Vencedor 2015

Kant’s Construction of Nature: A Reading of the Metaphysical Foundations of Natural Science

por

Michael Friedman


[Cover] Kant’s Construction of Nature: A Reading of the Metaphysical Foundations of Natural Science

A obra

O livro de Friedman é a primeira análise sistemática de Os Fundamentos Metafísicos das Ciências Naturais (Metaphysical Foundations of Natural Science - MFNS, 1786) em língua inglesa, mas será certamente uma referência para estudos posteriores, em qualquer outra língua. A “leitura” contextual de Friedman analisa Os Fundamentos Metafísicos das Ciências Naturais a partir de três perspetivas distintas: 1) o rescaldo da correspondência Leibniz-Clarke, especialmente à luz de Euler e Lambert; 2) o próprio desenvolvimento intelectual de Kant a partir da metafísica Leibniziana dos seus trabalhos pré-crítica 3) a maturidade dos trabalhos em filosofia transcendental, a edição B da Crítica da Razão Pura e os Prolegômenos. O resultado é uma impressionante e nova interpretação de Os Fundamentos Metafísicos das Ciências Naturais, revelando o profundo conhecimento de Kant tanto quanto à física Newtoniana como aos seus problemas com o Espaço Absoluto e o Movimento Absoluto. Especialmente a partir das revoluções desencadeadas pela relatividade e a mecânica quântica na física do séc. XX, o texto de Kant adquiriu uma má reputação, por exemplo, de que Kant procura demonstrar por pura razão o que Newton tinha descoberto por observação e experimentação. Contrariamente, na ótica de Friedman o principal contributo de Kant foi explicar como se torna possível a aplicação da matemática pura aos conceitos empíricos de física matemática. A dificuldade textual é que parece que a aplicação da matemática que permite à física ser uma "ciência apropriada", exige a "construção" dos conceitos empíricos da física, isto é, a apresentação de uma intuição “a priori” que corresponde a um conceito associado. Mas Friedman nega, também através de fundamentação textual sólida, que os conceitos da física possam ser construídos no sentido técnico de Kant. Friedman argumenta que Kant desenvolve uma metafísica especial que explica passo a passo como é possível a conceitos fundamentais da física Newtoniana - duração, ímpeto e força - adquirirem métodos de medição universalmente aplicáveis. Esta estratégia interpretativa determina que certas leis da física devem ser verdadeiras para que haja, em primeira instância, um processo universal de medição da massa. Apelando para a noção moderna de definição implícita, Friedman afirma que, para Kant, as leis da mecânica do movimento não apenas afirmam factos empíricos sobre o movimento verdadeiro ou absoluto, mas definem um quadro de referência privilegiado em que eles se verificam. Isto é então um pressuposto “a priori” da física empírica. Similarmente, Friedman argumenta, convincentemente, que uma metafísica especial, relacionada com a natureza corpórea, está subjacente ao conceito dinâmico da matéria de Kant; no entanto, essa mesma metafísica proporciona o que é descrito como “um serviço indispensável à filosofia transcendental” ao fornecer exemplos onde as categorias e princípios do entendimento puro são realizados em concreto. Pela mesma razão esta metafísica especial é indispensável para dar “sentido e significado” aos conceitos e princípios da metafísica geral. Friedman conseguiu assim situar Kant como um tertium quid entre os físicos metafísicos da escola Leibniziana e a tradição matemático-mecânica decorrente de Newton. A mancha dogmática foi levantada de MFNS, e uma visão extraordinariamente refrescante deste complexo texto foi criada.

Cambridge University Press
ISBN 978-0-19839-4
646 páginas · 2013

[Photo] Michael Friedman

O autor

Michael Friedman é Frederick P. Rhemus Family Professor of Humanities, Diretor do Centro Patrick Suppes para a História e Filosofia da Ciência, e Professor de Filosofia na Universidade de Stanford. Concluiu o seu doutoramento na Universidade de Princeton em 1973, posteriormente lecionou em Harvard, na Universidade da Pensilvânia, na Universidade de Ilinóis em Chicago e na Universidade de Indiana (no Departamento de História e Filosofia da Ciência), e ultimamente em Stanford. Entre os seus mais recentes livros constam: Reconsidering Logical Positivism (1999), A Parting of the Ways: Carnap, Cassirer, and Heidegger (2000) e Dynamics of Reason: The 1999 Kant Lectures at Stanford University (2001). É o editor e tradutor de Immanuel Kant: Metaphysical Foundations of Natural Science (2004), co-editor de The Kantian Legacy in Nineteenth-Century Science (2006), e co-editor de The Cambridge Companion to Carnap (2007).


Prémio Internacional Fernando Gil em Filosofia da Ciência – Edição 2015

O júri atribuiu o Premio Internacional Fernando Gil em Filosofia da Ciência a Michael Friedman pelo seu livro: Kant’s Construction of nature: A Reading of the Metaphysical Foundations of Natural Science, publicado pela Cambridge University Press (2013).

Michael Friedman é um reconhecido filósofo da ciência americano. Recebeu a sua licenciatura (BA - Bachelor of Arts) da Queens College, City University of New York em 1969 e o seu doutoramento da Universidade de Princeton em 1973. Leccionou na Universidade de Harvard, na Universidade da Pensilvânia, na Universidade do Illinois e na Universidade do Indiana; atualmente é professor na Universidade de Stanford. Michael Friedman estabeleceu a sua reputação internacional com a publicação do seu primeiro livro: Foundations of Space-Time Theories: Relativistic Physics and the Philosophy of Science (Princeton University Press, 1983). Com este livro conquistou o prémio Matchette da American Philosophical Association e, em 1987, o prémio Lakatos para filosofia da ciência. Assim como o seu trabalho mais técnico sobre a filosofia da física, Michael Friedman escreveu trabalhos perspicazes sobre a filosofia do séc. XX, em particular o Círculo de Viena. Neste contexto, o seu impressionante e original livro Parting of the Ways: Carnap, Cassirer, and Heidegger, Open Court, 2000, lança uma nova luz sobre a divisão entre a filosofia analítica e a continental. Talvez, no entanto, o centro do pensamento de Michael Friedman tenha sido o seu amor à filosofia de Kant, e a sua convicção de que a abordagem de Kant pode ser adaptada para dar uma explicação satisfatória da ciência contemporânea. O seu livro sobre a obra Construction of Nature de Kant, tem dois aspectos. De um ponto de vista é uma contribuição erudita para a história da filosofia.

Michael Friedman oferece uma leitura radicalmente nova do texto chave de Kant Metaphysical Foundations of Natural Science. O júri ficou particularmente impressionado pela profundidade e exatidão do seu conhecimento – o trabalho de muitos anos de estudo. O texto de Kant é relacionado com Newton, Euler e Lambert, e com os seus próprios escritos pré-críticos. The Metaphysical Foundations foi publicado em 1786, entre a primeira (1781) e a segunda (1787) edição da Crítica da Razão Pura de Kant. É, portanto, um texto central para considerar o desenvolvimento da filosofia crítica como um todo. Contudo, o livro de Michael Friedman não é apenas uma contribuição para a história da filosofia. Para a escola neo-kantiana, da qual ele é um membro proeminente, este estudo detalhado de Kant pode fornecer a base para construir a filosofia da ciência contemporânea. Estas são então as razões pelas quais o júri decidiu que o livro é o digno vencedor do Prémio Fernando Gil 2015.