Neste espaço são publicadas crónicas da autoria dos docentes do DGE, mas também de outros autores, pretendendo-se a disseminação de ideias, pensamentos e conhecimentos transversais às ciências empresariais. São de particular interesse, crónicas que contribuam para melhorar a compreensão da sociedade, economia e tecido empresarial, ao nível da sua génese, da sua dinâmica atual, mas também da ante-visão da sua identidade e organização futuras.
Crónicas

E
m 2018, a economia portuguesa criou cerca de 176 mil milhões de euros de valor acrescentado bruto (VAB). Essa riqueza monetária gerada pelos factores produtivos residentes no país foi utilizada para a remuneração sob a forma de salário, juros, lucros e rendas. Cerca de 91 mil milhões de euros foram para o pagamento de salário e 85 mil milhões para juros, lucros e rendas. A partir daqui, a primeira questão que se põe é: a repartição da riqueza gerada pela actividade económica foi equitativa?
O indicador clássico da medição da repartição de riqueza num país é o Índice de Gini (que varia entre 0 e 1 – mais próximo de zero indica equidade distributiva e mais próximo de 1 indica iniquidade) e, consequentemente, o rácio S80/S20, i.e., o quanto que os 20% mais ricos da população auferem mais do que os 20% mais pobres. Portugal não é um país de fortes desigualdades na repartição da riqueza criada, o seu Índice de Gini é de 0,32 e o rácio S80/S20 é de 5 (em média, os mais ricos auferem 5 vezes mais do que os pobres). Portugal está dentro da média europeia, mas precisa, do pão para a boca, da participação activa do Estado social. Em 2018, a taxa de risco de pobreza no País, antes das transferências do Estado, foi de 43% (quase metade do País estava no limiar de se tornar pobre). Após a intervenção do Estado, a taxa de risco de pobreza caiu de 43% para 17%. Eis o Estado!
Sabem o que isto quer dizer?
Que, em Portugal, não há fortes assimetrias na distribuição dos rendimentos, mas ganha-se pouco. Se não fosse o Estado, quase metade do País seria pobre. E, ganha-se pouco, porque o País gera pouco VAB, i.e, não faz um uso ambicioso e competitivo dos seus recursos produtivos
(neste exacto momento, 22% dos trabalhadores recebem o salário mínimo).
O rendimento nacional da economia portuguesa não é demasiado iníquo, é de baixo valor e tem dois destinos: o consumo e a poupança. Em 2018, o montante de riqueza gerado para remunerar o trabalho (salários) foi de 91 mil milhões de euros e o consumo privado das famílias foi de 132 mil milhões de euros (1,5 vezes mais). Em 2018, a taxa de poupança das famílias foi de 7% (em 1995 foi de 15%) e o crédito ao consumo foi de 6 mil milhões de euros com 4% desse valor contabilizado pelos bancos em malparado.
Sociologicamente, o cidadão português, criador de pouco VAB na economia, mal remunerado pelo patronato e quase pobre se não fosse o Estado providência, tem a necessidade de ser um europeu a 28 (já quase a 27), mas, para o ser, tem de se endividar e, nalguns casos, não conseguir pagar o que deve. O País não tem um problema de conflito de classes (como os comunistas querem insistentemente fazer crer), mas sim um problema organizacional.
Não temos uma engenharia social capaz de ser geradora de mais riqueza, e estamos sempre nesse fio-da-navalha entre o pouco dinheiro, o endividamento e a pobreza.
*Professor do Politécnico de Leiria, Escola Superior de Tecnologia e Gestão
Artigo publicado no Jornal de Leiria em 23 de janeiro de 2020

N
o passado dia 21 de novembro teve lugar o primeiro seminário dedicado às indústrias criativas, intitulado “Empreendedorismo E Criatividade – Da Arte À Gestão”, promovido pela D. Dinis Business School. Este é um evento que queremos transformar numa conferência anual de impacto nacional/internacional. Empreendedorismo e Arte são dois fenómenos que têm mais em comum do que aparentemente poderemos pensar. Desde logo, o impacto da criatividade na economia é por de mais evidente – as maiores empresas do mundo (Microsoft, Apple, Amazon, etc.) são empresas onde os principais ativos resultam da criatividade de engenheiros, programadores, designers e marketeers. Depois, o peso das indústrias intituladas como “criativas” é cada vez maior (cerca de 3,6% a 4% do PIB, ou seja, mais do que a indústria têxtil por exemplo). Multinacionais como a Disney assentam o seu modelo de negócio em explorar personagens, enredos sob a forma de filmes, séries, brinquedos e outros artefactos licenciados a terceiros. Por outro lado, todos os artistas são empreendedores (e vice-versa). Refletindo na minha definição de empreendedorismo: “ato de potenciar a aproveitar oportunidades de criação de valor – económico, social, artístico”, percebemos que tanto é empreendedor quem cria uma associação de bairro para ajudar idosos, quem lança um produto dentro de uma empresa, quem cria uma start-up, como quem cria uma banda de música. Tanto para
artistas como empreendedores o foco está na criação de valor. No caso dos artistas esse valor é emocional (valor intrínseco) – “o que me faz sentir uma música, um quadro, uma pintura?” – o foco é a experiência. Mas esse valor emocional pode ter um valor de mercado (valor extrínseco), que por vezes poderá ser dezenas de milhões de dólares, como o caso de uma pintura, ou dezenas milhões de livros ou músicas vendidas. No entanto, por várias razões, alguns artistas associam lucro a “vender”. No entanto, os empreendedores de artes não se vendem – eles vendem arte/experiência. Com recursos, como dinheiro na mão, pode-se assumir riscos adicionais e, às vezes, mais significativos, permitindo que os artistas tornem a sua atividade sustentável e façam a sua arte chegar a mais pessoas. Leiria é uma cidade de artistas e empreendedores. Essas duas entidades têm de caminhar de forma mais próxima. Uma cidade com artistas e condições para estes, com mais eventos,
mais cultura (mais empreendedorismo cultural) é uma cidade que fixará mais recursos humanos qualificados, que potenciará negócios de maior valor e gerará melhor qualidade de vida. Cultura, arte e empreendedorismo têm de caminhar de forma conjunta e coordenada, a nível estratégico e político!
