Moradores da Graça contestam construção de condomínio de luxo em logradouro antes cheio de árvores

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Samuel Alemão

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URBANISMO

São Vicente

12 Março, 2019

O que era um terreno de 0,6 hectares, densamente arborizado, numa encosta com vista sobre o Tejo, prepara-se para ser cenário de construção de um condomínio de luxo – com apartamentos a custarem entre 600 mil e dois milhões de euros. Algo de que os moradores ficaram a saber, há poucas semanas, quando as máquinas entraram pelo logradouro adentro e derrubaram quase todas as árvores. Depois do choque, mobilizam-se para suspender o projecto. Exigem discussão pública do mesmo. Mas a Stone Capital, empresa promotora, ligada a projectos polémicos como o Palácio de Santa Helena, em Alfama, ou os contentores do Martim Moniz, diz que muita da contestação não passa de desinformação. A começar pelo facto de, garante, todos os trâmites legais terem sido seguidos. Mais, a Stone assegura que, ao contrário do que é dito, o logradouro verde até vai aumentar e serão plantadas árvores. “Este projecto vai fazer muito pela Graça, vai requalificar uma zona que actualmente tem maioritariamente espécies infestastes e vai trazer lugares de estacionamento para residentes”, assegura.

Era um local quase paradisíaco no coração de um dos bairros mais típicos de Lisboa, uma mancha verde com árvores de grande porte e vegetação diversa em plena Graça. Mas, numa manhã de Janeiro passado, as máquinas vieram e destruíram quase tudo. A intervenção de preparação do terreno para a construção de um condomínio de luxo, cuja comercialização é feita sob a designação “Jardim da Glória”, acordou de forma abrupta para a nova realidade os residentes do quarteirão  compreendido pelas ruas Josefa de Óbidos, das Beatas e da Senhora da Glória. “Nunca nos passou pela cabeça que fossem construir algo deste género, nesta zona, num terreno de logradouro que é permeável e com tantas árvores. Vão destruir a qualidade de vida as pessoas que já aqui viviam. Vamos ter uma aldeia de ricos a tapar a vista à aldeia dos pobres”, queixa-se Alexandra Vidal, 38 anos, a morar no rés-do-chão de um dos prédios da Rua Josefa de Óbidos há meia dúzia de anos. Como ela, outros estão agora a aperceber-se do impacto que o empreendimento terá no seu quotidiano. E por isso estão mobilizar-se.

Desde a semana passada, está a circular uma petição sob o mote “Não ao Jardim da Glória sem discussão pública. Não a um loteamento de luxo com destruição ambiental e patrimonial no coração da Graça”. Através dela, pede-se que o projecto seja suspenso até que o mesmo possa ser “tratado por todos como o loteamento que de facto é”. Algo que não sucedeu. O empreendimento da Stone Capital – empresa responsável por alguns dos mais polémicos projectos da capital, como o Palácio de Santa Helena (Alfama) ou a requalificação do Martim Moniz, esta através da participação na empresa Moonbrigade, Lda – ocupará grande parte da área de um logradouro com 6.249 metros quadrados. O projecto prevê a construção de 40 apartamentos com áreas entre os 45 e os 450 metros quadrados (a custarem entre 600 mil e dois milhões de euros ), estacionamento subterrâneo, piscina, spa e zona lounge, jardim e parque infantil. Apesar da dimensão da obra e das profundas alterações que o terreno sofrerá, os moradores dizem que nada sabiam sobre o projecto, até ao corte de árvores.

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O logradouro antes da razia. As árvores de grande porte são já apenas uma recordação

Isso mesmo é salientado nos considerandos da petição, na qual se lê que, a 20 de Fevereiro “máquinas de obras destruíram quase 5 hectares (sic) de árvores e mato, de um imenso logradouro muito antigo, de um “pulmão verde” entre quatro ruas e quatro eixos de prédios, um elemento vital para o equilíbrio ambiental da zona e da cidade de Lisboa” – área que, de acordo com o Plano Director Municipal (PDM) em vigor, será na sua maior parte “logradouro verde permeável a preservar (espaço consolidado)”. De acordo com os promotores da recolha de assinaturas contra o projecto, a referida acção aconteceu “sem aviso prévio”. Mas também, alegam, sem a necessária presença de técnicos, sem a existência de estudos fitossanitários, como o Regulamento Municipal do Arvoredo determina, e, “como o imenso terreno fica ao lado da Capela Senhora da Glória, sem a respectiva avaliação arqueológica”. Pior, dizem, o empreendimento deveria obedecer aos procedimentos de um loteamento, mas acabou por ser aprovado pelos serviços de urbanismo da Câmara de Lisboa “como se não o fosse”.


