Medina responsabiliza grandes empresas pelo estacionamento dos seus funcionários

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Samuel Alemão

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Cidade de Lisboa

27 Abril, 2018

O espaço público disponível na cidade é limitado e, além disso, revela-se incomportável que a comunidade continue a sofrer as consequências da chegada maciça de carros. Por isso, as grandes empresas terão de se habituar a arcar com as responsabilidades. “Não é aceitável que as entidades empregadoras digam aos trabalhadores ‘agora, vocês vão para a rua, encontrem lugar na via pública’ e, assim, desresponsabilizam-se disso. Não é aceitável que o façam. Percebo que o façam para poupar dinheiro dos alugueres dos condomínios, mas não aceito que o façam”. Foi assim que Fernando Medina concluiu a sua intervenção na reunião pública de executivo camarário, realizada na tarde desta quinta-feira (26 de Abril), quando se discutia sobre a necessidade de a autarquia encontrar lugares de estacionamento para quem entra na cidade para trabalhar. Nos casos dos edifícios mais modernos, com garagens, isso não faz sentido, sustenta. E teve o apoio de outros vereadores.

A questão surgiu no período das intervenções destinadas ao púbico, quando Maria Emília Alves, uma funcionária da Galp nas Torres de Lisboa, veio apresentar e entregar à vereação uma petição – assinada por 1632 trabalhadores – por “medidas complementares” à introdução de parquímetros na zona. Alegando que a utilização de uma viatura na deslocação até ao local de trabalho não é um luxo, mas sim uma necessidade – dado o que considerou ser o mau funcionamento dos transportes públicos naquela zona -, criticou o início da cobrança de parqueamento na via pública naquela área. As suas queixas receberam a compreensão tanto do vereador comunista João Ferreira como o eleito pelo CDS-PP João Gonçalves Pereira. Ambos reconheceram existir uma grande dificuldade de quem trabalha nas Torres de Lisboa em encontrar estacionamento e que a entrada em funcionamento dos parquímetros apenas provoca transtornos a quem não tem boas alternativas de mobilidade. E pediram soluções antes das multas.

A isto, o presidente da Câmara de Lisboa alegou com o interesse da comunidade. “A entrada da EMEL visou resolver um problema agudo, que é o do estacionamento dos moradores da zona, que sofrem hoje uma pressão enorme por estarem num pólo agregador de serviços, com uma população que vai ali trabalhar muito superior à dos residentes. Foi essa a razão para a chegada da EMEL, não foi por nenhuma punição aos trabalhadores da Galp”, afirmou o autarca, que, logo de seguida, apontou a mira ao que considera ser a má vontade algumas grande empresas. “Não é admissível remeter para a Câmara de Lisboa e para a cidade a resolução de um problema, quando, em primeira instância, as principais entidades que têm de resolvê-lo simplesmente não lhe dão resposta”. Referindo-se às Torres de Lisboa, recordou que as mesmas foram construídas “já com as regras, do ponto de vista de licenciamento da construção, com uma ponderação de lugares de estacionamento proporcional aquilo que se estima que viessem a ser as suas necessidades”.

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E para que ficasse claro, ainda fez questão de distinguir. “Não falo de construções noutras zonas da cidade e dos problemas que temos em que a construção não tinha estacionamento. Este tem!”, sublinhou. “É gritante que, da parte das empresas onde trabalham, haja um lavar de mãos do problema e dizer ‘não queremos suportar mais nenhum custo e, por isso, vão todos para a via pública. A conta é muito simples: atribuir um lugar de estacionamento a todos os peticionários são oito quilómetros de fila. Imaginem o que isso seria à volta das Torres de Lisboa, todos os lugares e passeios e mais alguns ficariam ocupados e, mesmo assim, não chegariam”. O presidente da câmara considerou, por isso, que tal ambição “não é minimamente razoável”, até porque haverá muitos lugares disponíveis dentro do edifício. Razão pela qual, diz, há um “diálogo” a ser encetado com as entidades empregadoras para franquear o acesso a tais lugares desaproveitados. E deixou o aviso: “Não é possível simplesmente lavarem as mãos e dizerem que isto agora é um problema da EMEL”.

Tais palavras foram depois respaldadas por Miguel Gaspar, vereador da Mobilidade, que criticou o excesso de uso ao automóvel e lembrou que, afinal, apesar de não haver naquela zona uma estação de metro, até existirá oferta de transporte público pela Carris. “A Galp não é uma empresa qualquer. E ainda bem que eles cá estão. Mas têm uma certificação ambiental e isso traz-lhes responsabilidades em termos de sustentabilidade ambiental”, salientou. Gaspar criticou a prática de algumas grande empresas, que, “fruto de políticas fiscais antiquadas”, fazem uma “grande aposta em carros de serviço, como forma de complemento salarial”, quando até poderiam fomentar junto dos seus funcionários outras formas de mobilidade que não passassem pelo uso do carro.


