MRPP à porta do metro a tentar atrair os jovens e a pedir municipalização dos solos  

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REPORTAGEM
Sofia Cristino

Texto

AUTÁRQUICAS 2017

URBANISMO

Cidade de Lisboa

29 Setembro, 2017

Eles também são candidatos.

O Corvo esteve com o PCTP/MRPP na Cidade Universitária, numa das últimas acções de campanha do partido. Luís Júdice, cabeça-de-lista do PCTP/MRPP à Câmara Municipal de Lisboa, juntamente com a sua comitiva, entregou panfletos a centenas de estudantes, que não estavam para muitas conversas. A falta de interação dos mais jovens não surpreendeu o candidato. Júdice acredita, porém, ser possível reconquistar a sua simpatia. Criar um novo Plano Diretor Municipal (PDM) e uma bolsa de arrendamento com as 200 mil casas devolutas que garante existirem na cidade, mas também municipalizar os solos urbanos e pôr a cultura na agenda política serão as suas prioridades, se ganhar as autárquicas. Mas primeiro é necessário que os jovens deixem de andar distraídos com as redes sociais, diz.

Luís Júdice, o cabeça-de-lista do PCTP/MRPP à presidência da Câmara Municipal de Lisboa (CML), esteve esta terça-feira, juntamente com cinco elementos da sua comitiva, na saída da estação de metro da Cidade Universitária a entregar panfletos aos estudantes. Foi mesmo ali ao lado, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, que, noutra época, o candidato foi preso pela primeira vez pela Polícia Internacional e de Defesa de Estado (PIDE). “Tínhamos um professor completamente fascista e eu e uns colegas decidimos começar a atirar coisas cá para baixo, cadeiras, mesas, máquinas de escrever, enfim, tudo o que viesse à mão, em forma de protesto”, recorda, apontando para o topo do edifício onde tudo aconteceu.

Mas longe vão os tempos das revoluções estudantis e do envolvimento dos jovens em massa na política. A dificuldade de interacção do partido com os estudantes universitários na acção de campanha a que O Corvo assistiu é prova disso mesmo. Limitam-se a aceitar e a agradecer os panfletos, não revelando curiosidade em conhecer mais sobre o partido que concorre às eleições pela autarquia da cidade onde estudam. Outros não aceitam, caminhando apressados. Duas jovens, entre gargalhadas, comentam: “Isto é os comunas, não é?” Uma professora universitária contraria a atitude dos mais novos. “Eu não sou do PCTP mas gostava de ler as vossas ideias. Temos de estar abertos a tudo. Só não podemos tratar-nos mal uns aos outros, não é?”, questiona, dirigindo-se ao candidato à Assembleia Municipal de Lisboa pelo PCTP/MRPP, Nelson Sousa.


 

“A falta de aceitação dos jovens acontece porque há um enfado em relação à política”, reconhece Luís Judice. “O problema não está na juventude, o problema está nas condições que não criaram à juventude. É muito complicado, num quadro em que se expulsa meio milhão de habitantes da cidade de Lisboa, haver fóruns de discussão ou tertúlias na universidade”, explica. “150 mil jovens estudantes entram todos os dias em Lisboa para estudar e regressam ao final do dia a casa. O tempo não permite que troquem impressões e experiências”, completa.

 

E como se pode inverter essa situação?, questiona O Corvo. “Tem de ser criada uma bolsa de arrendamento de casas, que não deve incluir só as casas que a Câmara de Lisboa detém, que são uma gota no oceano. São as 200 mil casas devolutas que há em Lisboa, que, se ao fim de seis meses continuarem no mercado de arrendamento ou não forem vendidas, têm de ser vertidas para essa bolsa. Só assim haverá uma regulação dos preços, permitindo aos estudantes o acesso à habitação e, consequentemente, o retorno da massa crítica que deixou de existir na cidade”, responde.

 

Depois de distribuir os 600 panfletos, Luís Júdice lembra que o partido que nasceu na clandestinidade se caracterizava, nos anos 70, por mobilizar “um conjunto bastante elevado de jovens”. Os quais têm de ser reconquistados, admite. Nesse sentido, defende que tem de haver uma “ruptura com o passado” protagonizada pelos estudantes. “Eles têm de pensar se preferem dispensar o seu tempo nas redes sociais e nas consolas ou se querem participar e reconhecer que os partidos interferem no seu futuro. Quando saírem de casa dos pais, com a precariedade de emprego que existe, não vão ter qualquer hipótese de viver em Lisboa”, alerta.

