Biologia e Ideologia / Biology and Ideology

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«L'idéologie est une partie de la zoologie, et c'est sur-tout dans l'homme que cette partie est importante et mérite d'ètre approfondie»

(D. de Tracy)

 

«Sie wissen das nicht, aber sie tun es»

(K. Marx)

 

«Modern biology is characterized by a number of ideological prejudices that shape the form of its explanations and the way its researches are carried out»
(R. Lewontin)

Tomando como ponto de partida três textos como que arquetípicos do biólogo Richard C. Lewontin – Not in Our Genes: Biology, Ideology and Human Nature (1984); Biology as Ideology: The Doctrine of DNA (1991); e, The Triple Helix: Gene, Organism, and Environment (2000) –, este projecto procura fundamentalmente explorar e analisar o carácter problemático da «Ideologia» no domínio específico da Biologia. Uma problematicidade presente, por exemplo, na doutrina do DNA referida por Richard Lewontin – e pela qual o biólogo português e professor da Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa, Germano da Fonseca Sacarrão, se interessou, pensou e procurou divulgar –, no conceito de gene egoísta de Richard Dawkins, nas ideias subjacentes ao Darwinismo Social dos anos 40, na própria teoria da evolução das espécies e suas posteriores reformulações, na natureza das teorias médicas do século XIX tão bem problematizada por Georges Canguilhem, na credulidade quase constitucional numa ciência da imortalidade ou na argumentação que, em nome da vida, sustenta a patenteação de genes humanos.

O que levou, pois, alguns biólogos a debruçarem-se na relação entre Biologia e Ideologia? Será a Biologia, de facto e de direito, Ideologia? Será a Biologia absolutamente neutra ou inócua? Como e até onde é eventualmente legítima uma tal relação? E a propósito, o que é isso de "Ideologia"? Dada a emergência histórica do termo em Destutt de Tracy (Éléments d'Idéologie, 1801) – que considerava a ideologia como a "ciência da génese das ideias", e a incluía na «zoo-logia», isto é, incluía a «ideologia» num discurso que, de algum modo, incidia já na vida –, a célebre reelaboração da temática da ideologia por Karl Marx – autor que denuncia as ideologias em nome da ciência que pretende instituir, isto é, a ciência dos homens que fazem a sua própria história sem, contudo, a poderem fazer à medida dos seus desejos –, ou o desenvolvimento do conceito de ideologia científica por Michel Foucault e Louis Althusser, é pois enriquecedor ter em consideração outros domínios do saber onde a problematicidade da ideologia é também pensada.

2013

  1. Ciência e Ideologia. Leitura e comentário de alguns textos de Paul Ricoeur por Nuno Melim. 14 de Maio, 11h00, Sala 4.2.07.
  2. Richard Lewontin e a Ideologia Atomista: o Dogma Central da Biologia Molecular e o Adaptacionismo, Conferência por Gil C. Santos. 30 de Abril, 11h00, Sala 3.1.07.Abstract: A principal crítica dirigida por Richard Lewontin à Biologia contemporânea incide no facto de ela continuar a desenvolver-se no quadro de uma metafísica a que chamaremos atomista – metafísica, esta, paradigmaticamente representada pela teoria do determinismo genético (DNA), no domínio do desenvolvimento ontogenético, e pelo adaptacionismo, no domínio de uma teoria da evolução das espécies. Em ambos os casos, observa Lewontin, o poder sugestivo e encantatório das metáforas tendem a dissimular o radicalismo teórico das teses em causa e, designadamente, a sua pouca originalidade. Por exemplo, no caso específico do dogma central, defende-se que esta tese mais não é do que um refinamento actualizado de uma velha perspectiva que se julgava já morta: o Pré-formacionismo. Ora, este Pré-formacionismo, como veremos, não é mais do que um subproduto da clássica metafísica atomista que como ideologia continua a imperar em Biologia, não obstante o desenvolvimento de novas abordagens como as protoganizadas pela Systems Biology, ou pela mais recente Developmental Systems Theory.