Newsletter 8 - Crónica Convidada

Newsletter 8 – Crónica Convidada

Comunicar Ciência é “trocar por miúdos”

[FOTO] © Alexandra Nobre

Alexandra Nobre
Professora no Departamento de Biologia da Universidade do Minho, investigadora no Centro de Biologia Molecular e Ambiental

Hoje em dia, ir às compras nem que seja para abastecer o frigorífico com os produtos mais triviais ou para substituir os óculos de sol que “foram desta para melhor”, é uma autêntica aventura. Diria mesmo um suplício! A não ser que antes se tire um curso intensivo sobre o assunto. Ela é toda uma família numerosa que habita o corredor refrigerado das grandes superfícies, desde os iogurtes, aos leites fermentados e aos probióticos, associada a termos de franzir a testa como bifidus activos e L. casei imunitas. Elas são lentes anti-reflexo, lentes foto-gray e polarizadas, mais os materiais inteligentes e ultra-flexíveis. Enfim… E quem diz isto, diz também o creme regenerador com lipossomas e antioxidantes, o smartphone de quarta geração ou os sacos biodegradáveis de PLA (polilactato).

De um modo direto, podemos dizer que comunicação de Ciência se refere à transmissão de conceitos científicos à população em geral, feita normalmente por cientistas ou outros profissionais da área, utilizando uma linguagem simples e acessível ao comum dos cidadãos. A ideia é desconstruir conceitos complexos, desmistificar/eliminar (pre)conceitos e esclarecer o significado de novos termos que chegam de rompante e invadem sem cerimónias, tanto os meios de comunicação social, como a linguagem do dia-a-dia.

Mas falar de Ciência a quem não tem formação nesta área tem muito que se lhe diga. Antes de mais é preciso perceber muito bem aquilo de que se fala. Depois, é imprescindível utilizar uma linguagem que todos, independentemente da sua idade, habilitações literárias ou vivências, consigam entender. Já dizia Einstein “Se não consegues explicar de forma simples é porque ainda não entendeste o suficiente”. E eu concordo.

Comunicar Ciência à população em geral é tão gratificante! É como transformar um mundo temido porque incompreensível, num outro acolhedor que apetece visitar. Por um lado destroem-se mitos à medida que se vai respondendo aos porquês. Por outro, como é típico em Ciência, a cada resposta alcançada se multiplicam novas perguntas. É como contar uma história.

E por falar em histórias… Era uma vez um lobo mau que comeu o Capuchinho Vermelho. Mas o lobo seria mesmo mau ou as aparências iludem e o seu aspeto feroz não é mais do que um caso de sucesso evolutivo de forma adaptada à função? E vermelho porquê se o lobo é daltónico e essa é cor que ele não vê? Posso lançar um desafio? Visitem “Era uma vez… Ciência para quem gosta de histórias”, uma exposição patente até agosto de 2014, onde as histórias da nossa infância são vistas com olhos de ver. E de entender.