Em 2015, bateram-se recordes de visitas nos museus e no património arquitectónico da cidade. No entanto, existem espaços que, apesar de serem essenciais ao seu tecido cultural, são desconhecidos de muitos, a começar pelos lisboetas. A partir de hoje, e em três textos, O Corvo faz uma sugestão de roteiro-descoberta de alguns dos museus mais interessantes e, afinal, não tão visitados de Lisboa.

 

Texto: Rui Lagartinho             Fotografias: Paula Ferreira

 

Casas com alma de museu

 

Museu Rafael Bordalo Pinheiro

 

O Campo Grande ainda tem recantos que nos permitem viajar no tempo e o Museu Rafael Bordalo Pinheiro é certamente um deles. O limite da viagem pode chegar aos cem anos, a idade que esta casa cumpre em 2016, tendo sido criado graças à energia e entusiasmo de Cruz Magalhães, um admirador de Bordalo.

 

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O museu, gerido pela Câmara Municipal de Lisboa, entrou no século XXI totalmente renovado, quer no espaço expositivo, desdobrado em dois espaços onde se articula não só a rotatividade do acervo em exposições temporárias, bem como fomentando um diálogo privilegiado com as investigações mais recentes sobre Bordalo Pinheiro. Deste vetusto acervo fazem parte 1200 peças de cerâmica, 3500 exemplares de gravura, 3000 originais, entre desenho e pintura, 900 fotografias de época, mais de 3000 publicações.

 

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É um espaço luminoso e atraente, onde a exuberância gulosa dos pratos e travessas (Bordalo à mesa é o fio condutor da exposição actual) casa na perfeição com as pranchas humorísticas e de crítica social, onde o Zé Povinho é rei. Ao fundo, no primeiro andar da casa, a secretária onde Bordalo trabalhou, robusta e polivalente, faz-nos sorrir, imaginando tudo o que dali saiu para as paredes do museu.

 

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Campo Grande, 382 – 1700-097 Lisboa

Tel.: 218 170 667

Horário: Terça a Domingo das 10:00 às 18:00

Encerra 2ª-feira e feriados

Bilhetes: 1.50€

 

 

Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves

 

Rodeados dos prédios mais altos de Lisboa, na zona de Picoas, é impossível não pensar na ideia de aldeia gaulesa que tudo resiste quando cruzamos a entrada da Casa Museu Dr. Anastácio Gonçalves, depois de apreciarmos as borboletas Art Nouveau em ferro do portão. Antes de ser a casa do oftalmologista e filantropo que lhe deu o nome, o espaço esteve ligada a um vulto incontornável da pintura portuguesa: José Malhoa. Esta casa foi a sua habitação e atelier.

 

O traço de ligação entre os dois homens está num retrato da sala nobre do museu, no qual Malhoa pintou Anastácio Gonçalves. Não é possível fazer a história do naturalismo português sem visitar esta sala, onde há obras de Malhoa, Silva Porto, João Vaz e Columbano Bordalo Pinheiro, entre outros.

 

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A presença e o gosto do mecenas e colecionador sente-se por todo o percurso da casa – afinal, esta foi uma casa habitada. No quarto um crucifixo, na mesa da sala de jantar posta, nas porcelanas chinesas alinhadas nas vitrinas.

 

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É difícil sair desta casa sem ter curiosidade pelo oftalmologista que tratou Calouste Gulbenkian, alojado ali ao lado no então Hotel Avis. Uma vida intensa e que teve um fim mais próprio de um filme: durante vários anos, Anastácio Gonçalves tentou, por várias vezes, obter permissão para visitar São Petesburgo, então Leninegrado, e o Museu Hermitage. Quando, em 1965, consegue o tão almejado visto, o médico morre durante viagem, um dia depois de visitar o museu.

 

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O ano de 2016 começa com o foco em Gustave Courbet, de quem a casa tem dois quadros a ele atribuídos, com uma conferência sobre este pintor. Depois, e ao longo do ano, haverá inúmeros concertos de entrada livre no atelier, para além de uma intensa actividade, que inclui mesmo aulas de yoga – normalmente, uma vez por semana, ao sábado de manhã.

