Newsletter 7 - Crónica Convidada

Newsletter 7 – Crónica Convidada

É mais o que nos une do que o que nos separa

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Leonor Medeiros
Arqueóloga, Investigadora em Património e Arqueologia Industrial na Michigan Technological University, USA

Todas as ciências terão uma ou duas (ou frequentes) histórias de momentos de incompreensão entre os seus membros. Movimentos de independentização de ramos científicos sempre foram como tiros no escuro, tendo de se provar a si mesmos no contexto do que deixavam para trás. E acredito que tanto Edison como Darwin terão ouvido em alguma ocasião: “Porque não fazes antes algo de útil?”.

Como investigadora e arqueóloga na área do património industrial, também oiço com frequência críticas ao valor da minha área de estudo, e esses comentários vêm invariavelmente da parte de outros arqueólogos. Para o público em geral geralmente põe-se apenas uma questão: “O que é isso de industrial?”[1] (e no pior dos cenários, às vezes tenho de explicar primeiro o que é um arqueólogo). Mas se estiver a falar com um colega já há uma grande probabilidade de ouvir que o que estudo “é demasiado recente para ser Arqueologia”. Assim, o que se apresenta como uma evolução natural da investigação científica, obtém contornos de rito de passagem e fortalece a sua identidade graças ao antagonismo dos membros da própria comunidade.

Por um lado fico mais descansada quando sei que outras áreas do conhecimento também passaram por este processo de construção. O século XX foi pródigo nestas emancipações de áreas de saber, patente na quantidade de novas associações e publicações, cada vez mais especializadas, como por exemplo na criação, nos anos 50, da história da tecnologia (antes parte da história da ciência e intimamente ligada à engenharia), na mesma altura em que a arqueologia industrial se começava a defininir no Reino Unido.

Mas afinal a crítica é tão falível quanto o louvor. Tanto do que foi defendido na altura como grandioso (da utilização em massa do DDT às expedições de colecionismo no Egipto) acabou por se revelar também problemático. Mas por muito que as metodologias de há 100 anos atrás sejam agora impensáveis, os contributos continuam a ser inegáveis. Hoje, a arqueologia continua a expandir as suas áreas de investigação, à medida que se desenvolvem novas metodologias e têm lugar novas descobertas, e à medida que o próprio tempo passa sobre os trajetos do Homem na Terra.

O tempo assiste impávido às mudanças, e compete-nos fazer mudanças para o melhor, aprendendo a cruzar disciplinas e sempre mantendo a busca pelo conhecimento, seja em que área for. No caso da Arqueologia, quanto mais cedo começarmos a valorizar o nosso passado recente mais teremos da nossa identidade e história amanhã.

 


[1] Caso também esteja a fazer esta pergunta, a arqueologia industrial estuda os testemunhos físicos de sociedades industriais – os artefactos, sistemas, sítios, documentos, tradições e paisagens, em geral dos sécs. XVIII a XX – no seu contexto cultural, ecológico e histórico.