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A Ciência na Aula da Esfera

A "AULA DA ESFERA" DO COLÉGIO DE SANTO ANTÃO,
1590-1759

A "Aula da Esfera" do Colégio de Santo Antão, em Lisboa, foi uma das mais marcantes instituições de ensino e de prática científica em Portugal, tendo sido, durante quase dois séculos (entre 1590 e 1759), o principal centro de formação dos quadros técnicos e científicos (cosmógrafos, engenheiros, etc.) de que o país necessitava. Integrada na vasta rede supranacional de centros de ensino da Companhia de Jesus, foi também o local de passagem de professores das mais variadas proveniências, o foco de intercâmbio com os mais avançados centros científicos da Europa, a porta de entrada em Portugal dos mais importantes descobrimentos da nova ciência.

A exposição Sphaera Mundi: A Ciência na Aula da Esfera procura mostrar a vitalidade e riqueza desta singular instituição científica, em áreas tão diversas como a matemática, a astronomia, a cosmografia, a estática e a hidráulica, a óptica, a engenharia militar, a construção de instrumentos, etc., bem representadas na colecção Manuscritos da BNP.

 

 

Inauguração da Exposição

21 Fevereiro 2008, às 18h


Biblioteca Nacional de Portugal
Campo Grande, 83
1749-081 Lisboa

Convite:

Horário
> Seg. a Sex. das 10h às 19h
> Sáb. das 10h às 17h

Ver também:

> www.bn.pt
> Slide-show do Público
> Livro A Ciência na Aula da Esfera

     

O ENSINO CIENTÍFICO NA COMPANHIA DE JESUS

Em meados do século XVII a Companhia de Jesus era responsável por várias centenas de centros de ensino na Europa (colégios, universidades, seminários), frequentadas por algumas centenas de milhar de alunos. Embora o ensino de temas religiosos, filosóficos e de humanidades dominasse a actividade dessas instituições, concedia-se também em muitas delas uma atenção importante ao estudo de matérias científicas. Além disso, as necessidades apostólicas em algumas missões (na China, por exemplo) acentuaram a importância do ensino das ciências em escolas jesuítas. A Companhia de Jesus teve assim uma acção de grande relevo no ensino e na disseminação de conhecimento científico, tendo contado entre os seus membros com vários cientistas de renome e muitos professores famosos. Foram também de autoria jesuíta muitos dos mais célebres e influentes compêndios científicos usados por toda a Europa, alguns dos quais aqui se expõem.

 

 

Catálogo:

 

ASTRONOMIA & COSMOLOGIA

O debate cosmológico do início do século XVII entrou em Portugal pelo Colégio de Santo Antão. São muitos os manuscritos que testemunham as aulas e as discussões sobre assuntos como a fluidez do céu, os satélites de Júpiter, a origem dos cometas, a natureza da matéria celeste, o ordenamento dos orbes celestes, etc. O mais tardar em 1615 as revolucionárias observações de Galileu já eram ensinadas no colégio, nas aulas de Giovanni Paolo Lembo. Mas outros mestres da "Aula da Esfera", como Borri, Gall, Stafford e Fallon abordaram também com muita actualidade essas questões. São de notar em especial as explicações acerca das fases da Vénus e da superfície da lua (com montes e vales), em diversos manuscritos, o que demonstra a imediata apropriação pelos mestres da "Aula da Esfera" das novidades apresentadas no Sidereus Nuncius de Galileu. Em consequência destes debates os mestres de matemática do Colégio de Santo Antão foram levados a rejeitar o modelo cosmológico de Ptolomeu, discutindo o modelo de Copérnico e abraçando a descrição planetária de Tycho Brahe.