 

 

Avenida 5 de Outubro, 6, 1050 Lisboa

Tel.: 213 540 823/923

Horários: Terça a Domingo – 10h00 às 18h00

Bilhetes:

Normal – €3

Pessoas com mais de 65 anos ou menos de 25 anos – €1,50

Portadores de Cartão-Jovem – €1,20 * Gratuito no primeiro Domingo de cada mês e para crianças até aos 14 anos, estudantes e professores (mediante comprovativo)

 

 

Casa Museu Medeiros e Almeida

 

Em 2016, a Casa Museu Medeiros e Almeida celebra quinze anos de actividade. Ocupa um quarteirão nobre na zona dos grandes negócios financeiros de Lisboa, a dois passos da Avenida da Liberdade. Com exepção dos que, por paixão ou profissão, se dedicam às artes decorativas, a casa ainda é desconhecida de muitos lisboetas, embora o número de visitantes cresça ano após ano.

 

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A colecção de porcelana chinesa – que pode ser uma excelente iniciação nesta área, com peças incontornáveis dos vários períodos da China Imperial – deixa-nos fascinados. Ali perto, as vitrinas da relojoaria contam o tempo de todas as formas e feitios, tantas são as peças, a maioria cumulando duas características que nem sempre se aliam: são boas e originais.

 

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A sala de visitas da Casa é a vasta Sala do Lago, um antigo jardim agora coberto e revestido em madeira. Azulejos a toda volta, estátuas do romantismo italiano, porcelanas raras, jóias, fonte em mármore rosa.

 

É como que um espelho do colecionador e benemérito que fez fortuna com a “aceleração” do século XX. Primeiro, com a importação de automóveis e, mais tarde, com a aviação e os transportes de mercadorias, através da marinha mercante, e que multiplicou a fortuna com a exportação de volfrâmio durante os anos quarenta. Medeiros e Almeida organizou o futuro da sua colecção e património, criando uma fundação com seu nome, que gere este magnífico espólio de milhares de peças.

 

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No final de manhã em que visitámos o palacete da Rua Rosa Araújo, a directora guiava um casal de colecionadores estrangeiros. São constantes os pedidos, garante-nos Teresa Cancela.

 

Endereço: R. Rosa Araújo 41, 1250-194 Lisboa

Telefone: 21 354 7892

Horários: De 2ª feira a 6ª feira, das 13h00 às 17h30m

Sábados, das 10h00 às 17h30m

Bilhetes: 5 € – De 2ª feira a sábado, das 13.00h às 17.30h

Bilhete Sénior (maiores de 65 anos): 3 € – De 2ª feira a Sábado das 13.00h às 17.30h

Bilhete Criança/Jovem (até 18 anos – inclusive): GRATUITO

Bilhete Manhã Sábado: GRATUITO – das 10.00h às 13.00h

Bilhete Anual, entrada livre na Casa-Museu e acesso a todas as exposições temporárias: 50€

 

 

Mais informações em:

 

http://www.casa-museumedeirosealmeida.pt/

 

http://museubordalopinheiro.cm-lisboa.pt/

 

http://www.patrimoniocultural.pt/pt/museus-e-monumentos/rede-portuguesa/m/casa-museu-dr-anastacio-goncalves/

 

 

O Corvo nasce da constatação de que cada vez se produz menos noticiário local. A crise da imprensa tem a ver com esse afastamento dos media relativamente às questões da cidadania quotidiana.

O Corvo pratica jornalismo independente e desvinculado de interesses particulares, sejam eles políticos, religiosos, comerciais ou de qualquer outro género.

Em paralelo, se as tecnologias cada vez mais o permitem, cada vez menos os cidadãos são chamados a pronunciar-se e a intervir na resolução dos problemas que enfrentam.

Gostaríamos de contar com a participação, o apoio e a crítica dos lisboetas que não se sentem indiferentes ao destino da sua cidade.

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