A cena na Rua Angelina Vidal, que liga os Anjos à Graça, não é muito diferente das que se foram tornando banais um pouco por toda a cidade de Lisboa, nas últimas décadas. Carros em cima do passeio. Quadro existente, muitas vezes, com a complacência de moradores e das autoridades – embora tal prática até já tenha sido mais tolerada. No caso da artéria situada na fronteira das freguesias da Penha de França e de São Vicente, a atitude é, há muito, vista como uma forma de dar resposta, se bem que informal, às necessidade de estacionamento dos moradores. Algo agudizado pelas obras de reabilitação da rua, feitas no verão de 2013, quando passou apenas a ser possível fazê-lo no sentido ascendente, do lado de São Vicente. No lado oposto, os pilaretes entretanto colocados reservam aos peões o passeio requalificado.

 

Antes das obras, terminadas há pouco mais de três anos e meio, também o passeio descendente, situado na freguesia da Penha de França, era parcialmente ocupado pelo rodado dos automóveis. A grande empreitada ali realizada naquela altura compreendeu, não apenas a repavimentação da artéria coincidente com parte do trajecto do eléctrico 28, mas também a reconstrução dos passeios. Nela, optou-se por uma nova solução de calcetamento – entretanto, aplicada em vários locais da capital – pensada para um maior conforto de quem anda a pé em arruamentos com grande declives, com a colocação de piso com características anti-derrapantes, recorrendo a dois tipos distintos de pedra. Um trabalho que, poucos anos volvidos, começa a ser destruído pelo desgaste dos pneus dos automóveis – isto para além de os veículos comprometerem seriamente a mobilidade dos peões.

 

Há poucas semanas, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) fez uma firme defesa da utilização dos pilaretes em vários sítios da cidade, como forma de preservar as áreas reservadas à circulação de peões. “É impossível termos soluções adequadas, quando estamos confrontados com baixos níveis de civismo. A colocação de pilaretes junto a passadeiras é intencional e tem acontecido em várias zonas da cidade, infelizmente, devido à falta de civismo dos automobilistas”, disse Fernando Medina, numa reunião pública do executivo camarário, a 22 de Fevereiro, em resposta a Carlos Moura, vereador do PCP, que criticava a adopção de tal solução numa zona de Campolide recentemente requalificada, por os pilaretes poderem ser naquele local um obstáculo para as pessoas com mobilidade reduzida. “Não conheço nenhuma grande capital europeia que tenha o número de pilaretes que tem Lisboa. E isto só resulta da falta de respeito pelo espaço público dos automobilistas. Enquanto não houver uma mudança cultural, não se vai mudar isto. Não é possível imaginar que, para cada automobilista, há um polícia”, afirmou, na altura, o presidente da câmara.

 

*  Texto editado às 10h46: Clarifica a posição do vereador do PCP Carlos Moura sobre a questão dos pilaretes.

 

Texto: Samuel Alemão

 

  • Vasco Coelho
    Responder

    Pilaretes!!!!

    • Ricardo Branco
      Responder

      1- Há carros a mais em zonas antigas da cidade!
      2- Etc, etc!
      3- Entre as várias soluções de rápida circunstancia!
      4- Há que cortar o mal pela raiz e já de vai fazendo noutras zonas da cidade. Ou seja o estacionamento subterrâneo ou até, como em outros locais, e não sei se já existe em Portugal!?
      5- Dos prédios que, de diversas razões, vão ficando devolutos e até caiem de velhos que ficaram; a construção de estacionamento na vertical. [Prédios auto-sustentáveis de estacionamento, na vertical!]!…

  • Miguel Madeira
    Responder

    essa rua já levou uma outra intervenção depois de 2013, não sei precisar quando.

  • Carlos
    Responder

    Se todos fossem rebocados e/ou o carro apreendido o “civismo” instalar-se-ai imediatamente

    • Carlos
      Responder

      instalar-se-ia

  • Vítor Carvalho
    Responder

    A falta de civismo e o egoísmo dos automobilistas vem dar razão ao Presidente da Câmara quando explica o porquê da necessidade de instalar mais pilaretes, isto apesar de esteticamente não ficar bonito.