 

As críticas de Fernando Medina ao que considerou ser o “lavar de mãos” de alguns grande empregadores em relação ao estacionamento dos seus funcionários, e neste caso a Galp, encontraram eco no que disse também Ricardo Robles, do Bloco de Esquerda. Apesar de sublinhas ser necessária uma aposta nos transportes públicos – ponto também sublinhado pelo CDS-PP e pelo PCP -, Robles disse que, neste caso, “a solução passa, sobretudo, por uma abertura por parte das empresas e dos condomínios para que haja estacionamento para os trabalhadores”. “Parece-me perverso que haja tantas dificuldades para os trabalhadores e, ao mesmo tempo, lugares vagos no estacionamento subterrâneo”, disse.

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COMENTÁRIOS

  • António Costa
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    A solução passa por condicionar a entrada na cidade e bons transportes. Mas há mais…!

  • mario cruz
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    E os moradores das Avenidas Novas estão esquecidos? Porque é que não criam zonas exclusivas para residentes, com fizeram em Alvalade? Porque é que não fazem reverter as garagens existentes, utilizadas para armazéns etc, para o uso para que foram licenciadas originalmente?

    • Pedro Miguel Cancela Rocha
      Responder

      Alvalade… não queira mesmo… zona de moradores é minúscula… tenho de pedir 2 zonas para não me bloquearam…a 100 metros de casa… já é outra zona…
      Cuidado com o que pedem… pode se tornar real…e não não vão gostar, isso garanto.
      Horas à espera de um lugar…
      As zonas não são assim como pensam…
      É uma bela treta…

  • Antonio
    Responder

    As respostas dos responsáveis políticos mostram a sua ignorância! As torres de Lisboa não tem apenas a GALP. Estão lá várias empresas pequenas e quando muito médias.
    Os lugares estacionamento das torres estão praticamente lotados, tendo o condomínio já alterado lugares horizontal por 2 vertical.
    Quanto a transportes públicos, desde o verão de 2016 foram transferidos para aquelas torres milhares de trabalhadores, qual foi o reforço da Carris? 0!!
    As duas estações de metro mais próximas estam ambas a cerca de 1Km.
    A freguesia de São Domingos Benfica só tem assistindo à destruição de lugares estacionamento, sem sentido, para rentabilizar e até justificar os parquímetros.
    É hora de haver mudanças na lei. Se é necessário existir racionalização do estacionamento, também é necessário que o resultado da sua cobrança seja usado exclusivamente para criação de mais estacionamento e causas sociais.

  • Anónimo
    Responder

    Esta resposta só pode ser a gozar com a cara dos lisboetas.
    Então e as entidades públicas? Em Chelas a CML quer pôr todos a pagar estacionamento junto ao antigo Liceu D. Dinis. O que vai dizer aos professores, auxiliares e administrativos que lá trabalham?
    Paguem 300 euros por mês ou desenrasquem-se? Algumas pessoas vêm de longe e outras de zonas da cidade muito mal servidas de transporte público!
    E as que trabalham junto a outras entidades públicas?
    Este sr. só pode estar a gozar com a cara dos lisboetas.
    Já não bastou o gastar louco de dinheiro a alcatroar ruas que estavam bem alcatroadas, deixando por fazer milhares de quilómetros de ruas que estão há anos esburacadas e remendadas, para dar um ar de “grande obreiro”, e agora vem com frases destas?!
    De mim não levou nem nunca levará voto nenhum!

  • Pedro Tavares
    Responder

    A preocupação não é salvaguardar o estacionamento dos residentes. Esse problema ficou resolvido a partir do momento em que criaram zonas exclusivas para moradores. A preocupação é fazer dinheiro, à conta dos muitos lugares disponíveis para além desses, à conta dos trabalhadores das variadíssimas empresas existentes nas Torres de Lisboa, muitas das quais – ao contrário do que é dado a entender – são empresas de pequena e média dimensão. A GALP é um caso à parte.

    Acresce que as Torres de Lisboa são detidas por um condomínio, que aluga os escritórios a diversas empresas. Estas não dispõem – a não ser num número muito limitado – de lugares de estacionamento atribuídos para os trabalhadores. A esmagadora maioria dos lugares de estacionamento são explorados comercialmente por esse condomínio.

    Finalmente, a rede de transportes públicos da Carris que serve a zona resume-se a um autocarro que passa de hora a hora. Não sei se é a essa “resposta” que os senhores vereadores se referem.

    Um dia de estacionamento na rua custa atualmente mais de 6,50 euros, cerca de 150 euros mensais. E este dinheiro está a sair do bolso de quem trabalha na zona…

    Deviam ter vergonha na cara! Lisboa já quase não tem moradores. Qualquer dia também não terá trabalhadores porque estes e as suas empresas, fartos de ser descritos como um incómodo para os “locais”, vão também mudar-se para outras paragens.

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