Carros invadem passeios na Costa do Castelo

ACTUALIDADE
Samuel Alemão

Texto

MOBILIDADE

Santa Maria Maior

9 Abril, 2013

Os arruamentos em redor de um dos mais icónicos monumentos da capital, ao qual se poderá aceder a partir da Baixa, num elevador a inaugurar em breve, são cenário de desleixo e arbitrariedade. Apesar de ser uma zona de acesso e parqueamento concessionados à EMEL, os automóveis parecem ter livre trânsito e estacionam em cima dos passeios, infernizando a vida de moradores e perturbando turistas.

Quase nove séculos após o cerco ao Castelo de São Jorge pelas forças de Dom Afonso Henriques, uma outra guerra – bem menos dramática, é certo – tem agitado as imediações da fortificação, nos últimos anos. Carros e peões disputam uma desigual batalha pela ocupação dos passeios dos arruamentos em redor. Especialmente na Rua da Costa do Castelo, onde moradores e turistas se vêem confrontados com a inevitabilidade de terem de estar sempre de olhar atento à retaguarda e a encostarem-se às paredes, a cada vez que passa um automóvel.

Isto porque os  passeios foram todos tomados de assalto pelos automóveis dos moradores e de alguns visitantes, numa zona cujo estacionamento e circulação virária são regulados pela EMEL (Empresa de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa). A entrada e saída na Costa do Castelo é mesmo controlada através de pilaretes retrácteis. Ainda assim, é como se aquela fosse uma área entregue à sua sorte. É que cada automobilista parece fazer o que bem lhe apetece, parqueando o carro em cima do passeio, sem receio de vir a ser penalizado por um dos habitualmente zelosos fiscais da EMEL. A situação, que se prolonga há anos, tem-se vindo a agravar, com o que alguns dizem ser o relaxamento gradualmente maior da empresa municipal, criando um clima de permissividade para todos os que trazem viatura para aquela área.

Ao ponto de certos moradores terem já dificuldade em sair de casa ou em circular com o carrinho do bebé. “A Costa do Castelo e a Calçada do Marquês de Tancos estão tão cheias de automóveis em cima do passeio, que não há espaço para as pessoas neles passaram”, diz Bruno Santos Palma, residente naquela zona e membro da assembleia de freguesia da Graça.


“Estão a acabar o elevador que vai trazer pessoas da Baixa para o Castelo e, quando os turistas chegarem aqui acima, o que vão encontrar será esta situação”, nota Bruno, que aponta ainda como graves problemas “a existência de um parque de estacionamento situado dentro das muralhas do castelo” e “a ausência de sinalética adequada” para os turistas.

Bruno Palma lamenta a permissividade das autoridades municipais em relação à circulação e estacionamento automóvel e afirma que “o sistema da EMEL não está a funcionar”, pois os pilaretes mecânicos deixam entrar qualquer um, mesmo que o carro não disponha de selo de residente. Para piorar as coisas, o munícipe diz mesmo que muitos dos que ali moram “pressionam a câmara para que se possa estacionar à vontade”. Por pura conveniência. Uma queixa coincidente com as de Cristina Sousa Horta. Esta moradora da Costa do Castelo trava uma guerra particular com os vizinhos, desde que comprou ali casa, há cerca de três anos, tentando demovê-los de estacionarem no passeio em frente da sua janela. “Quando para aqui vim, apercebi-me que os passeios estavam todos tomados e, além disso, os carros expeliam fumos dos canos de escape para dentro a minha casa situada ao nível da rua”, conta.

“Quando tentávamos falar com as pessoas, pedindo-lhes para não estacionarem ali, elas levavam a mal, como se lhes estivéssemos a tirar um direito fundamental. Não há o mínimo respeito”, lamenta a moradora, que se queixa de, todos os dias, ter de circular com o seu filho no meio da rua, porque as laterais foram tomadas de assalto pelos veículos. Quando engravidou, Cristina decidiu pedir à câmara a instalação de pilaretes metálicos frente à sua casa, visando impedir o estacionamento. Mas, no dia em que quatro foram colocados, dois foram logo retirados, com o cimento ainda fresco, por uma vizinha. Em desespero, Cristina colocou vasos com flores no seu lugar.

Mas alguém chamou a PSP, que a intimou a tirá-los dali – a mesma força policial que, sempre que Cristina se queixa de ter a entrada e as janelas da casa obstruídas com automóveis, alega não ter efectivos para tomar conta da ocorrência.