*Professor do Politécnico de Leiria Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Diretor Executivo da D. Dinis Business School
(autor escreve com o actual acordo ortográfico)
Artigo publicado no Jornal de Leiria em dezembro de 2019

N
No âmbito da actividade económica, são gerados fluxos monetários de interdependência entre os agentes económicos. As empresas apropriam-se dos factores produtivos (terra, capital e trabalho) para produzirem bens e serviços que irão satisfazer as necessidades individuais e colectivas das pessoas. E essa apropriação dá origem a remuneração primária dos factores produtivos sob a forma de salários, lucros, juros e rendas.
Portugal tem cerca de 711 mil empresas em funcionamento, e a soma do valor acrescentado (valor da produção menos os consumos intermédios) de todas essas empresas dá origem ao valor acrescentado bruto (VAB) da economia. Adicionando ao VAB os impostos líquidos de subsídios à produção determina-se o PIB do país. E é a partir do VAB gerado que se faz a remuneração dos factores produtivos. Portanto, a primeira conclusão é a de que, em toda e qualquer economia, só se pode remunerar mais se o país criar mais riqueza (VAB).
Ora, em 2018, a economia portuguesa distribuiu 90.783 milhões de euros sob a forma de salários e 84.120 milhões sob a forma de excedente bruto de exploração (lucros, juros e rendas). Portanto, a segunda conclusão é a de que, em Portugal, não existe uma acentuada discrepância entre a remuneração do capital e da terra e a remuneração do trabalho. A tese marxista da exploração do trabalho pelo capital não vinga em terras lusitanas.
Em 2018, o país tinha 4.866,7 mil pessoas empregadas. Se dividirmos os 90.783 milhões de euros pela população empregada, vamos obter um salário médio mensal bruto (14 meses) de 1.332 euros. Em termos líquidos, e segundo a Pordata, a remuneração base média líquida dos trabalhadores, em 2018, foi de 970 euros. Portanto, a terceira conclusão é a de
que, em Portugal, não há uma grande disparidade entre o salário mínimo de 635 euros e a remuneração média dos trabalhadores.
Em Portugal, não é o capital que explora o trabalho, mas sim o próprio trabalho que se explora a si mesmo. O maior problema de distribuição de rendimentos no país é que dentro das organizações há grandes disparidades remuneratórias ao longo das hierarquias funcionais. Em 2008, o país tinha 7,4% dos trabalhadores a receber o salário mínimo nacional, e em 2018 havia 22%. No período troika, a taxa de desemprego esteve acima dos 15% e hoje é de 6%. O país criou emprego, mas às custas do alargamento do fosso salarial dentro das empresas. Ou seja, a criação de valor acrescentado é feita pela exploração do trabalho pelo trabalho no interior das estruturas hierárquicas (incluindo a disparidade remuneratória por género).
Em termos constitucionais (Artigo 80.⁰), Portugal rege-se pela lógica de uma economia mista (economia de mercado, mas com um Estado social e regulamentador). Mas os mercados não têm mecanismos de equidade na
distribuição dos rendimentos. Tem de ser o Estado a fazê-lo pela via da tributação. E este é um dos pontos fracos do Orçamento para 2020 em termos de IRS.
*Professor do Politécnico de Leiria, Escola Superior de Tecnologia e Gestão
Artigo publicado no Jornal de Leiria em 19 de dezembro de 2019

A
s instituições são construções humanas que regulam a interação política, económica e social. São as instituições que nos dão as “regras do jogo” em todas as nossas ações quotidianas. As leis que proíbem o homicídio, as regras de trânsito, a necessidade de tirar o chapéu dentro de um edifício, tudo sãoAlcina exemplos de instituições. As instituições são determinantes para a atividade económica. É através delas que são decididas as regras de relacionamento entre todos os agentes económicos. Mas, para além de regras formais, também são as instituições (ditas informais) que estabelecem aquilo que é aceitável pela sociedade. Nenhuma delas decorre das leis naturais e universais (como as da Física ou da Química): são todas construídas pelo Homem e, portanto, vão mudando consoante as opiniões predominantes ao longo do tempo.
Ao longo dos últimos 50 anos, as instituições que estabelecem as regras da atividade económica sofreram uma profunda alteração. Até esse momento, eram mais influentes as visões keynesianas que foram implementadas no pós-2ª Guerra Mundial: intervenção do Estado, regulação da atividade económica e promoção da Procura agregada. A partir da década de 70, um conjunto de economistas da Universidade de Chicago (liderados por Milton Friedman e inspirados na obra de Friedrich Hayek) lançou as bases para uma mudança de instituições que ficaram conhecidas por “reformas estruturais” ou “reformas pró-mercado”. Desregulação, liberalização e privatização foram palavras-chave, passando a haver uma ótica do mercado enquanto regulador de toda a atividade económica.
Esta mudança de instituições foi considerada
‘consensual’ e autoevidente. Era óbvio que estas eram as instituições certas, universalmente adequadas e perfeitas em quaisquer condições. Aliás, eram tão perfeitas que não haveria forma de progredir. Foi isso que levou Francis Fukuyama a declarar o Fim da História: as instituições neoliberais seriam o consenso derradeiro. Mas… serão de facto estas instituições perfeitas?
A riqueza financeira criada nunca foi tão grande. Aliás, a riqueza acumulada é hoje considerada (mercê das instituições informais vigentes!) normal e ambicionável, e decorrente de trabalho e méritos excecionais. Será, no entanto normal? Sobretudo quando coexistem com esta riqueza as maiores desigualdades de que há memória nos últimos séculos (talvez de sempre).