 

Algo que terá contribuído para apanhar a comunidade desprevenida, alega-se na Graça. “Como não houve comunicação prévia, foi uma surpresa. Grande parte dos vizinhos não sabe o que vai acontecer. Sabia-se que havia um projecto qualquer, até porque havia obras no prédio com o número 16 da Rua das Beatas, onde é a entrada para este terreno, mas nada de concreto”, diz Nicolas Sousa, um dos moradores da zona – e que prefere manter a sua morada incógnita -, recordando o choque sentido por quem, a 23 de Janeiro, viu as máquinas entrarem por aquele oásis urbano e cortarem a primeiro árvore do logradouro, localizada numa zona que se suponha de protecção ambiental. Depois disso, voltou a acontecer uma grande intervenção, a 20 de Fevereiro, quando cortaram todas as árvores altas que restavam, com excepção de uma junto ao quintal de uma moradora. Viajando com frequência para o estrangeiro, Nicolas não assistiu a tal momento. Mas o que viu depois deixou marcas. “Quando voltei, apanhei um susto, estava perante uma paisagem apocalíptica”, descreve.

 

 

E a estupefacção de Nicolas, como dos restantes, com a intervenção em curso é tanto maior quanto, asseguram, a inexistência de informação pública transparente sobre o que ali estaria para acontecer. Para além das movimentações de operários no mencionado número 16 da Ruas das Beatas, os moradores daquela área dizem que nada faria supor o que agora se lhes assemelha a um pesadelo. Até porque a única comunicação a prévia a que supostamente tiveram acesso, através de uma carta enviada a cada um, a 3 de Julho passado, dificilmente deixaria adivinhar a dimensão da intervenção. Na missiva enviada pela firma Percurso Positivo, Lda, que tem a mesma morada da Stone Capital, os destinatários eram informados de que a mesma iria avançar com “obras de construção com execução de obras de escavação geral e beneficiação de muros periféricos”. Para além de garantir o cumprimento de todas as normas de segurança, a carta asseverava que a intervenção iria “contribuir para a melhoria da qualidade urbanística, social e ambiental desta freguesia e consequentemente da cidade de Lisboa”, comprometendo-se ainda a minimizar eventuais incómodos causados pelos trabalhos.

 

 

Só que os incómodos aparentam ser de uma escala bem maior, tal o grau de contestação que se vai fazendo sentir na Graça. “Os moradores dos prédios em volta do logradouro vão perder a vista sobre o Tejo e sobre uma área verde natural, para receberem em troca uma vista sobre dois enormes prédios e um pequeno jardim do novo condomínio. E os atuais proprietários desses prédios vão ver o valor imobiliário dessas casas diminuir”, denuncia-se na petição, que pede que o projecto seja suspenso, para que se inicie um processo de consulta pública sobre o mesmo. Algo que, salientam, compreende aviso público, fase de recolha de contributos dos interessados, relatório de ponderação, reformulação (ou não) da proposta e aprovação da mesma em reuniões de câmara e da assembleia municipal. “Dois prédios aqui no meio não fazem sentido nenhum. Isto não deveria ter sido aprovado ou, se fosse, pelo menos que houvesse uma partilha de opinião com as pessoas”, diz Alexandra Vidal. “É muito triste ver isto. Em Lisboa fazem falta espaços verdes”, diz Daniel Santos, 30, morador no último andar de um dos prédios da Rua Josefa de Óbidos.

 

Projecção do que será o empreendimento “Jardim da Glória”, segundo a promoção feita pela Stone Capital

 

Ora, a apreciação do processo feita pelos residentes contestatários não poderia ser mais distinta da realizada pelos promotores do projecto. Garantindo que o mesmo “seguiu todos os trâmites legais e regulamentares e foi objecto de todos os estudos necessários, tendo sido escrutinado ao longo de quatro longos anos de tramitação”, os representantes da Stone Capital asseguram a O Corvo ter tido profundas preocupações ambientais, segundo inclusivamente as recomendações para o respeito da biodiversidade e da biofilia, elaboradas por uma empresa francesa do ramo. “No final da obra, vamos aumentar o logradouro verde para 4,500 metros quadrados e plantar 67 árvores, 1,600 arbustos e 18 herbáceas. Os dois edifícios no jardim, desenhados pelos arquitectos da ARX, vão ser forrados a madeira para suavizar o seu impacto visual e se integrar no contexto ajardinado”, explica a mesma fonte, antes de notar que “há 20 anos atrás, uma grande parte do terreno estava ocupado com construções” precárias – tendo enviado uma foto como prova.

