Newsletter 10 – Arquivo de Ciência e Tecnologia
Encontro promove debate sobre Arquivos Científicos
Contribuir para aprofundar o conhecimento e o estudo da produção arquivística e documental nos domínios da investigação e da gestão da atividade científica foi o objetivo do Encontro Arquivos Científicos que teve lugar na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (FCSH-UNL), nos dias 3 e 4 de julho, coorganizado pelo Arquivo de Ciência e Tecnologia da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT) e pelo Instituto de História Contemporânea da FCSH-UNL.
Durante dois dias mais de cem investigadores, académicos, historiadores e técnicos de arquivo ligados a instituições ou a arquivos científicos, partilharam informações e experiências, bem como a vontade de contribuir para o conhecimento de um património essencial para o estudo da investigação científica, do desenvolvimento tecnológico e da produção científica nacional.
O encontro pretendeu assim ser um espaço aberto à reflexão em torno da identificação, preservação e divulgação do património arquivístico ligado à Ciência em Portugal, um espaço de discussão e reflexão sobre as metodologias próprias para o tratamento e organização dos arquivos científicos, nomeadamente em questões de avaliação e descrição e, por último, para aprofundar o conhecimento do perfil dos utilizadores dos arquivos científicos, bem como das suas necessidades e expectativas.
A abrir o Encontro estiveram João Nuno Ferreira, vogal do Conselho Diretivo da FCT, Maria Fernanda Rollo, Presidente do Instituto de História Contemporânea, e Susana Trovão, subdiretora da FCSH-UNL.
No primeiro painel, Protagonistas, foram apresentados alguns projetos de tratamento de espólios de investigadores e cientistas. O Projeto de tratamento do espólio do cientista e professor JFDF – José Francisco David Ferreira – Enquadramento, Ponto de situação, Problemas e Soluções, incidiu sobre o tratamento do espólio do discípulo de Celestino da Costa, que inclui documentação arquivística, mas também bibliográfica, produzida e acumulada ao longo da sua vida (1929-2013), enquanto investigador e docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Da medicina para a literatura, a apresentação Arquivo digital de Almada Negreiros: a tragédia da Unidade, trouxe consigo as metodologias de tratamento de um arquivo com características muito próprias, mas com evidente valor científico e artístico.
O painel Instituições Científicas deu a conhecer alguns projetos a decorrer em organismos públicos que visam a preservação e a divulgação de arquivos relacionados com a atividade científica, quer da produção de ciência, quer aos nível da sua gestão e financiamento. São os casos do Instituto de Investigação Científica Tropical, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia, ou do Instituto Superior de Engenharia do Porto, entre outros.
Dois projetos em curso trouxeram-nos a perspetiva dos investigadores: Arquivos, Universidades e Memória Científica e Fontes e metodologia para a história da política científica, este último incidindo sobre a importância dos arquivos como fonte para o estudo da história das políticas de ciência.
Em Museus e Arquivos, tema do terceiro painel, foram apresentados dois projetos do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, destacando-se o espólio do naturalista Francisco de Arruda Furtado (1854-1887), que se correspondeu com Charles Darwin, entre 1881 e 1882.
A preservação digital, um dos atuais e principais desafios dos profissionais da informação, foi o tema do painel intitulado Património e Preservação Digital. Na comunicação da Direção-geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas foi apresentado um projeto recente intitulado “continuidade digital”, “que visa promover o debate multidomínio no sentido de analisar a viabilidade de preservar solidariamente património digital dentro de uma rede comum”.
A imagem enquanto objeto de ciência, enquanto representação científica ou memória científica foram os temas abordados no quinto e último painel, intitulado Imagem e Ciência. Aqui também se discutiu e refletiu sobre a utilização da imagem nas diversas áreas científicas e as diferentes interpretações que se pode dar a um arquivo.
Pedro Penteado, da FCSH-UNL, Maria de Fátima Nunes, da Universidade de Évora, Alfredo Caldeira, da Fundação Mário Soares e Maria Fernanda Rollo sentaram-se em torno da mesa redonda que encerrou o Encontro, e que teve por objetivo promover o debate e a reflexão e sumarizar as conclusões de dois dias de trabalhos.
Foram dois dias de intenso trabalho, nos quais se retiraram várias considerações relativas à importância dos arquivos científicos e à indispensabilidade de promover o seu tratamento e estudo. Destas ressaltam a necessidade de promover políticas arquivísticas mais interventivas por parte das organizações, nomeadamente em termos de estratégias de gestão, de acesso e de preservação, e de criação de instrumentos de gestão, e ainda a emergência de sensibilizar os órgãos de decisão das entidades produtoras e detentoras de arquivos científicos, para a necessidade de tratarem e salvaguardarem o seu património. A cooperação em equipas multidisciplinares para um correto entendimento e interpretação do contexto de produção deste tipo específico de arquivos, incluindo naturalmente investigadores e profissionais da(s) área(s) científica(s) a que respeitam o(s) acervo(s) em tratamento e um maior diálogo entre a comunidade de arquivistas e os investigadores, desenvolvendo práticas conjuntas e colaborativas de trabalho foram também sublinhados.
As comunicações e a gravação vídeo do Encontro estão disponíveis no website da iniciativa.