Senão atente-se: há 2.604 bilionários no mundo. Se o caro leitor se quiser juntar ao clube, nada mais simples: só tem que começar a juntar (sem contar despesas nem juros) 1 milhão por ano e em 3019 será bilionário. Se tiver apenas um modesto salário de €10.000 mensais líquidos
(e não gastar nenhum dinheiro), em apenas 7143 anos será bilionário! Qualquer um consegue, portanto comece já a ensaiar as poses para a Forbes de Janeiro de 9162!
*Professor do Politécnico de Leiria, Escola Superior de Tecnologia e Gestão
Artigo publicado no Jornal de Leiria em 21 de novembro de 2019

S
empre me irritou o argumento do caminho único. Será, certamente, um traço de personalidade que me levou a ser acusado frequentemente de ser do contra – e que me levou a abraçar entusiasticamente esse epíteto. Provavelmente a primeira confrontação com o argumento do caminho único foi em tenra idade com a questão religiosa. Pertencer porque “tinha que ser” …
E quando perguntava “mas porquê” a resposta era porque aquele era a única alternativa. Mas, nesse processo quase obstinado de questionar, percebi que há sempre alternativa. A tudo. Em alguns casos, há escolha entre várias boas alternativas, noutros entre uma melhor e outras menos boas, noutros ainda entre uma péssima e várias horríveis. E, naturalmente, a avaliação que cada um faz é francamente subjetiva. No entanto, houve uma certeza com que fiquei: há sempre vários caminhos.
Este argumento vem sendo repetido também a propósito de questões ambientais, com posições extremistas de ambos os lados. De um lado, os ambientalistas radicais que defendem um regresso à idade do bronze como forma de salvar o planeta: nada de carne, de carros, de palhinhas, só depende de nós – não há alternativa, é isto ou o fim do mundo. No extremo oposto, os negacionistas (por ignorância ou por interesse) das questões ambientais: eu quero continuar a andar de carro, o nosso carvão até é limpo, as nossas vacas não largam metano – não há
alternativa ao sistema instituído, é isto ou vai tudo para o desemprego. Enquanto forem estes os argumentos, nenhuma conclusão se dará, nem nenhum avanço se conseguirá.
Há alternativas, sim. Do mesmo modo que há interesses fortes que nada mude. Por um lado, a chantagem que é feita ao consumidor – dizendo que ele é o responsável por haver excesso de embalagens, por exemplo – quando na verdade não há escolha efetiva: todas as empresas se comportam da mesma forma. Por outro lado, a impossibilidade de reorganizar o sistema produtivo para – por exemplo – produzir menos carne é falsa: outras culturas podem substituir a produção de carne. Ou, ainda, a necessidade absoluta de hidrocarbonetos (petróleo) como fonte de matérias e energia: há cada vez mais soluções para produzir químicos de base sem petróleo, recorrendo a novas tecnologias e energia renovável (ver sciencemag.org, 19 de Setembro de 2019).
A
TINA (there is no alternative) é, tipicamente, o argumento de mentes tacanhas que não são capazes de mostrar bons motivos para suportar o caminho que defendem. Por pessoas mais preocupadas em “ganhar” do que em encontrar as melhores soluções para os problemas. Discutam-se as alternativas, colabore-se na busca das melhores soluções, e a comunidade beneficiará. Afinal, a espécie humana prosperou graças ao lado gregário e colaborativo.
*Professor do Politécnico de Leiria, Escola Superior de Tecnologia e Gestão
Artigo publicado no Jornal de Leiria em 17 de outubro de 2019

O
empreendedor moderno substituiu a “estrela de rock”. Muitos jovens sonham em ser o novo Elon Musk, o novo Zuckerberg ou a nova Cristina Fonseca (TalkDesk). Vivemos numa sociedade onde estes nomes são identificáveis globalmente, mas ninguém conhece nomes como Tim Bernard Lee (inventor da Web) ou William Shockley (inventor do transístor). As invenções são apenas uma peça inicial de um puzzle, onde o inventor, quem cria valor de mercado, é a unidade maior e reverenciada. Deste modo, potenciar oportunidades de negócio, ser criativo, participar da “viagem” empreendedora é o sonho de muitos jovens. Sabemos hoje que há vários tipos de empreendedorismo como o social (potenciar oportunidades de valor social), corporativo/intra (lançar novas ideias dentro de uma grande empresa), “startup” (aquele que procura criação de negócios de crescimento muito rápido) e o de pequenos negócios/empresarial (a criação mais clássica de empresas, em que a Região de Leiria foi sempre um exemplo). Este empreendedorismo pode ser fomentado pela necessidade (quando o negócio é criado pela necessidade de sobrevivência) ou pela oportunidade (quando o empreendedor cria um empreendimento porque acredita que gerou algo novo que não existe no mercado). Estes dois tipos de empreendedorismo
explicam (parcialmente) porque países mais pobres têm níveis de empreendedorismo elevado (sobretudo empreendedorismo por necessidade), países de rendimento médio revelam níveis baixos e países de rendimento alto têm, de novo, níveis de empreendedorismo elevado (por oportunidade). Esta taxonomia explica também porque em cenários de crise o empreendedorismo tende a disparar (o desemprego leva a mais empreendedorismo por necessidade). Sabemos que para ser empreendedor a resiliência é, sem dúvida, uma característica necessária para o sucesso; muitos empresários notáveis experimentaram o sucesso depois de liderar empreendimentos fracassados. Contudo, uma recente pesquisa realizada nos EUA pelo National Bureau of Economic Research descobriu que os fatores ambientais (e não os comportamentais/genéticos) influenciam
mais o sucesso dos empreendedores. A educação, a experiência e a existência de uma rede de segurança e de amigos/família que disponibilizem capitais iniciais é essencial para reduzir o risco e potenciar o empreendedorismo (dados do Global Entrepreneurship Monitor mostram que mais de 80% do financiamento para novos negócios vem de poupanças pessoais e amigos ou familiares). Resumindo, para potenciar novos negócios por oportunidade é essencial reduzir o risco e potenciar a existência de mecanismos que substituam a rede para todos aqueles que não têm a sorte de ter essa segurança.