“Não gosto de ver a cidade com pilaretes, mas é um mal necessário para proteger os peões”, diz esta residente de um bairro comumente visto como um local privilegiado da cidade, pelas suas características. Mas tal visão desvanece, aos olhos de quem lá reside. “As pessoas não percebem que não podem morar numa zona histórica e viver com o carro à porta de casa”, critica, depois de dizer que muitas delas, talvez a maioria, não quiseram usar o parque de estacionamento do edifício onde outrora funcionou o Mercado do Chão do Loureiro. São cinco pisos de parque, num imóvel recentemente reabilitado e, regra geral, às moscas.

“Não gosto de ver a cidade com pilaretes, mas é um mal necessário para proteger os peões”, diz esta residente de um bairro comumente visto como um local privilegiado da cidade, pelas suas características. Mas tal visão desvanece, aos olhos de quem lá reside. “As pessoas não percebem que não podem morar numa zona histórica e viver com o carro à porta de casa”, critica, depois de dizer que muitas delas, talvez a maioria, não quiseram usar o parque de estacionamento do edifício onde outrora funcionou o Mercado do Chão do Loureiro. São cinco pisos de parque, num imóvel recentemente reabilitado e, regra geral, às moscas.

Os preços ali praticados explicarão tal cenário. Para o qual contribuirá ainda decisivamente aquilo que Bruno Palma vê como a “pressão política” de outros moradores para manter o actual estado de coisas. “Não há memória de um carro rebocado aqui pela EMEL”, diz.

ocorvo_09_04_2013_01

Existem zonas da Costa do Castelo em que é mesmo impossível circular nos passeios.

MAIS ACTUALIDADE

COMENTÁRIOS

  • Paulo Ribeiro
    Responder

    É deveras triste morar numa cidade assim. 🙁

  • Peão Exaltado
    Responder

    Há de facto demasiados carros nas zonas históricas. Mas até que ponto o meio metro de passeio deve ser considerado passeio?! Não cumpre nenhuma das normas e recomendações e são naturalmente ignorados pelos peões. Não deviam estas ruas ser consideradas como prioridade ao peão? De facto e naturalmente todos os peões andam ao eixo da via! E devia ser autorizado que o possam fazer em segurança e legalmente.

  • Morador
    Responder

    Quem fala sem saber pode estar calado. Sou morador ha mais de vinte anos e a grande maioria dos moradores destas zonas nao tem garagem, entao os srs que “mandam” deviam ter o minimo de intelegencia e consciencia e criar condiçoes para todos, ja que gastam fotunas em coisas que n tem qualquer tipo de utilidade, como se vê no comercio ate ao cais do sodre, mas é assim este país. Adiante, É melhorar os passeios para os peoes e arranjar a parte de estacionamento nem q isso retira-se alguns lugares e o cilo da pç chao do loureiro, ser gratuita ou estaria incluida no que ja pagamos para ter acesso a rua costa do castelo e nao ser 90€ para moradores, que é uma termenda palhaçada. Tenho dito, antes de se criticar tem que se saber do que se fala e criticar quem “manda” nao quem mora nestes sitio, os senhores governates tem aquilo que desejam que é esta bandalheira e cobrar sem justificaçao para encher os bolsos.

Deixe um comentário.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

O Corvo nasce da constatação de que cada vez se produz menos noticiário local. A crise da imprensa tem a ver com esse afastamento dos media relativamente às questões da cidadania quotidiana.

O Corvo pratica jornalismo independente e desvinculado de interesses particulares, sejam eles políticos, religiosos, comerciais ou de qualquer outro género.

Em paralelo, se as tecnologias cada vez mais o permitem, cada vez menos os cidadãos são chamados a pronunciar-se e a intervir na resolução dos problemas que enfrentam.

Gostaríamos de contar com a participação, o apoio e a crítica dos lisboetas que não se sentem indiferentes ao destino da sua cidade.

Samuel Alemão
s.alemao@ocorvo.pt
Director editorial e redacção

Daniel Toledo Monsonís
d.toledo@ocorvo.pt
Director executivo

Sofia Cristino
Redacção

Mário Cameira
Infografías 

Paula Ferreira
Fotografía

Margarita Cardoso de Meneses
Dep. comercial e produção

Catarina Lente
Dep. gráfico & website

Lucas Muller
Redes e análises

ERC: 126586
(Entidade Reguladora Para a Comunicação Social)

O Corvinho do Sítio de Lisboa, Lda
NIF: 514555475
Rua do Loreto, 13, 1º Dto. Lisboa
infocorvo@gmail.com

Fala conosco!

Faça aqui a sua pesquisa

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com

Send this to a friend