Apresentação do
Colóquio
Viver na Europa
Filosofia, Ciência e Política hoje
Portugal assiste hoje a vagas de imigração brasileira, leste-europeia, africana ou chinesa que suscitam as reacções mais diversas. A França e a Alemanha viveram e vivem ainda situações semelhantes. Antigamente, portugueses instalavam-se em outros países para aí buscar melhores condições de vida ou simplesmente a liberdade que a ditadura lhes negava. De há trinta anos a esta parte Portugal tornou-se por sua vez um destino de imigração. Certas consequências destes movimentos populacionais são conhecidas. Por um lado, as dificuldades de integração daqueles que chegam a uma terra estranha, a exploração económica a que estão sujeitos, a permanência irregular sobre um território nacional, a discriminação e tantas vezes o racismo de que são alvo. Por outro lado, o aparecimento de novas formas de vida cultural, social e política que a presença deles provoca. Pelas suas histórias como pelo presente, Alemanha, França e Portugal encontram-se em boa posição para se debruçarem conjuntamente sobre estas realidades.
No entanto, tais acontecimentos ocorrem num quadro que ultrapassa as relações imediatas entre países. As políticas de população passaram a ser concebidas à escala continental, com fronteiras que se esbatem no interior da Europa e outras que se reforçam para separar a União do seu
- ou dos seus - exterior(es). Enquanto a Europa procura desenvolver uma política comum de relações com as outras regiões do Globo, cada país-membro adapta às suas circunstâncias as políticas que dizem respeito à mestiçagem, aos fluxos migratórios e às metamorfoses que eles induzem nas estruturas económicas e sociais. Ao mesmo tempo, a globalização afecta estes países por outras vias: ameaças de pandemia (gripe das aves, doença dita «das vacas loucas»), posições a tomar face aos conflitos militares (Afeganistão, Iraque, Israel/Palestina), perigos de contornos mais difusos como «o terrorismo».
Para uma filosofia atenta ao presente torna-se necessário escutar estas realidades e deter-se nelas para delas extrair o que se joga de mais radical para a actualidade. Daí a atenção que ela dedica à situação dos imigrantes legais ou ilegais, ao direito de asilo, à biopolítica, ao ambiente e à ecologia política, às práticas e às políticas de saúde física e psíquica, à bioética, à tecnologia e à ciência, em suma a tudo o que constitui as condições sob as quais a vida é hoje possível e ainda e sempre em causa. Partindo de um quadro europeu globalizado, examinando os problemas que surgem no seu seio, este colóquio propõe-se tratar de uma nova forma velhas interrogações capitais:
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Como percebemos e como construímos as diferenças que nos separam dos outros?
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Segundo que alteridades estrangeiras ou apenas estranhas pretendemos definir o que somos e o que são os outros?
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Que
fronteiras nos atravessam interiormente e que deslocamentos
sofrem elas actualmente?
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Por que caminhos as relações entre «eles» e «nós» conduzem a integrações ou pelo contrário a exclusões; à compreensão e à transformação mútuas?
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Em que medida os temas do controle das populações
(Foucault), da hospitalidade incondicional (Derrida), das literaturas menores
(Deleuze), do pária como modelo da cidadania (Hardt et Negri) ou ainda o tema das diferentes formas da nossa condição de seres vivendo em esferas
(Sloterdijk) podem alimentar esta reflexão?
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De que esquemas teóricos precisamos e que conceitos devemos reunir ou inventar, não apenas para compreender a situação em que nos encontramos e os caminhos que nos conduziram até ela, mas também para desbravar caminhos a novos modos de existência singular e colectiva?
Todas estas perguntas podem resumir-se a duas, cruciais: como devemos caracterizar a vida do nosso tempo e do nosso espaço europeus? E que pretendemos fazer desta vida?
Para responder-lhes, reuniremos as contribuições da ciência, da política e da filosofia. Este colóquio será um espaço onde se cruzarão as suas diferentes vias, na história e para o presente.
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