*Professor do Politécnico de Leiria Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Diretor Executivo da D. Dinis Business School
Artigo publicado no Jornal de Leiria em outubro de 2019

A
crescente competição entre territórios (países, regiões e cidades) por turistas, investimento, mão-de-obra, residentes e visitantes tem suscitado uma maior preocupação com o branding de territórios como estratégia de desenvolvimento sócio económico dos territórios, sejam eles países, regiões, cidades ou até localidades de menor dimensão. A gestão da marca territorial passa por tornar o território conhecido e distinto, associado na mente das pessoas a um conjunto de atributos favoráveis e diferenciadores face a outros territórios,capaz de atrair e manter os seus públicos-alvo, sejam eles investidores, mão-de-obra, residentes, visitantes ou turistas. Trata-se de definir estrategicamente uma proposta de valor desse território para os vários públicos-alvo, alicerçada no seu património e identidade cultural, económica, tecnológica e social. Essa proposta de valor deve ser entregue de forma consistente e coerente ao longo do tempo e do espaço, e continuamente enriquecida. Neste processo, é essencial o envolvimento de todos os stakeholders, em particular autoridades governamentais e empresariais, em conjunto com outros atores sociais, entre os quais se destacam os residentes. O seu comportamento pode tornar um território mais (menos) atrativo, atribuir (ou não) credibilidade a marca territorial e apoiar (ou não) a implementação das estratégias e ações de marketing do territó-rio. Os residentes são considerados embaixadores do proprio territorio, em particular através do word of mouth, isto é,
do passa-palavra e comentários online, que poderão influenciar as atitudes e opiniões de outros residentes, trabalhadores, turistas, empresas, entre outros, relativamente ao território. O word of mouth dos residentes interage diretamente com a comunicacao do territorio realizada por outras entidades. Atendendo à maior credibilidade e eficácia associada a este tipo de comunicação informal dos residentes, estes devem ser um dos grupos alvo das ações de gestão das marcas territoriais com o intuito de aumentar a satisfação dos residentes, as experiências memoráveis que promovam a interação com o território e, consequentemente, os comentários positivos acerca do território. A gestão da marca territorial é mais do que promover uma cidade ou um destino turístico. É aumentar o valor socioeconómico do território para atrair mais turistas, mais residentes, mais negócios, mais eventos desportivos e culturais, mais investimentos
públicos e privados. Gerir uma marca territorial é mais complexo do que gerir uma marca produto, pois é necessário considerar os diversos stakeholders que integram o território e os eventuais conflitos de interesses. Deste modo, deve ser um processo interativo e de cooperação entre os diferentes stakeholders com o objetivo final de aumentar o valor do território, dos negócios aí realizados e a satisfação e qualidade de vida dos seus residentes. Sim, as cidades precisam de branding para aumentar o conhecimento da cidade, desenvolver associações favoráveis e diferenciadoras na mente das pessoas, aumentar a sua competitividade face a outras cidades concorrentes e potencializar o desenvolvimento económico e social da cidade e dos seus habitantes.
*Professora do Politécnico de Leiria Escola Superior de Tecnologia e Gestão Doutora em Gestão de Empresas na especialidade de Marketing
(autora escreve com o actual acordo ortográfico)
Artigo publicado no Diário de Leiria em 12/09/2019

N
as últimas semanas uma onda de protestos tem varrido Hong Kong. Primeiramente motivados pela recusa de uma proposta de lei que permitiria a extradição de cidadãos da cidade para a China continental. Apesar da suspensão da proposta, os protestos continuaram, massivos e com violenta repressão policial, exigindo também reformas democráticas e a demissão da governante de Hong Kong de Hong Kong, Carrie Lam.
Recentemente também foi notícia que Donald Trump retirou os EUA do tratado INF sobre mísseis de curto e médio alcance. O tratado, assinado por Reagan e Gorbachov em 1987, permitiu reduzir consideravelmente o número o desenvolvimento de mísseis do género, tendo sido um importante contributo para o fim da Guerra Fria. Com o fim deste acordo, novos projetos deste tipo de mísseis por parte de ambos os países deverão surgir e o mundo torna-se um pouco menos seguro.
Estas duas notícias, aparentemente não relacionadas, tem um ponto em comum importante: a China. Por um lado, Hong Kong faz parte do território chinês há 22 anos. E, apesar de haver um acordo que mantém garantias de alguma democracia e algumas liberdades até 2047, a tendência será de uma gradual integração da cidade na China, esbatendo-se a lógica
de “um país, dois sistemas” que presidiu ao acordo de entrega do território. Por outro lado, a aparente beligerância dos EUA com a Rússia é mais um sintoma da preocupação com o crescente (em
quantidade e eficácia) arsenal da China. De facto, enquanto rasgam o acordo existente, os EUA procuram trazer a China para uma negociação diplomática tripartida.
A China é, cada vez mais, o ponto relevante dos equilíbrios de poderes da geopolítica mundial. E dado que o seu peso cresce – à medida que cresce o poderio económico, a sofisticação tecnológica e a capacidade bélica – todos os restantes atores são forçados a reajustar a sua posição. A administração dos EUA (e aqui será necessário olhar para além dos comportamentos néscios e desbragados de Trump) tem procurado combater o protagonismo crescente do Império do Meio. As sanções comerciais são a face mais visível, mas também esta tentativa de manter algum controlo sobre o armamento chinês demonstram que, ao nível geopolítico, há agora dois países que importam (China e EUA) e um terceiro que tem um arsenal bélico que deve ser mantido debaixo de olho (Rússia).
