Localização atrasa novo memorial de Lisboa às vítimas da Guerra Colonial
Está quase a fazer sete anos que a Câmara Municipal de Lisboa (CML) decidiu “concretizar” um memorial de homenagem às vítimas das “Guerras Coloniais”. A iniciativa do ex-vereador comunista Ruben de Carvalho foi aprovada por maioria, com 16 votos a favor e uma abstenção (CDS-PP), em Maio de 2010. Mas continua à espera de ser levada à prática. Em Belém, recorde-se, já existe um Monumento aos Combatentes do Ultramar, junto ao Forte do Bom Sucesso, no qual se ostenta lápides com o nome daqueles que morreram por Portugal.
Os vereadores do PCP lembram o atraso na concretização da deliberação, num requerimento sobre o assunto, que fizeram chegar, no passado mês de Fevereiro, ao presidente do município lisboeta, Fernando Medina. “Nunca se procedeu à concretização” da deliberação camarária, constatam João Ferreira e Carlos Moura, explicando que “receberam” tal “informação” durante uma reunião com a Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA). O documento que assinam visa obter uma “previsão” da autarquia para a consumação do memorial.
“A CML já nos ouviu”, faz saber, por outro lado, o presidente da ADFA, José Arruda. A “auscultação”, prevista na própria deliberação, ocorreu “há dois ou três anos”, estima o dirigente associativo. Em declarações a O Corvo, adianta que, nessa altura, a autarquia sugeriu a colocação do memorial em Belém, numa zona perto do cais onde se faz a ligação fluvial para a Trafaria.
A ADFA não está de acordo com a localização e prefere que a homenagem seja feita no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Alcântara. Tudo por causa do seu significado. A decisão da CML, aliás, aponta igualmente para o mesmo local, bem como a proposta subscrita pelo ex-vereador comunista Ruben Carvalho, que lhe deu origem. “Indicar para este memorial um dos locais mais simbólicos das partidas dos barcos com as tropas”, pode ler-se logo no texto inicial proposto pelo antigo autarca. Ele acabaria por ser aprovado pela Câmara e incluía uma referência expressa ao Cais da Rocha Conde de Óbidos, indo ao encontro das pretensões da ADFA.
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Túmulo junto ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, em Belém.
Além da simbologia relacionada com o embarque dos militares, José Arruda lembra ainda que era à zona de Alcântara que, “pela calada da noite, chegavam os caixões com os mortos” da Guerra do Ultramar. A proximidade à Ponte 25 de Abril, data que marca o fim da Guerra Colonial, é outro aspecto salientado, ao nível da simbologia, pela ADFA.
A localização desejada para deixar a “marca” das vítimas implica, contudo, abrir uma frente de conversações com a Administração do Porto de Lisboa. Os contactos já “foram iniciados”, garante José Arruda, que diz contar com a “disponibilidade da CML para fazer a ponte” com aquela entidade. O representante dos deficientes das Forças Armadas aproveita, entretanto, para destacar o “apoio total” da autarquia à corrida de atletismo que, a 21 de Setembro, assinala o Dia Internacional da Paz.
“Estão em causa traumas psicológicos e deficiências físicas que retiraram qualidade de vida pessoal e profissional aos cidadãos afectados”, considera a CML ao sustentar a necessidade de erigir um novo memorial. A pretendida homenagem às vítimas das “Guerras Coloniais” – calcula-se que sejam na casa dos “milhares” – é, por isso, segundo a mesma deliberação, uma forma de “reconhecer o direito à reparação moral que assiste aos deficientes das Forças Armadas”. A cidade de Lisboa, acrescenta a autarquia, “deve colocar-se na linha da frente dessa reparação moral”.
Na deliberação da CML consta ainda o compromisso de “convidar um artista de renome nacional para concretizar e fixar” o memorial de homenagem.
Na tentativa de obter mais informação sobre o processo, que se vai arrastando no tempo, O Corvo contactou a CML. Até ao momento, contudo, não recebeu qualquer esclarecimento por parte do município.
A água em frente no Monumento sos Combatantes do Ultramar deve ser enchido com a tintura vermelha para significar o sangue do caído.
A água em frente no Monumento dos Combatantes do Ultramar deve ser enchido com a tintura vermelha para significar o sangue do caído.
Este Memorial do combatente ao soldado desconhecido caído na guerra do Ultramar está no interior da Capela do Combatente junto ao Monumento aos Combatentes e do Memorial aos caídos pela Pátria na guerra do Ultramar.
…Somos todos de Amarante…