    • Jorge
      Responder

      É muito fácil a quem não tem automóvel ou tem um garagem no prédio mandar postas de pescada sobre o que se passa na Angelina Vidal.
      Acontece que nesta zona da cidade há uma gritante falta de estacionamento para os moradores.
      De que forma é que multas e pilaretes resolvem esse problema?
      E porque motivo há estacionamento noutras zonas da cidade e nesta zona não?
      Se a CML tem 15 milhões de euros para gastar na conclusão do Palácio da Ajuda, porque não os usa para resolver os problemas dos moradores?

      • Lisboa
        Responder

        1) Há um parque de estacionamento no Largo de Sapadores. 2) Numa simples pesquisa encontra-se lugares de garagem para alugar na zona. Portanto, isto é falta de civismo, sim.

        • Jorge
          Responder

          1) Não existe nenhum “Largo de Sapadores”. Se se refere à Rua de Sapadores, os lugares de estacionamento ao fim do dia estão cheios. Basta passar por lá para perceber.
          2) Quanto a alugar garagens, já que diz que fez uma pesquisa, quais são os valores pedidos? É como afirmar que se há restaurantes, porque é que há pessoas com fome?

          • António

            1) os lugares de estacionamento no LARGO DE SAPADORES não estão cheios ao fim do dia;
            2) há lugares de garagem nas imediações para arrendar sim por isso procure também;
            3) o que se passa é uma vergonha, e quem não tem garagem e nem quer estacionar longe de casa, VENDA O CARRO E ANDE A PÉ, que faz bem à saúde!
            4) PILARETES, já!

      • Vitor
        Responder

        Lisboa não é um parque automóvel! Que tem o Palácio da Ajuda a ver com a falta de civismo das pessoas ??? agora todo o dinheiro é para gastar com os “carros” !?

        • Jorge
          Responder

          Deve andar muito distraído sobre as prioridades da CML nos últimos 8 anos para perguntar se «agora todo o dinheiro é para gastar com os carros»… Se há área onde a CML não investiu é na mobilidade automóvel.
          E como o artigo explica – e se morasse na zona percebia, não é só falta de civismo, o estacionamento para os moradores é insuficiente.

  • Rui Faustino
    Responder

    Faltam soluções de estacionamento mas também falta consciência cívica, respeito, inteligência.

  • Rui Dos Santos
    Responder

    A culpa é da CML, só. Vamos ser sérios, o estacionamento é imprescindível e obrigatório numa cidade da dimensão de Lisboa. Cada buraco ou espaço, constrói se um prédio para vender. Porque não reabilitar o que existe e ao mesmo tempo, estacionamentos verticais em prédios? Mantinham a fachada e depois vendiam os estacionamentos aos moradores como preço de fração, resolviam os problemas. O preço era adequado ao custo e a manutenção em quotas de condomínio.

  • Luís C. Silva
    Responder

    Que lei é essa do estacionamento obrigatório? Desconheço

    • Luís C. Silva
      Responder

      Já a parte de ser imprescindível discordo

    • Vitor
      Responder

      Exato ! Eu tb tenho carro, moro na zona do Martim Moniz, não tenho garagem e não é nada fácil estacionar! mas nunc o deixo onde é ilegal estacionar ! E o dia que deixar de ser possível estacionar tb deixo de ter carro ! Já vivi em outras cidades fora de Portugal em que as pessoas não tinham carro porque era muito difícil mantê-lo! por isso não é uma obrigação da câmera arranjar estacionamento!

  • Martim Galamba
    Responder

    E depois a culpa é da calçada…

  • Tiago Nunes
    Responder

    Quem fala em falta de civismo ou não precisa de carro ou tem garagem .

    • Lisboa
      Responder

      Tem toda a razão, essas pessoas equacionaram a questão do estacionamento no momento da escolha da habitação. Isso levanta a questão: Porque é que o Tiago não fez o mesmo? Ou acha correcto sermos nós, os contribuintes, a pagar pelos estragos que o seu carro faz no passeio? Ou a ter a sua viatura a estorvar a circulação dos peões? Pode não gostar, mas a isso se chama: falta de civismo.

    • Flash Gordo
      Responder

      Com uma simples pesquisa na internet, encontra garagens disponíveis para alugar na zona. Se não tem dinheiro para alugar uma garagem, então talvez deveria ter pensado nisso quando escolheu a sua habitação.