Enquanto tudo isto decorre, na
União Europeia discute-se qual o melhor candidato a um cargo burocrático (entre um holandês que mentiu no CV ao indicar um mestrado que nunca teve, e uma búlgara com ligações dúbias a vários oligarcas e inelegível para o cargo – de acordo com as regras atuais). Tal como em tantas outras questões, enquanto a casa arde, os líderes europeus continuam tranquilamente a varrer o chão e questionam-se de onde virá toda aquela cinza.
*Professor do Politécnico de Leiria, Escola Superior de Tecnologia e Gestão
Artigo publicado no Jornal de Leiria em 8 de agosto de 2019

P
or que mudam os setores? Em cada ano cerca de 20% de empresas entram e saem de um determinado setor (apenas em situação de crise o número de empresas que desaparece ultrapassa as que nascem). Se apontarmos a lente de análise a setores específicos conseguimos perceber a dinâmica de maturidade de uma determinada indústria. Se há mais empresas a desaparecer e as vendas decrescem este é um setor em declínio. Se as vendas crescem, mas há mais empresas a desaparecer do que a aparecer, estamos na fase de crescimento. Se o nível de vendas é estável e elevado, e onúmero de empresas é constante, estaremos em maturidade. Mas porque razão o mercado é um turbilhão evolutivo em vez do equilíbrio teórico que alguns economistas defendem? A resposta não está apenas nas ações estratégicas de cada empresa, mas sim na Inovação. É a inovação tecnológica que cria e molda os setores. Quando ela é radical dá azo à criação de novos setores e à reconfiguração de toda a economia (a máquina a vapor, a energia elétrica, o carro, o transístor e o microprocessador são exemplos dessas inovações). Este processo conduz muitas vezes à destruição criativa (cunhada pelo economicista Schumpeter). Este fenómeno é evidente no caso dos fabricantes de máquinas de escrever que despareceram com o nascimento do processador de texto/microcomputador, menos evidente no caso dos smartphones, onde a Nokia foi desalojada por uma empresa da área do software – a Apple (quando isto sucede, as empresas que operam em mercados que
são desalojados pela tecnologia tentam muitas vezes dar o salto, mas faltam-lhes as necessárias competências – foi o caso da Olivetti ou da Kodak). Na fase inicial de cada setor existem “ondas” de empreendedores, que depois desaparecem dando lugar a grandes empresas (em 1910 havia 500 fabricantes de automóveis, hoje existem 10 grandes grupos). As empresas que acertam na fórmula certa são aquelas que perduram (o caso da Ford como seu modelo T) e se tornam grandes empresas. A partir da fase de crescimento “economias de escala” e “inovação de processo” tornam-se mais importantes, dando vantagem às grandes empresas (e Portugal não conseguiu gerar grandes “campeões” de inovações passadas). A aposta nacional no empreendedorismo, sobretudo ligado à inovação mais radical, tem um propósito muito relevante – descobrir os novos campões, assegurar a competitividade na indústria/setores do futuro. O importante é que no meio desta onda nasça uma futura
Apple, Volkswagen ou GE (temos para já a Farfetch).
Esta é uma crónica dedicada a duas pessoas. Ao João Vasconcelos, provavelmente umas das pessoas que mais fez em menos tempo pela indústria, empreendedorismo e dinâmica empresarial do país. Uma mente brilhante e um espírito avassalador. Ao Sidónio, um exemplo de virtude, perseverança e espírito fraterno. Fica a saudade e a obra. Obrigado a ambos!
*Professor do Politécnico de Leiria Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Diretor Executivo da D. Dinis Business School
(autor escreve com o actual acordo ortográfico)
Artigo publicado no Jornal de Leiria em abril de 2019

U
ma nova geração de profissionais está prestes a chegar ao mercado de trabalho e traz consigo enormes desafios às empresas e à sociedade em geral. Nascidos a partir de 1997, os Centennials (também conhecidos como Geração Z) são a primeira geração de crianças que nasceu em plena era da Internet. Esta é uma geração em tudo diferente das anteriores. Uma geração que vive no imediato, em “alta velocidade”, com tecnologia customizada e fortemente interativa. Para estes jovens a vida seria “estranha” sem Youtube, SnapChat ou Instagram. Um relatório da OCDE de 2017 concluiu que um em cada três jovens britânicos de 15 anos é considerado um “utilizador extremo de Internet”, ou seja, passa mais de seis horas por dia online. Esta nova realidade está a causar algum alarme entre os investigadores, pela possibilidade de conduzir ao desenvolvimento inadequado de competências sociais, na medida em que a extrema dependência das tecnologias de informação afetará os processos de comunicação, socialização e aprendizagem. Os Centennials são considerados a geração menos social, menos resiliente, menos tolerante à frustração, mais impaciente e particularmente suscetível, o que poderá implicar uma degradação dos seus níveis de inteligência emocional. Acontece que estes “nativos digitais” serão os futuros líderes organizacionais, sendo a inteligência emocional um fator-chave de liderança eficaz. Por outro lado, com o desafio da Indústria 4.0, as empresas vão precisar de colaboradores com competências diferentes das tradicionais, ou seja, todas aquelas que serão impossíveis de automatizar e que, por isso, nos diferenciarão das máquinas. A persistência,
a resistência à frustração, o trabalho em equipa, a inteligência emocional e a liderança, são algumas das caraterísticas determinantes do sucesso pessoal, e precisamente aquelas que poderão estar em “risco” nos Centennials. Face a isto, tanto a escola como as organizações desempenham um papel fulcral. A escola deve assumir a criação de ambientes educativos e pedagogias necessárias para a promoção e desenvolvimento das competências sociais e emocionais. As organizações deverão não só identificar os futuros requisitos em termos de competências, bem como disponibilizar as ferramentas necessárias para potenciar o desenvolvimento sustentado dos seus futuros colaboradores. Mais do que nunca, este é o momento ideal para os atuais líderes assumirem os desafios que estes e outros fatores estão a criar em termos de uma completa transformação na gestão da força de trabalho. As “caraterísticas geracionais” dos Centennials que afetam a sua atitude perante a vida, as suas expectativas e valores, afetarão igualmente
a sua forma de encarar o trabalho e a carreira, colocando inúmeros desafios às organizações no campo da gestão de pessoas, particularmente, na atração e retenção de talentos. No CARME (Centre of Applied Research in Management and Economics) consideramos imperativo compreender os arquétipos desta nova geração, e ajudar as diferentes organizações a antecipar estratégias promotoras de respostas que se esperam e desejam ajustadas, prevendo cenários adequados ao contexto da sociedade atual.
