sardinha - Le sens profond de Surveiller et Punir |
Intervalo
17h30 |
Vera Portocarrero - Genalogia, Arquivo e
Invenção: um uso do Pensamento de M. Foucault José Luís Câmara Leme - Desrazão e Infâmia |
24 de
Novembro
10h |
António Barbosa - Foucault e a Psicossomática
António Cavalcanti Maia -
Do Poder Disciplinar à Biopolítica |
Intervalo
12h |
Eduardo
Pellejero - Do
Dispositivo ao Acontecimento: a Leitura Deleuziana de Foucault Patrícia San Payo - Foucault e Blanchot: a exigência da descontinuidade |
Intervalo
para Almoço
15h |
Nuno Nabais -
Figuras do Desaparecimento em
Vigiar e Punir
José Bártolo - Sentidos Vigiados: uma Semiótica da Instrumentalidade em
Vigiar e Punir Alexander Gerner - Cavernas da Excepção. Insónias na Saída |
Intervalo
17h30 |
Margarida Medeiros -
Fotografia e Disciplina: uma Aproximação entre dois
Dispositivos Angel Gabilondo Pujol - La Creación de Espacios y las Formas de la Verdad |
25 de Novembro
10 h |
José Augusto Mourão - A Guarda dos
Sentidos Jacinto Godinho - The Eye of the Power. Um Olhar no Centro do Mundo |
Intervalo
12 h |
Stephanie
Wenner -
Foucault e Schelling Aurélio Guerra - Foucault e a Questão Islâmica |
Intervalo
para Almoço
15 h |
António Cavaliere -
Sistema Penal, «Emergência» e Direitos Fundamentais. Reflexão Jurídica
segundo a Experiência Italiana |
Intervalo
17h30 |
Peter Pál Pelbart - Biopolítica e Contraniilismo |
Actividades Paralelas
Exposição fotográfica - Michel Foucault e o
Grupo de Informação sobre as Prisões, "Une jounée particulière" d'Élie Kagan, de 14 de Novembro a 3 de Dezembro.
Instalações vídeo:
MAUMAUS (Escola de Artes Visuais) - Ver, Ser Visto e Máquinas de Ver, de 7 a 30 de Dezembro.
CODA (Jonathan Saldanha, Maria Mire, Miguel Silva Graça) - Urban Panopticon, de 23 de Novembro a 15 de Dezembro.
Concerto - Mécanosphère: Um Gramofone para Benthan, 15 de Dezembro às 22h00.
Ciclo de cinema e vídeo - Le
monde est un grand asile. (Todas as sessões serão realizadas no Auditório
Franco-Português pelas 19h00)
Novembro |
Dezembro |
Segunda, 7 Alphaville de Jean-Luc Godard |
Comizi d'amore (Enquête sur la sexualité) de Pier Paolo Pasolini |
Segunda, 14 San Clement de Raymond Depardon |
Jaime de António Reis |
Urgences de Raymond Depardon Un chant d'amour de Jean Genet |
Sexta, 9 La moindre des choses de Nicolas Philibert |
Michel Foucault par lui même de Philippe Calderon et François Ewald |
Segunda, 12 Titicut Follies de Frederick Wiseman |
Terça, 22 Des prisons aussi de Hélène Châtelain |
Ich glaubte Gefangene zu sehen (I thought I Was Seeing Convicts) de Harun Farocki |
Segunda, 28 La mort en direct de Bertand Tavernier
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Die Schöpfer der Einkaufswelten (The Creators Of The Shopping World) de Harun Farocki |
La rage et le rêve du condamné de Jean-Pierre Krief |
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Sans elle(s) collectif sous la direction d'Anne Toussaint |
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Colóquio Internacional de Filosofia e Ciências Humanas
Lei,
Segurança e Disciplina.
Trinta
anos depois de Vigiar e Punir de Michel Foucault
Ainda que breves, transitórias, abrindo-se na eminência do seu próprio desaparecimento, as palavras que aqui hei-de dizer não serão inteiramente escolha minha. Uma palavra precede a minha palavra. Uma ordem se insinua sob o que direi. Um ritual reclama aqui o seu cumprimento.