 

Imagem do que a Stone Capital diz ter sido o cenário do logradouro até há 20 anos

 

“Antes do início das obras de limpeza do terreno, este encontrava-se repleto de espécies de arvoredo infestantes e, de forma geral, mal tratado”, explicam os representantes da Stone Capital, assegurando que no projecto de paisagismo desenvolvido pelo NPK – Arquitectos Paisagistas Associados está projectada a integração de vegetação autóctone promotora de biodiversidade. “No plano da flora a implementar, estão mais de 100 espécies de diferentes portes, sazonalidade, biodiversidade e interesse”, explica a mesma fonte, em resposta escrita às questões enviadas por O Corvo, garantindo ainda que “este projecto vai fazer muito pela Graça, vai requalificar uma zona que actualmente tem maioritariamente espécies infestastes e vai trazer lugares de estacionamento para residentes”. No que se refere à comunicação do projecto aos moradores, a empresa diz ainda que, além da carta enviada em Julho de 2018, foi colocada uma placa de informação sobre o processo de licenciamento na Rua Nossa Senhora da Glória.

 

Nota editorial: texto editado às 9h50 de 12 de Março. Corrige referência à ligação da Stone Capital ao projecto do condomínio da Rua Damasceno Monteiro.

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COMENTÁRIOS

  • João Fernandes
    Responder

    Qualquer metro quadrado vazio em Lisboa é usado para a construção de condomínios ou imobiliário de luxo. O argumento de que “antes o espaço estava mau” é um enorme atirar de areia para os olhos dos Lisboetas. É um enviesar do debate ao tentar legitimar a construção (especialmente a de luxo) como a única alternativa de desenvolvimento e aproveitamento do espaço. Não há vontade política da CML (de todos os espectros políticos) em enveredar por caminhos alternativos como a criação de espaços verdes ou espaços públicos para os habitantes. A Graça não precisa da Stone Capital.

    • Jorge
      Responder

      É fácil exigir a “criação de espaços verdes ou espaços públicos para os habitantes” a partir do sofá, mas pergunto:
      1. O terreno é privado. A CML tem capacidade para adquirir estes terrenos no centro de Lisboa e depois os transformar em jardins?
      2. Os “moradores” estão contra esta construção mas pergunta-se: os moradores vivem em árvores? Ou também eles vivem em condomínios?
      3. O terreno esteve à venda durante anos e anos, e os ditos “moradores” podiam ter-se associado, comprá-lo e fazer o que tanto defendem.
      4. Passam a ideia de que havia ali um lindo bosque… mas na verdade era um matagal com lixo e entulho à mistura.
      5. Todos sabemos que o problema aqui é a palavra “luxo”. Se fosse para construção económica, já estava tudo bem.

  • Pedro Miguel
    Responder

    “Era um local quase paradisíaco no coração de um dos bairros mais típicos de Lisboa, uma mancha verde com árvores de grande porte e vegetação diversa em plena Graça. ” – que mentira. Era uma zona abandonada, sem qualquer tipo de acesso público.
    Os dois edifícios na Rua das Beatas estavam completamente podres, entaipados e constituíam um atentado à saúde pública, bem como à valorização da zona.
    Não entendo como é possível haver reclamação de uma desvalorização da zona quando o cenário que se elimina é este descrito e quando o novo cenário incluí revitalização na Rua das Beatas, estabilização de terras, limpeza sanitária e aumento de área habitacional.
    Os ditos moradores deveriam preocupar-se mais em ter reclamado durante décadas para a abertura ao público da zona e respectiva ordenação e tratamento do espaço. O mesmo digo do espaço semelhante que se encontra do outro lado da Rua Senhora da Glória que é um armazém de reparação automóvel. Esse espaço sim deveria estar a ser contestada a sua aquisição e florestação para usufruto popular.
    Os ditos moradores também se deveriam auto criticar e perguntar-se porque estacionam em cima dos passeios todos os dias. Falta de estacionamento? Mentira. A EMEL veio trazer maior rotatividade do estacionamento, menos veículos de outros bairros permantemente estacionados na Graça, regular o estacionamento ilegal e trazer novos parques de estacionamento.
    Cenários de carrinhos de bebé e cadeiras de rodas a circular na via de rodagem é que deveriam preocupar os ditos moradores.
    Ter consciencia da sua falta de civismo por parar em cima de passadeiras, em dupla fila, em frente a paragens de autocarro – isso sim deveria preocupar os ditos moradores.
    Ter civismo para fazer reciclagem (dentro do ecoponto), recolher dejectos animais e participar em assembleias municipais – isso sim deveria motivar os ditos moradores.
    Falar-se da constante e impressionante inactividade das forças policiais em multar infractores – isso sim deveria motivar os ditos moradores.