*Professora do Politécnico de Leiria Escola Superior de Tecnologia e Gestão Doutora em Gestão Industrial Investigadora do CARME – Centre of Applied Research in Management and Economics
(autora escreve com o actual acordo ortográfico)
Artigo publicado no Diário de Leiria em 15/11/2018

N
o dia em que escrevo esta crónica, o prémio Nobel da Economia de 2018 foi atribuído a Paul Romer e William D. Nordhaus. Nordhaus ficou conhecido por ser o pioneiro na utilização de modelos simples mas dinâmicos e quantitativos do sistema económico-climático global. As ferramentas que criou permitem simular como a economia e o clima podem co-evoluir no futuro, considerando hipóteses alternativas sobre o funcionamento da natureza e a economia de mercado, incluindo as políticas relevantes (como impostos sobre carbono). Estes modelos são tão mais importantes quando o abismo do aquecimento global é hoje uma inevitabilidade. Romer, por seu lado, tem um contributo ímpar na questão do crescimento económico. Seguindo de certa forma o percurso feito por Schumpeter (economista austríaco do início do século XX), Romer propôs um modelo de crescimento económico que incorpora o progresso tecnológico como fator determinante para o desenvolvimento, considerando que a produção de conhecimento e ideias (de forma sistematizada através do setor de I&D) e tecnologia são os elementos fundamentais do crescimento económico. O stock
acumulado de conhecimento de uma economia, tal como o stock de capital, permite que empreendedores e empresas inovem, criando mais crescimento do que em economias onde não existe stock ou produção de conhecimento. Romer mostrou ainda que mercados desregulados podem gerar algum progresso tecnológico, mas tendem a subproporcionar I&D e os novos bens criados por ela. Para resolver esse subfornecimento, Romer propõe a intervenção pública sob a forma de investimento público (por exemplo na investigação no ensino superior, em bolsas de investigação, em laboratórios públicos), mas também na criação de legislação de patentes e outros direitos de propriedade intelectual que levem as empresas a investir na “criação de conhecimento”. Estas leis devem encontrar o equilíbrio certo
entre a motivação para criar novas ideias, dando alguns “direitos de monopólio”, mas também garantir a futura livre disseminação de conhecimento, limitando esses direitos no tempo e no espaço. As ideias de Romer ilustram o poder da inovação, empreendedorismo e I&D como geradores de crescimento, e estão na base de muitas das políticas públicas modernas, porque a investigação (quer seja feita em empresas ou politécnicos) tem um enorme potencial de gerar externalidades positivas.
*Professor do Politécnico de Leiria Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Diretor Executivo da D. Dinis Business School
Artigo publicado no Jornal de Leiria em outubro de 2018

V
ivemos num mundo diferente, onde plataformas como a Uber ou a AirBnb, permitem que pessoas comuns ofereçam os seus serviços, reinventando assim a empresa clássica. Estas duas empresas em conjunto são hoje avaliadas em cerca de 100 mil milhões de dólares. Em Portugal existem plataformas semelhantes com oferta de serviços profissionais (como a Zaask) ou o arrendamento de quartos a estudantes (como a Uniplaces, que hoje se estima que possa valer mais de mil milhões de dólares). Estes números são extraordinários, sobretudo se pensarmos que a indústria de moldes, tão importante na região, estará hoje perto dos 1000 milhões de euros de faturação. Estes fenómenos vão ao encontro de uma teoria fundamental na economia, desenvolvida por dois prémios nobel da economia – Ronald Coase e Williamson, que focaram a importância dos custos de transação, que nada mais são do que o gasto de recursos económicos para planear, adaptar e monitorizar as interações entre os agentes (custos de procura de preços, denegociação, de procura de fornecedores, etc.). Na economia moderna, o advento do processamento massivo e barato de dados permite a minimização dos custos de transação sem recorrer a estruturas internas (substituindo empresas clássicas com sistemas de governação pesados e caros). A concertação de preços pode ser feita automaticamente, a monitorização é feita automaticamente e através de reviews gerando índices de reputação e a negociação é também ela semiautomática. Se, por um lado, estes movimentos tornam a economia mais flexível, por outro estes parecem ser os únicos geradores de emprego numa economia cada vez automatizada e “algoritmizada”. Empresas como a Uber, Snapchat, WhatsApp, empregam algumas centenas (ou poucos milhares) de colaboradores, mas têm valorizações de mercado imensas. No caso da Uber é interessante ver o fenómeno de “destruição criativa”, pois se numa primeira fase a empresa destrói emprego no setor dos táxis, numa segunda fase ela procura acabar com a figura do motorista profissional (hoje a empresa está a testar um serviço de entregas de comida e, simultaneamente, a sua primeira minifrota de carros sem condutor – um alerta para quem acha que os carros autónomos estão ainda a mais de 3 ou 4 anos de distância). Simultaneamente, a empresa tem gerado empregos mais intensivos em conhecimento, nas áreas de engenharia, inteligência artificial e
