Opinião de:

Carla Salsinha*

 

Não querendo falar de futebol, até porque pouco percebo, a grandiosidade do nosso povo está na forma como nos envolvemos com os outros, e os nossos adeptos ao longo de todo este Europeu de Futebol foram exemplo disso mesmo. Talvez um dos momentos altos tenha sido o da criança, luso-descendente, que deixa de celebrar a vitória de Portugal para consolar o adepto da equipa derrotada. E isto é indiscutivelmente a nossa grande marca. Para além da extrema beleza do nosso país, do nosso excelente clima, da extraordinária gastronomia, e das fantásticas praias, é esta nossa maneira secular de ser e a nossa pequena dimensão mas com a preservação da nossa identidade e da nossa cultura que nos tornam únicos.

 

Lisboa é o exemplo de tal, é uma cidade cuja luz ilumina os nossos corações, cuja extraordinária forma de acolhimento e de receção de todos os que nos visitam é um dos nossos maiores diferenciadores. Os nossos bairros históricos, as nossas ruas estreitas, as nossas lojas de bairro com os nossos produtos, e todas aquelas lojas que são únicas e que atraem os turistas para o seu interior por nos seus países de origem já as terem perdido.

 

Percorrer a Baixa, Campo de Ourique, o Bairro Alto, todos estes bairros que fervilham de vida, a qual não deriva só do Turismo, mas essencialmente de todos os que nela habitam ou podem voltar a habitar e de todo o comércio que é indiscutivelmente a sustentabilidade de todos estes bairros e da própria cidade.

 

Mais uma vez, a questão do arrendamento comercial tem de ser retomada e cada vez mais defendida, pois se se continuar com esta enorme especulação imobiliária sobre o arrendamento comercial, e na turistificação das cidades, autorizando que quarteirões inteiros de comércio sejam encerrados para neles se instalarem hotéis, não salvaguardando a existência de comércio nos mesmos, o que penso seria inclusivamente uma mais-valia para essas unidades hoteleiras, os nossos governantes estarão a prestar um mau serviço ao País e às nossas cidades. E, de uma vez por todas, temos de deixar de falar só de lojas históricas pois essas serão salvaguardadas, e o que é feito de todas as outras milhares de lojas espalhadas nas cidades? Serão todas para encerrar?

 

Aquilo que defendo não é um puro protecionismo, mas sim medidas equilibradas e que permitam a atividade comercial. Ou então, e pegando no exemplo da minha cidade, Lisboa, em 2020, os turistas nacionais e estrangeiros poderão vir ao centro da nossa cidade visitar um número restrito de lojas históricas e os hotéis, poderemos até ser uma pequena Disney mas só de alojamento e dos grandes festivais, ou das feiras e minifeiras que crescem por toda a cidade de uma forma indiferenciada.

 

Se assim se entender, é só nos informarem para que todos os empresários do comércio iniciem uma nova fase da sua vida, procurar um espaço para um alojamento local, para um hotel ou para um hostel. E por favor, não venham com a questão de que o comércio tem de se modernizar, pois nem mesmo as novas startups do comércio, gente nova empreendedora e com ideias fantásticas conseguem resistir a esta especulação. E pergunto se só existirem hotéis e festivais, se mais nada existir, a cidades serão sustentáveis?

 

Venham os hotéis, venham os festivais, que o Comércio os recebe de braços abertos, mas olhemos de uma vez por todas para este setor com uma visão estratégica.

 

 * Presidente da União de Associações do Comércio e Serviços – UACS

 

  • lisboa-does-not-love
    Responder

    Os habitantes de Lisboa vêm aqui dizer aos turistas e às autoridades locais aquilo de que Lisboa não gosta, esperando de todo coração que as alternativas que se sugerem sejam implementadas.

    http://www.lisboa-does-not-love.com/pt.html
    https://www.facebook.com/lisboadoesnotlove/?fref=ts

    • Vasco
      Responder

      I don’t love rundown buildings.

  • Zé Miguel
    Responder

    Tanto faz, adapta-te. Ou julgas que podes mudar alguma coisa?