 

O candidato do PCTP/MRPP, partido que comemorou 47 anos na semana passada, garante ainda que só há uma forma de reverter o problema da habitação e voltar a trazer pessoas para a cidade: criar um novo Plano Diretor Municipal (PDM). “Defendemos a revogação imediata e a discussão de um novo PDM, mas que seja ampla e democrática e envolva os lisboetas na sua discussão”, explica a O Corvo. “Esse amplo debate deve ser feito através de assembleias, comissões de moradores, sindicatos, universidades, enfim, toda a sociedade civil deve participar na criação de um novo PDM”, apela ainda.

 

O primeiro PDM foi aprovado em 1994, quando o município era presidido por Jorge Sampaio, tendo sido depois alvo de algumas revisões. Deste plano, segundo Luís Júdice, resultou uma transformação “absolutamente dramática” da cidade de Lisboa, com “a liberalização dos solos urbanos”. “Passou a ser o mercado a ditar o rumo dos acontecimentos e a maior crise de expulsão dos lisboetas começa precisamente aqui”, defende o candidato.

 

Para o cabeça-de-lista à CML só há uma forma de acabar com a especulação imobiliária e a corrupção instaladas na capital: a municipalização dos solos. “Queremos a municipalização dos solos, que irá permitir à CML assumir o que é, para quem é e a que preço se faz qualquer construção na cidade de Lisboa. Neste momento, tudo isso é ditado pelos mercados imobiliários, que têm todo o interesse em construir”, assegura.

 

Na recta final da campanha, Luís Júdice alerta ainda para o facto de “nenhuma candidatura, à excepção do PCPT/MRPP, se preocupar com a agenda cultural de Lisboa”. “Nós dizemos que queremos subsídios adequados à actividade teatral, uma companhia de bailado e uma orquestra e há quem se ria de nós. Mas, uma capital europeia sem isto é uma capital regional”, lamenta.

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COMENTÁRIOS

  • Gustavo Manuel
    Responder

    Mas esta malta ainda existe?

    • Atento/sempre
      Responder

      Esta “malta” existe há 47 anos…

  • Vítor Carvalho
    Responder

    Se podíamos viver sem o PCTP-MRPP? Poder até podíamos, mas não seria a mesma coisa, certo camarada Espartaco?…

    • Atento/sempre
      Responder

      Provocações!

  • Paulo Ramos
    Responder

    Sem dúvida a melhor página de comédia aconselho a todos quando estiverem em baixo vão à página do MRPP é um fartote de rir

    • Atento
      Responder

      Tenta olhar para um espelho , mais próximo! talvez encontres algo!!!

  • Lucius Cornelius Sulla
    Responder

    A fina nata da juventude revolucionária!

    • Paulo Ramos
      Responder

      essa agora passou a esquerda caviar estes são aqueles da bejeca e da sandes de torresmo os outros a nata (azeda) é mais produtos grumete

      • Atento/sempre
        Responder

        Um conselho que sugiro ao Paulo Ramos; consultar um bom médico ou psiquiatra!!!

    • Lucius Cornelius Sulla
      Responder

      Paulo Ramos estava a ser ironico, a juventude dos camaradas a distribuir os panfletos é tão patente que não me consegui conter!

    • Paulo Ramos
      Responder

      Só is incautos e os dementes aderem a essa idiologia

      • Atento/sempre
        Responder

        Demente será o Paulo Ramos, porque ter coragem são muito pucos, e você não é um deles…

    • Lucius Cornelius Sulla
      Responder

      Paulo Ramos a malta universitaria charra-se muito, tudo é possível, politicamente e dado que os militantes tinham mesmo de ir à cantina para almoçar acho que foi uma boa jogada!

  • Atento/sempre
    Responder

    O PCTP/MRPP, os seus militantes, simpatizantes e amigos, do partido, merecem algum respeito…
    Espero, que os mais inteligentes, entendam o que eu pretendo dizer!

  • João Silva Castelo
    Responder

    lol…. calma malta. Isto é a nossa versão dos estados unidos terem aqueles gajos de west point a recrutar nas zonas de merda…. relax. THERES NOTHING TO SEE HERE. CARRY ON.

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