outros (empregos mais bem pagos e com potencial económico maior do que o dos motoristas de táxi). O problema é que estes empregos não são para as mesmas pessoas. Taxistas, cozinheiros, camareiras poderão ficar desempregados, sem perspetiva de emprego de substituição (a perspetiva é que 30% a 50% dos empregos atuais serão alvo de automização – por robots e software, inclusive na indústria, onde o advento da “industria 4.0” e/ou da fabricação aditiva levarão à criação das fábricas sem operários – mas com engenheiros). Por outro lado, grandes empresas trabalham cada vez menos com divisões clássicas, apostando na organização por projeto e equipa, onde cada unidade funciona de forma altamente independente, como se um departamento fosse uma pequena startup intensiva em conhecimento (vide Google, Microsoft, etc.). Estes fenómenos chegam hoje à nossa indústria, onde muitas empresas procuram ser mais ágeis e horizontais, para poder inovar mais rapidamente em termos de produtos e processos. Simultaneamente, o impulso do investimento financiado em indústria 4.0, está a transformar a linha de produção clássica, com automação, máquinas que recolhem dados e falam entre si e algoritmos que otimizam ciclos de produção. As bancadas dão lugar às células de produção e o tempo que demora a adquirir know-how técnico começa a encurtar (7 anos seria o que se dizia há 25 anos ser necessário
para um técnico de moldes, quando hoje estaremos nos 2/3anos). Este tipo de lógica permite que as empresas produzam com mais precisão, encurtem tempos de desenvolvimento e gerem mais valor acrescentado. Desta forma, skills ligadas à engenharia, criatividade, capacidade de negociação, recolha tratamento de dados, gestão do conhecimento e inovação, etc., tornam- -se essenciais para a criação de valor. Neste futuro haverá hipóteses para novas empresas, estruturas mais flexíveis e ágeis e sobretudo para empregos e negócios iminentemente intangíveis, baseados em conhecimento. Esperemos que as empresas da região continuem o seu caminho nesta direção, sendo elas as novas pioneiras da digitalização industrial.
*Professor do Politécnico de Leiria Escola Superior de Tecnologia e Gestão Diretor Executivo da D. Dinis, Business School
(autor escreve com o actual acordo ortográfico)
Artigo publicado na Jornal de Leira, Revista 250 Maiores empresas do distrito de Leiria, em novembro 2017

J
á lá vai o tempo em que o Natal começava em dezembro! Atualmente muitas lojas já têm de decidir se fazem montras com as decorações de Halloween ou as de Natal.
Este constante crescimento da época Natalícia é muitas vezes caracterizado por ser um “evento Natalício”. Esta perspetiva de evento tem a sua origem à séculos atrás, quando as igrejas utilizavam os serviços religiosos para atrair pessoas e transmitir ideias religiosas, mantendo as pessoas na igreja. Neste âmbito, os autores Erlnoff e Marshall referem que “hoje, o sucesso da religião, dos partidos políticos, das iniciativas, das marcas e dos produtos depende fortemente dos contextos em que as suas ideias são comunicadas, para gerar o desejo de participar e comprar o que é oferecido.” Para isso existe sempre a necessidade de inovar produtos e serviços, para que as informações e a publicidade seja o suficiente para obter o sucesso do evento nas suas várias áreas.
A época define-se aqui como um intervalo ou período de tempo; evento como algo que acontece num determinado período de tempo com um propósito e uma estratégia determinada e, objeto, como produto ou serviço.
Será então que a época Natalícia se transformou num evento que passa a ser mais comercial do que espiritual e religioso? Segundo os autores Kotler e Keller “o marketing está por toda a parte. Formal ou informalmente as pessoas e organizações envolvem-se num grande número de atividades que poderiam ser chamadas de marketing”. Acrescentam que o bom marketing tem de ser tornado um ingrediente para o sucesso dos negócios, que ele afeta profundamente a vida quotidiana e está em tudo o que fazemos – “nas roupas que vestimos, nos sites que clicamos, passando pelos anúncios que vemos.”
O Natal passou então de uma quadra em que se comemora o nascimento de Jesus Cristo para um negócio?
Sob este ponto de vista o marketing também evoluiu adaptando-se às tendências da atualidade, porque esta disciplina “em vez de tratar as pessoas simplesmente como consumidores aborda-o seres humanos integrais com mentes, corações e espíritos”. Kotler sublinha que em tempos de crises económicas mundiais, o marketing ganha tremenda importância para a vida dos consumidores que são afetados pela turbulência social, económica e ambiental. No contexto de epidemias, pobreza, destruição ambiental, só as empresas com a filosofia de negócio assente num marketing e que oferecem respostas e esperança aos consumidores são bem sucedidas, porque tocam nos consumidores “num outro nível”.
O Natal já é uma festividade que por si só toca nas pessoas, porque comemora uma data dotada de valor simbólico e espiritual; o que se pode tornar numa vantagem para todos os objetos disponíveis e promovidos nesta quadra. Este conceito está adequado às tendências dos consumidores, que procuram não só o bom desempenho funcional e estético dos objetos como também o emocional e o espiritual. Neste assunto, a palavra de ordem continua a ser só uma – diferenciação. A diferenciação, utilizada enquanto estratégia de marketing ou uma característica do design de um objeto, deve ser visto como algo tornado único ou uma mais valia no seu género, numa determinada circunstância.
Refletindo sobre a crescente “antecipação” do Natal, que se começa a tornar visível no início de
novembro, esta pode ser analisada sob dois prismas: um negócio que quer ser iniciado mais cedo ou numa necessidade
emocional das pessoas – no domínio da esperança – no valor espiritual.
