Medicamento Inovador Desenvolvido em Portugal para o Tratamento do Cancro
O objetivo maior de um projeto de Química Medicinal é o de descobrir um medicamento inovador e eficaz. Um grupo de investigadores do Departamento de Química da Universidade de Coimbra está muito perto de atingir esse objetivo: no final de 2014 os resultados do ensaio clínico em curso poderão confirmar que a abordagem terapêutica inovadora que identificaram é eficaz no tratamento do cancro.
Financiado pela FCT, o estudo liderado por Luís Arnaut, em parceria com investigadores da Faculdade de Química da Universidade Jagiellonian na Polónia, poderá ter grande impacto nos cuidados de saúde que envolvam tratamentos chamados fotodinâmicos.
O princípio da fototerapia dinâmica é a utilização de moléculas inócuas com capacidade de absorver luz. Quando irradiadas com determinado tipo de luz, produzem espécies reativas de oxigénio que destroem as células – células tumorais, por exemplo.
Os investigadores de Coimbra identificaram uma nova família de compostos – as bacterioclorinas – que apresentam muitas vantagens em relação a outros compostos utilizados em fototerapia: acumulam-se mais nos tumores e são mais rapidamente eliminados pelo organismo. Patenteada a família de bacterioclorinas, em 2004, prosseguiram o trabalho e, com o apoio da FCT, entre 2008 e 2013 conseguiram completar o percurso que vai do desenho e seleção do lead compound até à aprovação do ensaio clínico, existindo já doentes oncológicos a serem tratados “com o primeiro medicamento inovador descoberto e desenvolvido em Portugal para o tratamento do cancro”, conforme descrito no relatório do projeto.
Salienta Luís Arnaut que “o processo de descoberta e desenvolvimento de um medicamento é um processo muito longo e muito caro. Em 2008 teria sido classificada de irrealista e fantasiosa qualquer confissão sobre o desejo de levar à prática clínica um novo medicamento português associado a este projeto ERA-CHEM com um financiamento de 200 k€ que, mesmo acrescido dos 150 k€ dos parceiros polacos, estaria ainda uma ordem de grandeza abaixo dos custos deste processo. Acresce que o prazo de três anos é também claramente inferior ao necessário para o processo de descoberta e desenvolvimento”.
Porém, adianta Luís Arnaut, a parceria exemplar com a startup Luzitin SA (que iniciou a sua atividade no início de 2010) permitiu criar sinergias que possibilitaram um avanço muito rápido na identificação dos factores que otimizam o efeito fotossensibilizador no tratamento do cancro e a síntese de uma gama apropriada de moléculas – componentes desenvolvidas pela Luzitin.
“Este feito inédito na história da academia portuguesa não teria sido possível sem a complementaridade com a Luzitin e a colaboração irrepreensível com os nossos parceiros polacos neste projeto. É a primeira vez que uma molécula patenteada por uma universidade portuguesa inicia ensaios clínicos com doentes em Portugal. Os resultados dos primeiros ensaios clínicos, com a indicação de cancro avançado da cabeça e pescoço, serão conhecidos no final de 2014”, refere Luís Arnaut.