Newsletter 7 – Editorial
Outubro é o mês dos Prémios Nobel. Cada uma das categorias suscita invariavelmente especulação e expectativa antes do anúncio…e, muitas vezes, contestação e acrimónia quando os laureados são conhecidos. Este ano, o Prémio Nobel da Física gerou uma agitação particular nos media online, na blogosfera e nas redes sociais. Até a respeitável Academia Real da Suécia pareceu contribuir para o frenesim, aumentando o suspense ao atrasar o anúncio do(s) vencedor(es). Quando finalmente o anúncio surgiu, confirmou-se o que muitos esperavam: o prémio foi para Peter Higgs e François Englert, pela “descoberta teórica de um mecanismo que contribui para a compreensão da origem da massa de partículas sub-atómicas”. Proposta em 1964, a teoria foi confirmada em 2012 no CERN, com a descoberta do bosão de Higgs, a partícula crucial. Duas equipas de mais de 3 000 investigadores, a trabalhar no Large Hadron Collider (LHC) do CERN, provaram a existência do bosão de Higgs, 50 anos depois da sua existência ter sido prevista por Peter Higgs.
O ano passado tive a honra de assistir à sessão Why is the Universe so massive: the hunt for the Higgs at the LHC, parte da conferência ESOF2012, em Dublin. Honra, porque foi de facto um privilégio assistir à emoção com que engenheiros do LHC e cientistas recontaram o longo processo de procura da esquiva “partícula de Deus”, alcunha (algo disputada) do bosão de Higgs. Foi com lágrimas nos olhos (verdadeiramente!) que recordaram o seminário dos líderes das equipas CMS e ATLAS, 10 dias antes, em que anunciaram a descoberta de uma nova partícula que parecia ser o bosão de Higgs (estes resultados foram posteriormente confirmados), e o momento em que Rolf-Dieter Heuer, Diretor Geral do CERN, proferiu a agora famosa frase “I think we have it”, numa mistura de eufemismo científico e entusiasmo infantil. Aquela sessão renovou em todos os que estavam na sala a paixão pelo conhecimento, o arrepio que se sente perante uma grande descoberta (mesmo de outros) e o deslumbramento das grandes aventuras científicas.
A sessão mostrou também a ligação íntima entre investigação fundamental, motivada pela sede de conhecimento, e desenvolvimentos tecnológicos. De facto, para responder às questões teóricas aparentemente impossíveis de Higgs, Englert e outros, milhares de cientistas e engenheiros criaram instrumentos e tecnologias cada vez mais avançadas: magnetes supercondutores, detetores ultra-sensíveis, sistemas informáticos capazes de processar os dados resultantes de 200 milhões de colisões por segundo. Estas tecnologias são utilizadas noutras áreas, científicas e não só: a medicina e as telecomunicações são duas áreas que beneficiam das tecnologias e impactam diretamente sobre os cidadãos.
Esta edição da FCT Newsletter reúne alguns artigos que ilustram este fio condutor, do laboratório (de materiais, de células estaminais da medula óssea) para o mercado e para a sociedade.
Na mesma linha, descrevemos a segunda fase do processo de identificação das áreas em que Portugal e as regiões apresentam vantagens competitivas científicas, económicas e sociais, com vista à preparação da futura estratégia para uma especialização inteligente e subsequente melhor utilização dos fundos comunitários para o desenvolvimento económico e social.
Num artigo sobre a Agenda Portugal Digital damos a conhecer as áreas prioritárias desta iniciativa pluri-ministerial, cujo objetivo é capacitar a economia e a sociedade com os frutos do desenvolvimento científico e tecnológico em TIC.
Porque a ciência e a tecnologia não habitam o vácuo, fomos ainda conhecer os resultados de um estudo sobre as atitudes de decisores, cientistas, empresas, ONGs e cidadãos individuais face aos parques eólicos e solares em Portugal, e descobrimos micro-controvérsias localizadas num aparente consenso generalizado.
Até à próxima FCT Newsletter, desejamos a todos boas leituras.
Ana Godinho
Coordenadora, Gabinete de Comunicação da FCT