A tendência deste marketing dotado de espiritualidade já não é uma questão nova no design. Como exemplo o autor Papanek abordava este problema no seu livro, na forma como o designer pode conceder valor espiritual aos objetos concebidos. A resposta prende-se num design com “preocupações sustentáveis do meio ambiente, no facilitar a vida de algum grupo marginalizado pela sociedade, no alívio da dor, na ajuda aos pobres e dos seus direitos, na poupança de energia ou criação de energias renováveis ou em salvar recursos insubstituíveis”.
Mas afinal estará o Natal dotado desta “espiritualidade”? Será que pensamos nos presentes que compramos para oferecer com este cariz ecológico, de ajuda aos necessitados, de poupança de recursos? A necessidade do objeto adquirido será realmente posta em causa? O valor emocional e simbólico dos objetos será respeitado e enquadrado ao Natal?
Sob o meu ponto de vista o Natal será sempre uma festa de família, plena de simbolismo pelo que representa – o aniversário do nascimento de Jesus Cristo. A tradição da festa , figurada na família mais chegada, na lareira, nos pés descalços e um sapato junto ao pinheiro, no presépio com luzes a piscar, na ceia do bacalhau com couve portuguesa, batatas e vinho tinto, tem um significado muito próprio.
O Natal é verdadeiramente espiritual: uma noite onde as palavras enchem a alma, as gargalhadas se perdem no ar, a ansiedade das crianças é expressada pela eficácia com que comem, onde se mergulha no afeto e no esquecimento das tristezas do quotidiano. É uma época em que se pensa no outro, em que “fazemos uma pausa” dos nossos problemas e se ajuda o próximo, em que se dá um sorriso e um abraço, em que se telefona, envia um postal e mais atualmente se manda um sms, um e-mail ou coloca um like nas redes sociais.
O presente de Natal, com o passar do tempo, ganhou um outro valor – é substituível, perde relevância. Dou muito mais importância ao beijo, ao abraço, ao sorriso, às palavras, às pessoas que me tocam e à minha família. Mas esta constatação cresceu com o tempo, as crianças vibram com as prendas, eu, adulta, vibro com a serenidade do momento.
Se ofereço prendas claro que sim; o consumismo está enraizado na sociedade, quase que ficamos mal vistos se não dermos um presente e continua a haver o estigma do objeto caro ou da lembrança. Mas, antes da aquisição, já realizei uma reflexão do que o outro gosta, anseia ou imagino que necessita; a minha filosofia, formação ou educação (como lhe queiram chamar) faz com que não compre só por comprar, exige um esforço e tempo adicional da utilidade e pressupõe preocupações sustentadas nalguns dos princípios abordados no design de Papanek.
Se olho para reflexo do marketing e do design no evento Natalício, lógico que sim. Quanto mais não seja para analisar a tendência ou o próprio produto ou serviço.
Mas se me perguntarem qual é a minha melhor prenda? Ela seria mesmo uma escapadinha em família para um destino mágico. O que entendo por destino mágico? Um qualquer onde possa estar a viver esta tranquilidade em família, em Peniche ou em Tóquio, tanto importa. Como alguém disse: “Natal é sempre que um Homem quer”.
Desejo a todos um Feliz Natal carregado de espiritualidade!
*Professora do Politécnico de Leiria, Escola Superior de Tecnologia e da Faculdade de Arquitetura e Artes (Universidade Lusíada do Porto)
Artigo publicado na Gazeta das Caldas, 19 de Dezembro de 2014

A
A Economia é uma ciência social, com todos os seus problemas e virtudes. Contudo, a sua fama e resultados granjeou-lhe o epiteto da ciência sombria, (“dismal science”). Se considerarmos a Economia como uma ciência, no seu sentido mais estrito consideramos que esta seguirá o famoso método científico (fundado por Descartes). A Economia deverá então estabelecer hipóteses e fazer previsões, que podem ser testadas com dados empíricos, sendo os resultados, sob as mesmas condições, passíveis de ser replicados. Estes resultados dão origem a teorias e leis (que têm, no caso da Economia, uma natureza eminentemente probabilística – as hipóteses são testadas usando métodos estatísticos, com dados gerados no mundo real). Todavia, no século XX, o filosofo Karl Popper realçou a necessidade de testar hipóteses científicas, procurando não apenas evidências de que elas estão certas, mas sobretudo evidências de que estão erradas. Esta “falseabilidade popperiana” é particularmente importante, já que nos traz a ideia de que a ciência é um conhecimento provisório. Uma teoria é válida até ser falseada, evoluindo por mudanças de paradigma (como a física de Newton deu lugar à de Einstein). O
problema da Economia é que raramente as suas teorias são postas à prova (em experiências) e quando aplicadas no mundo real, algumas teorias económicas não produzem os resultados esperados. Por outro lado, muitas teorias partindo de pressupostos simplificadores têm aspetos não falseáveis e a mudança de paradigma, transforma-se aqui em coexistência de correntes teóricas. Neste sentido, a Economia está condenada a ser uma ciência de tendências. Contudo, a economia comportamental (com testes e experiências), muitas vertentes da microeconomia e muitas novas correntes da Economia (como economia evolucionista, com modelos evolutivos ou “amigos” da história), aproximam-se consideravelmente da visão mais estrita de ciência, produzindo teorias de grande
consistência empírica. Mas este lado da Economia é desconhecido da população em geral, que apenas vê os resultados de “política económica”, com consequências nefastas para o seu bem-estar (ou ouve opiniões predominantemente politicas de comentadores). Desta forma, todos acreditam perceber de Economia e de como esta está errada. Por outro lado, ninguém diz a um geólogo que as rochas ígneas são uma fraude.
*Professor do Politécnico de Leiria Escola Superior de Tecnologia e Gestão, Diretor Executivo da D. Dinis Business School
(autora escreve com o actual acordo ortográfico)
Artigo publicado no Jornal de Leiria em novembro de 2013