    Fale-se destes problemas. Entreviste-se os ditos moradores e estes que tenham vergonha na cara das suas próprias acções. Um bairro é uma comunidade. Não um sitio onde cada um pensa apenas em si. É a cada um que cabe valorizar o seu bairro. É a cada um que cabe fazer a sua parte de modo a que o todo seja igual ou maior que a soma das partes de cada um. Isto sim deveria motivar os ditos moradores.

    • João Fernandes
      Responder

      Relativamente ao aumento da área habitacional … dúvido. Quanto muito haverá um aumento de área para exploração turística, vamos ver quem terá razão.

      Quanto ao resto, não vejo como possa estar relacionado com este caso ? O que é que falta de civismo tem a ver com o facto da única solução que aparentemente existe para reabilitar zonas como esta é a construção de luxo ? Acredita que os condomínios de luxo vedados à população são uma boa opção de reabilitação ? Sinceramente acho que preferia deixar tudo como está até aparecer um conjunto de pessoas à frente da governação da cidade que tenha horizontes mais alargados.

  • Pedro Miguel
    Responder

    Aha

  • Pedro Miguel
    Responder

    “Era um local quase paradisíaco no coração de um dos bairros mais típicos de Lisboa, uma mancha verde com árvores de grande porte e vegetação diversa em plena Graça. ” – que mentira descarada.
    Era uma zona abandonada, sem qualquer tipo de acesso público, sem ordenamento, sem condições sanitárias, cheia de lixo resultante do belo civismo dos moradores dos prédios contíguos e da eliminação do bairro ilegal que antes aí existia.
    Os dois edifícios na Rua das Beatas estavam completamente podres, entaipados e constituíam um atentado à saúde pública, bem como à valorização da zona.
    Não entendo como é possível haver reclamação de uma desvalorização da zona quando o cenário que se elimina é este descrito e quando o novo cenário incluí revitalização na Rua das Beatas, estabilização de terras, limpeza sanitária e aumento de área habitacional.
    Os ditos moradores deveriam preocupar-se mais em ter reclamado durante décadas para a abertura ao público da zona e respectiva ordenação e tratamento do espaço.
    O mesmo digo do espaço semelhante que se encontra do outro lado da Rua Senhora da Glória que é um armazém de reparação automóvel. Esse espaço sim deveria estar a ser contestada a sua aquisição e florestação para usufruto popular. Sem surpresa nada se ouve relativamente a isso.
    Os ditos moradores também se deveriam auto criticar e perguntar-se porque estacionam em cima dos passeios todos os dias. Falta de estacionamento? A EMEL veio trazer maior rotatividade do estacionamento, menos veículos de outros bairros permantemente estacionados na Graça, regular o estacionamento ilegal e trazer novos parques de estacionamento.
    Cenários de carrinhos de bebé e cadeiras de rodas a circular na via de rodagem é que deveriam preocupar os ditos moradores.
    Ter consciencia da sua falta de civismo por parar em cima de passadeiras, em dupla fila, em frente a paragens de autocarro – isso sim deveria preocupar os ditos moradores.
    Ter civismo para fazer reciclagem (dentro do ecoponto), recolher dejectos animais e participar em assembleias municipais – isso sim deveria motivar os ditos moradores.
    Falar-se da constante e impressionante inactividade das forças policiais em multar infractores – isso sim deveria motivar os ditos moradores.
    Hipocrisia é criticar a remoção de uma via de tráfego para pavimentação e usufruto pedonal no Largo da Graça e depois reclamar a desvalorização da zona pela reconversão de antro abandonado.