    • Tiago Nunes
      Responder

      E quem não tem facilidade em escolher a habitação ideal e/ou pagar 75€ por uma garagem ?
      Com uma simples pesquisa na internet também conseguiria ter essa noção.

    • Carlos Garcia
      Responder

      O estacionamento em cima do passeio é portanto legitimo se não houver lugar?

    • Tiago Nunes
      Responder

      Exacto

      • Vitor
        Responder

        Quem arranja casa em Lisboa não é concerteza por ter problemas graves económicos ! E ainda tem carro !!!

      • António
        Responder

        Eu acho que é legítimo riscar os carros e mandar espelhos abaixo quando os carros estão ilegitimamente estacionados em cima de passeios, como na Angelina Vidal.

    • Tiago Nunes
      Responder

      Porque é que acha que raramente multam em certas zonas ?

    • Carlos Garcia
      Responder

      A pergunta era retórica. Gosto só de perceber até que ponto vai o egoismo e a falta de cidadania!

    • Tiago Nunes
      Responder

      Para não haver egoísmo tem de se pensar em todas as partes. Acha que as pessoas gostam de estacionar em cima dos passeios . Ou acha que para conseguirem um lugar andaram às voltas 1h .. Há falta de estacionamentos na cidade . É muito bonito falar de cor amigo .

    • Carlos Garcia
      Responder

      Gostava de ver toda essa retórica ser dita na cara de alguém com dificuldades de mobilidade quando se depara com o passeio bloqueado por um pópó. Meu amigo: você comprou um automóvel, ninguém o obrigou a tal. A responsabilidade de onde se coloca a viatura é sua. Eu nem me vou espraiar muito sobre isto porque é o tipo de coisas que deve ser ensinado de berço. Não se alivia o fardo sobrecarregando o do outro, isto deveria ser, não sei, um conceito mais do adquirido. O passeio é para a circulação de peões, não é para estacionamento. Ponto final parágrafo.

    • Tiago Nunes
      Responder

      Sim sr . Muitas vezes esse carro estacionado em cima do passeio é de uma pessoa com dificuldades de mobilidade também .
      Tem razão , há coisas que vêm do berço , como ser compreensivo .
      Eu não tenho carro , desloco – me de bicicleta . Mas consigo ver o outro lado também .
      A responsabilidade de criar lugares de estacionamento é da cml no caso .

  • Maria Sá
    Responder

    Fazem as obras e tiram os estacionamentos e depois vê-se isto!

  • Filipe Teixeira
    Responder

    Falta é uma policia municipal que faça o trabalho dela.

  • Bruno Afonso
    Responder

    Mário Montez

  • Flash Gordo
    Responder

    A única forma de corrigir a falta de civismo dos lisboetas é com pilaretes, e com um policiamento mais activo.

  • Miguel Rodrigues
    Responder

    A porcaria dos típicos passeios de pedrinhas que nunca mais desaparecem.

  • Pedro Guimarães
    Responder

    passa-se exactamente o mesmo na Rua Voz do Operário. Já vi os funcionários da CML a reparar o passeio DEBAIXO de carros estacionados no passeio. Com carros não se brinca.

  • Margarida Martins
    Responder

    Coloquem Pilaretes

  • Maarten Ryon
    Responder

    Se a policia quisesse fazia muito dinheiro a passar multas todos os dias. Perto da minha casa, meteram pilaretes porque é uma rua estreita com bastante transito e os condutores estacionam simplesmente de lado, o que vem a dificultar ainda mais o transito. Agora há quase todos os dias autocarros que não conseguem passar. Há coisas que não entendo.

  • Rita Fernandes
    Responder

    Este artigo dá conta de um facto não comprovável, geralmente são os carros pesados a provocar danos nos passeios e asfalto. Esta rua tem um grande trânsito de autocarros, evito-a porque o ar é irrespirável e o barulho dos mesmos ensurdecedor. Esta zona da cidade devia ter como transporte principal elevadores eléctricos, em vez disso tem centenas de carros pesados e poluentes a transitar diariamente.
    Quanto ao estacionamento incorreto, lembro que nós os moradores pedimos estacionamento, construíram parques pagos.

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