Ao
ser chamada a tomar a palavra na abertura deste colóquio é previsível
que comece por cumprimentar todos os presentes, por agradecer a todos os
convidados, às instituições que nos recebem e apoiam, àqueles que
connosco partilham responsabilidades de organização. E eu quero
agradecer a todos: aos investigadores que vêm de fora, e são onze
investigadores que vêm de Espanha, de França, de Itália, da Alemanha e
do Brasil aos catorze investigadores que vêm de dentro, daquilo que
somos em conjunto, daquilo que inventamos aqui, cada um por seu lado Ao Instituto
Franco Português, às Embaixadas de França e do Brasil, à Fundação
para a Ciência e a Tecnologia, aos outros dois Centros de Investigação
que, connosco, se envolveram na organização deste colóquio (o Centro de
História e Filosofia das Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de
Lisboa e o Centro de Comunicação e Linguagem também da Universidade
Nova). Sem o apoio de todos, este colóquio não teria saído da
improbabilidade em que foi sonhado e as vinte cinco comunicações que
aqui serão apresentadas ao longo de três dias de trabalho, sobre
áreas tão diversas como Direito, Filosofia, História, Arquitectura,
Sociologia, Estética, Psiquiatria, Teoria Literária, Semiótica, não
chegariam talvez nunca a ser construídas. Talvez nunca viessem mesmo a
ser pensadas. Nunca chegariam a ser ditas.
Ao
tomar a palavra nesta sessão de abertura, algures, lá, cabe-me ainda
explicar por que razão o Centro de Investigação que aqui represento -
Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa - decidiu
promover um colóquio sobre o tema «Lei, Segurança e Disciplina. 30
anos depois de Vigiar e Punir»
de M. Foucault. Existem três
razões principais.
Primeira
- porque estamos particularmente interessados em pensar a relação entre
a ciência e as instituições em que ela se produz. Não na perspectiva,
que é a da Sociologia, que olha a ciência como uma actividade humana
entre outras e que, portanto, procura caracterizá-la enquanto tal, mas
sim na busca dos procedimentos estruturados, das incorporações históricas,
das formas materiais que constituem as condições de possibilidade de
produção de ciência, o seu a priori
histórico, como diria Foucault. E aqui, a obra Vigiar e Punir
revela-se cada vez mais actual e decisiva para pensar essa sombra
institucional sobre a qual, ontem como hoje, se recortam as práticas
científicas.
Segunda
razão - porque temos consciência que Vigiar e Punir permite uma
outra compreensão do modo como se constituíram as ciências humanas e,
portanto, da sua natureza e especificidade. Num momento em que elas, as ciências
humanas, quase deixaram de ser problema para si mesmas e se transformam,
cada vez mais, em simples prolongamentos dos regimes de governamentabilidade que era suposto questionarem, é decisivo recordar a
sua arqueologia política, rememorar o modo como, desde a sua origem, elas
acompanham a história do poder disciplinar.
Terceira
e última razão - o Centro de Filosofia das Ciências que represento é
dos poucos centros de investigação em Portugal (senão o único) que não
se constitui como prolongamento de um departamento universitário, mas,
pelo contrário, resulta da convergência de investigadores de diferentes
departamentos, diferentes faculdades e mesmo diferentes universidades, que
trabalham em áreas de investigação muito diversas ( da Física à
Antropologia, da Matemática à Semiologia, da Biologia à Filosofia). Por
essa razão, ele está interessado em - e talvez especialmente colocado
para - pensar as arquitecturas e as arquitectónicas disciplinares. E,
nesse sentido, a questão da disciplina, tal como Foucault a formulou e
deu a ver na sua fundamental ambiguidade - enquanto poder normalizador e
dispositivo de saber - não pode senão aparecer-nos como um tópico
central do nosso trabalho.
Onde
pretendo chegar? Que quero eu afinal dizer?
Num
colóquio sobre Michel Foucault, saber que, naquilo que fui chamada a
dizer, alguma coisa se insinuou sob aquilo que disse saber que, ainda que
as tenha escolhido com cuidado, as palavras que pronunciei obedeceram a
uma ordem que se cumpriu no meu dizer, essa consciência é qualquer coisa
que, aqui - justamente aqui - se torna estridente.
Porquê?
Porque, em grande medida, foi Foucault quem denunciou esse sussurrar
inquietante que se diz naquilo que se disse, naquilo se dirá.
Estridência
feita da incomodidade que decorre de eu saber que, naquilo mesmo que digo,
alguém ou alguma coisa se diz em mim e por mim, que estou portanto
condenada a obedecer a uma regra que não escolhi.
Estridência
feita também da desocultação, do vislumbrar de uma margem qualquer
donde - finalmente - a palavra (a minha, a vossa palavra) possa
irromper insubmissa, livre e inquietada.
Que
isso, aqui, tenha lugar é o desafio que nos está, hoje, aqui, lançado! |
Secretariado
Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa
Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
Campo Grande, Edifício C1, 3.º Piso, Sala 1.3.35
1749-016 LISBOA
Telefone: 217500000, ext.21335
Fax: 217500346