 

 

GEOMETRIA & TRIGONOMETRIA

Os programas jesuítas estipulavam que o ensino da matemática se iniciasse pela geometria, seguindo os primeiros livros dos Elementos de Euclides. Nos cursos da "Aula da Esfera", a par do estudo de geometria plana, dedicava-se também sempre muita atenção à trigonometria plana e esférica, essencial em muitas aplicações - como por exemplo a agrimensura e a fortificação -- bem como em muitos cálculos de astronomia e de navegação. Os mais importantes compêndios de geometria e trigonometria que circularam em Portugal nos séculos XVII e XVIII foram escritos por professores da "Aula da Esfera". Além do ensino dos conceitos fundamentais de geometria e trigonometria, tudo leva a crer que foi no Colégio de Santo Antão que se introduziram pela primeira vez no nosso país várias técnicas matemáticas avançadas, como por exemplo os logaritmos, poucos anos após a sua invenção (por Napier, em 1614).

 

 

Ver também:
> A Ciência na Aula da Esfera do Colégio de Santo Antão

 

FORTIFICAÇÃO & ARTILHARIA

As guerras, os frequentes conflitos entre países europeus, e os importantes desenvolvimentos das artes militares que marcaram os séculos XVI e XVII estimularam o surgimento de uma ciência da fortificação e da engenharia militar de base matemática e geométrica. Os jesuítas tinham plena consciência da importância estratégica desta ciência e envolveram-se em aulas sobre estes assuntos. O primeiro professor da "Aula da Esfera" de quem se tem uma prova disso foi Ignace Stafford que deixou, em manuscrito, um tratado sobre máquinas de guerra e ordenamento das tropas, e um tratado muito desenvolvido de fortificação, nos anos trinta do século XVII. Com as guerras de restauração e a necessidade de defender o território nacional, novamente independente de Espanha, a "Aula da Esfera" desempenhou um papel central na formação de engenheiros e especialistas de arquitectura militar. Entre os seus mestres contou-se o flamengo Jan Ciermans (Cosmander) que se distinguiria como engenheiro militar, e entre os antigos alunos sobressai Luís Serrão Pimentel, famoso engenheiro militar e uma das figuras mais eminentes da ciência portuguesa de seiscentos.

 

 

NÁUTICA & COSMOGRAFIA

A cosmografia foi uma disciplina central da Europa do século XVI, abrangendo questões da geografia (descrição física, climas, a determinação de latitude e longitude, etc.), de cartografia e também a medição do tempo (os relógios de sol, etc.). A cosmografia servia também como disciplina propedêutica ao estudo da náutica e navegação teórica, assuntos que foram longamente tratados na "Aula da Esfera". Na verdade, como já foi notado por vários historiadores, a "Aula da Esfera" foi o mais interessante centro de ensino de temas náuticos em Portugal durante todo o século XVII e mesmo depois. Nos manuscritos provenientes destas lições são muitas vezes analisados problemas relativos à confecção e uso da carta de marear e dos globos, todo o tipo de instrumentos náuticos, e tratam-se inclusivamente muitas questões acerca das propriedades da linha de rumo, com especial referência às soluções dadas por Pedro Nunes no século anterior.

 

   

MECÂNICA & ÓPTICA

Entre os manuscritos da "Aula da Esfera" encontram-se interessantíssimos textos de disciplinas físicas como a óptica geométria e a mecânica teórica. A merecer uma menção muito particular são as aulas de Heinrich Uwens sobre Estática, preservadas num manuscrito que é possivelmente o mais importante e completo texto sobre o assunto em português até ao século XIX. Igualmente excepcionais e sem rival na produção portuguesa da época e de muitas décadas depois, são as excepcionais notas de Óptica do Pe. Inácio Vieira. Na verdade, a óptica geométrica - com as disciplinas associadas de perspectiva e cenografia - teve na "Aula da Esfera" um local de eleição para o seu ensino e a sua prática, não se conhecendo outra instituição portuguesa onde se tenham produzido textos com o mesmo nível de desenvolvimento e profundidade.

 

 

Membros do CHC na organização da Exposição:
> Henrique Leitão (Comissário Científico)
> Samuel Gessner
> Bernardo Mota

 

     
       
       
       
            
           
  Última actualização 17-03-08