    Fale-se destes problemas. Entreviste-se os ditos moradores e estes que tenham vergonha na cara das suas próprias acções. Um bairro é uma comunidade. Não um sitio onde cada um pensa apenas em si. É a cada um que cabe valorizar o seu bairro. É a cada um que cabe fazer a sua parte de modo a que o todo seja igual ou maior que a soma das partes de cada um. Isto sim deveria motivar os ditos moradores.

  • António
    Responder

    Acho imensa graça a estes senhores e senhoras que contestam. Não vivem eles, também, em condomínios? Se não vivem, ou estão fora da lei ou vivem em moradias ou prédios unifamiliares (o que tornaria a contestação caricata).
    Será que estes senhores e senhoras ignoram que os prédios onde vivem foram construídos, precisamente, à custa de desmatação da vegetação autóctone que ali existia, tal qual o que se passa agora? E isso não lhes tolhe a consciência?
    Será que estes senhores e estas senhoras que contestam sabem que praticamente nenhum dos seus prédios foi construído com aprovação prévia de um projecto, que foram fruto apenas da ganância de um construtor beirão chico-esperto de então, que construia a coisa mais barata e ordinária, desde que lhe desse dinheiro para consreuir a moradia na terra e comprar o Mercedes (já mais tarde)?
    Será que estes senhores e estas senhoras sabem que a casa onde vivem, actualmente, é uma casa de luxo? Qualquer pardieiro na Graça é, hoje, uma casa de luxo que vale pelo menos o dobro de uma casa standard — que será, mais coisa menos coisa, um T2 no Cacém — apesar de as condições de habitabilidade que têm não satisfazerem os mínimos actuais e levarem os habitantes do novo projecto a perguntar-se como é que há gente que coloca entre parentesis a sua dignidade para viver em tais condições?
    Será que estes senhores e estas senhoras entendem o “direito à cidade” como uma espécie de corrida em que ganha quem chega primeiro, mesmo que os seus lugares tenham sido conquistados com as mesmas alarvidades de que agora se queixam para impedir os outros de aceder ao que eles já têm?
    Será que estes senhores e estas senhoras não entendem que, face às pessoas normais (as tais que vivem no Cacém(já nem falo do Vale da Amoreira ou do Jamaica)) eles é que são os ricos e que, na verdade, não estão a lutar contra os ricos mas sim apenas contra os que são mais ricos do que eles?
    Esta luta parece ter um fundamento moral altamente louvável mas, na verdade, é apenas mais uma cruzada mesquinha de preservação do status quo de uma geração jovem, que há dez anos se mudou para a Graça, gentrificando-a e ocupando as casas que foram de gente modesta, modificando os comércios e os hábitos tradicionais e fazendo com que os filhos desses habitantes anteriores tivessem de sair do bairro porque já não tinham como suportar essa nova vida.
    Espero sinceramente que a Câmara não seja conivente com o projecto dessa gente classista e anti-social, que ignora os pobres e detesta os mais ricos do que eles. A cidade é para todos e não só para os que agarraram os provilégios embom tempo.

  • José
    Responder

    Mas o que se passa nestas cabeçinhas???
    Fala-se em comdominio de luxo, ficam todos estéricos???
    Em todas as capitais europeias e no mundo, fazem estes tipos de condominios, para que pode pagar.

    Esta zona da reportagem, está abandonada cheia de ratos, mato, arvores que nascem por acaso, é uma vergonha para a cidade de Lisboa.

    Ainda bem que há investidores. OBRIGADO.
    OBRIGADO,Por transformarem Lisboa mais bonita, e ainda vão valorizar as casas á sua volta.
    NÃO PODEMOS SÓ PENSAR NA VISTA QUE SE VAI PERDER, quem vive numa cidade é assim.

  • Armando José Fernandes
    Responder

    Relativamente à nota editorial :
    Os Terracos do Monte (Danasceno Monteiro) O Promotor é a Vanguard com projecto do ARX arquitetos.
    O Projecto de construção de um edificio no Miradouro da Senhora do Monte que está para para licenciamento é da Glacier/Horizon (Novo Proprietário) e da ARX Arquitectos.

  • Luisa
    Responder

    Senhores Lisboetas da Graça ,
    Os prédios onde vivem foram construídos, precisamente, à custa de DESMATAÇÃO da vegetação .
    Qual é o vosso problema ???
    A vossa vista ficar tapada???, infelizmente , á frente de Predios existe outros predios, NÃO PODE SER SEMPRE JARDINS, alguem tem que ficar sem vista para o rio.
    É A VIDA. Ou tem algum preconceito contra os ricos.

