Serenidade

Diário de Notícias

Artigo de opinião do Ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva

Augusto Santos SilvaQuando, no fim do mês de fevereiro, o Governo português apresentou a candidatura de António Guterres ao cargo de Secretário-Geral das Nações Unidas, justificou-a como uma obrigação moral: a de contribuir para a melhor escolha do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral. A nosso ver, Guterres é a personalidade cujas qualidades, experiência e visão tornam especialmente qualificada para liderar a ONU, nos tempos difíceis e complexos que enfrentamos. Era e é, pois, um imperativo candidatá-lo.

Este facto marcou e tem marcado a candidatura de António Guterres, que mereceu e merece o apoio empenhado de todos os órgãos de soberania e das forças políticas portuguesas. É absolutamente transparente. Foi apresentada no momento próprio. Não se dirige contra ninguém. Tem por si o currículo, as ideias e o programa do candidato. Cumpriu com gosto e honra todas as etapas do processo e, designadamente, as audições e debates no quadro da Assembleia Geral. Pela primeira vez, a seleção do Secretário-Geral incluiu esses momentos, que aumentaram a abertura, participação e transparência. A campanha de Guterres fez seus estes valores.

Está agora concluído o primeiro ciclo de votações para ponderação de apoios. Foram cinco votações indicativas sucessivas. Em todas elas, António Guterres obteve o melhor resultado. Recebeu ora 11, ora 12 votos de encorajamento. Estamos muito, mas muito satisfeitos por isso. É, hoje, totalmente clara a razão de ser, mais, a necessidade da sua candidatura. O reconhecimento quer das suas grandes qualidades, quer da utilidade delas para a ordem internacional presente, tão marcada por tensões, conflitos, dramas humanitários e tão desafiada por problemas, que exigem respostas coletivas, como as alterações climáticas e como as migrações, esse reconhecimento é generalizado. Guterres está tão à vontade na questão dos direitos humanos como na questão da paz e segurança e na do desenvolvimento – e esses são, verdadeiramente, os grandes pilares das Nações Unidas.

Dito isto, é preciso ter consciência de que terminou agora a primeira fase de um processo que vai continuar. Um processo muito complexo, porque não só envolve o conjunto dos membros do conselho de segurança como implica um consenso entre os seus membros permanentes. Nada está terminado. Há outros candidatos, cujas qualidades são também notórias. A todos respeitamos. A atitude da campanha portuguesa é hoje a mesma com que começou: assunção da nossa responsabilidade em contribuir com o melhor que temos, confiança nos méritos da nossa candidatura, serenidade quanto ao decurso e ao desenlace do processo decisório.