  • Paula Gomes
    Responder

    Fico desconcertada em como os comerciantes que tem as sua lojas há imenso tempo e que fecham portas porque não podem comportar uma renda elevada e outros que chegam ao nosso país abrem lojas na Baixa com rendas elevadíssimas, acho que existe algo de estranho nesta situação!

    • Vasco
      Responder

      Pensavam que iriam ter rendas congeladas a vida inteira. Nem se deram ao trabalho de investir nas lojas.

  • Alexandre Nunes
    Responder

    O artigo só peca por não assumir que a cidade já está morta enquanto tal. O comércio local ainda existe? Talvez mas não na zona histórica. Já é demasiado tarde para mitigar. Agora é esperar que corra mal o mais depressa possível para, eventualmente, a cidade voltar a poder ser povoada por residentes e trabalhadores e não apenas pessoas de férias num imenso parque temático.

    • Vasco
      Responder

      Povoada por residentes? Os tais 40% que fugiram de Lisboa entre 1980 e 2011 antes da vaga de turismo?

  • Vera Marreiros
    Responder

    Mas, ainda ninguém percebeu que Lisboa (e boa parte de Portugal) já não é pertença dos portugueses? os habitantes dos bairros antigos (são chutados para longe) e agora são, na sua maioria estrangeiros (que é quem tem dinheiro para alimentar a especulação) o comercio são chineses, indianos ….e voilá o “nosso” Portugal!

    • Vasco
      Responder

      São chutados? Eu também fui chutado desde sempre para os arredores e pago mais de renda do que esses residentes de alfama que sempre viveram de rendas congeladas.

  • Conceição Cruz
    Responder

    Muita lavagem de dinheiro!

  • Dirk Scott
    Responder

    Muitos anos atrás, esta cidade era nada além de campos verdes e praias vazias. Animais e aves viveu aqui, onde estão eles agora? Depois vieram os colonos, em seguida, Phonecians, Romanos, Mouros e visigodos. Estou disposto a apostar que havia nostalgia e tristeza e reclamações sobre os novos edifícios e novas lojas em cada uma dessas ocasiões. Tudo muda. Se acostumar com isso.

  • João Barreta
    Responder

    O Comércio, como setor de atividade económica, contrariamente ao que tem ocorrido com outras áreas da esfera da Economia, nunca teve verdadeiro peso político nos sucessivos elencos governamentais que fomos conhecendo. Nas autarquias, “idem, idem, aspas, aspas!!”! Como tal, e com raras exceções, nunca lhe foi reconhecido (ao Comércio) o papel que poderia assumir, por exemplo, enquanto fator de “vivificação”das nossas vilas e cidades. Um plano estratégico para o Comércio poder-se-á fazer quando houver … estratégia para o setor, o que na minha modesta opinião … não existe!!! Visões há muitas, … como os tais chapéus do filme protagonizado por Vasco Santana.

Deixe um comentário.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

O Corvo nasce da constatação de que cada vez se produz menos noticiário local. A crise da imprensa tem a ver com esse afastamento dos media relativamente às questões da cidadania quotidiana.

O Corvo pratica jornalismo independente e desvinculado de interesses particulares, sejam eles políticos, religiosos, comerciais ou de qualquer outro género.

Em paralelo, se as tecnologias cada vez mais o permitem, cada vez menos os cidadãos são chamados a pronunciar-se e a intervir na resolução dos problemas que enfrentam.

Gostaríamos de contar com a participação, o apoio e a crítica dos lisboetas que não se sentem indiferentes ao destino da sua cidade.

Samuel Alemão
s.alemao@ocorvo.pt
Director editorial e redacção

Daniel Toledo Monsonís
d.toledo@ocorvo.pt
Director executivo

Sofia Cristino
Redacção

Mário Cameira
Infografías 

Paula Ferreira
Fotografía

Margarita Cardoso de Meneses
Dep. comercial e produção

Catarina Lente
Dep. gráfico & website

Lucas Muller
Redes e análises

ERC: 126586
(Entidade Reguladora Para a Comunicação Social)

O Corvinho do Sítio de Lisboa, Lda
NIF: 514555475
Rua do Loreto, 13, 1º Dto. Lisboa
infocorvo@gmail.com

Fala conosco!

Faça aqui a sua pesquisa

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com