  • andre f
    Responder

    Obviously, the three historic buildings on the Rua das Beatas desperately require renovation, however the entry to the interior garden, from Rua das Beatas 28, should become a public open green space and the so-called “luxury” condominium project abandoned. Who, in their right minds, would pay 2 million to live there anyway?
    Glad to read that some residents of Graca are passionate tree lovers, trees are rather scarce in these parts and they are needed…In fact, since June 2017, when the Camara Municipal de Lisboa completed the costly urban renovation around the Largo da Graca, there remains at least five newly planted DEAD trees on the Largo. Yes, from the Vila Sousa to A Cabreira dead trees line our neighbourhood and no one seems to notice. Not to mention the tree that was actually planted on an angle, corner Rua Damasceno Monteiro and Largo da Graca, undoubtedly a future problem for the 28E…On many an occasion, I observed our elected Presidente, Natalina Tavares de Moura, stroll along the Largo, seemingly oblivious to everything right in front of her, not the dead trees nor the dirty sidewalks nor the heaps of garbage everywhere, what does this woman actually do, wasn’t she supposed to inform her residents about the Stone Capital project BEFORE the actual construction began?

  • Augusto Araújo.
    Responder

    Parece que há vários ângulos de visão. Passo a explicar:

    Moro na Rua Josefa de Óbidos e as traseiras da minha casa estão mesmo à frente do “Quintalão”.

    Há dezenas de anos que não consigo sair de casa descansado porque aquele mato é um perigo em termos de
    incêndio sobretudo em dias quentes de verão quando o mato está seco e os estrangeiros fazem nos terraços
    que estão logo ao lado.
    (Os defensores do bairro nunca se preocuparam com a limpeza do loca

    A panorâmica.

    Moro num segundo andar e da minha varanda vejo o Rio Tejo a margem sul o Castelo de Palmela
    e a Serra da Arrábida é lindo de facto mas os vizinhos de baixo só vêem as traseiras dos prédios da
    Ruas à frente.

    O “Quintalão” dava jeito a algumas pessoas para atirar para lá com sacos de lixo, sapatos alguidares
    o lixo dos próprios terraços.

    Desde que respeite as cotas de volumetria em vigor a urbanização é bem vinda. Chega de lixeira.

    • João Fernandes
      Responder

      Caro Augusto, respeito o seu argumento mas a sua lógica dá a entender que a única alternativa aos baldios e falta de civismo é o imobiliário de luxo. É curioso que este notícia do Corvo tenha saído ao mesmo tempo que uma de outro jornal onde precisamente falavam do excesso do segmento “de luxo” no mercado em Lisboa. Este é mais um exemplo de que uma vasta quantidade de m2 vazio ou abandonado em Lisboa é canalizado para este tipo de condomínios e segmento de mercado sob a ameaça de que “ou é isto ou é a degradação”. Isto no meu entender é atirar areia para os olhos, é levar as pessoas a um debate bipolarizado que não é produtivo e a afastar as pessoas de serem críticas ou de exigirem soluções para todos (visitantes, locais, ricos e pobres). Urbanização (de elite) ou Lixeira ? Nem um nem outro, obrigado !

  • Luísa Coelho
    Responder

    Os moradores agora queixam-se do que vai ser feito. Durante anos queixaram-se regularmente do que lá havia. Afinal, se têm ideias sobre o Quintalão, porque não as expuseram mais cedo? Há mais de uma década que foram realojados os habitantes dos casebres que lá existiam, que foram demolidos os casebres, que ficou tudo abandonado.

    • João Fernandes
      Responder

      Concordo com a sua visão e com as anteriores … mas mantenho a questão: A construção de condomínios de luxo com áreas de acesso exclusivo e cuja potencial compra está reduzida a uma pequena elite é a única solução para Lisboa e para a reabilitação de espaços ? Pela sua lógica, se eu me queixar de um terreno baldio ou de um prédio devoluto tenho forçosamente que aceitar a construção de imobiliário de luxo como solução ? Não tenho direito a exigir soluções alternativas ? É preciso expandir o leque de soluções e acima de tudo é necessário não bipolarizar este e outros debates semelhantes entre “Apoiantes do A” Vs “Apoiantes do B”.

      • Luísa Coelho
        Responder

        Cito-me: “Durante anos queixaram-se regularmente do que lá havia. Afinal, se têm ideias sobre o Quintalão, porque não as expuseram mais cedo? ” Acrescento que é uma propriedade privada. Esteve à venda durante anos.

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