Estudo avança novos dados sobre segurança alimentar infantil
Os efeitos tóxicos de compostos químicos existentes em alimentos para crianças estão a ser estudados por uma equipa multidisciplinar do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, coordenada por Paula Alvito, no âmbito do projeto Mycomix. Os primeiros resultados deste estudo serão apresentados em novembro, no 1º Simpósio Nacional Promoção de uma Alimentação Saudável e Segura – Alimentação Infantil & Contaminantes Químicos.
Estima-se que cerca de 25% das culturas agrícolas mundiais estejam contaminadas com compostos químicos tóxicos naturais produzidos por fungos – as micotoxinas. Este é simultaneamente um problema de segurança alimentar e de saúde pública, devido à inevitabilidade de contaminação e à sua potencial implicação em doenças humanas.
Não existem, até ao momento, dados disponíveis relativamente à exposição das crianças portuguesas a misturas destas toxinas através da alimentação, o que Paula Alvito, coordenadora do projeto Mycomix, financiado pela FCT, considera “uma preocupação adicional dado que podem provocar maior toxicidade e carcinogenicidade do que individualmente”.
A manutenção dos contaminantes a níveis aceitáveis do ponto de vista toxicológico é atualmente assegurada por regulamentos da União Europeia que estabelecem o teor individual máximo de micotoxinas nos alimentos para adultos e crianças e definem os métodos de amostragem e de análise para o controlo oficial do teor de micotoxinas nos géneros alimentícios.
Ao fornecer dados sobre a exposição real das crianças portuguesas às micotoxinas, o projeto Mycomix “contribuirá com nova informação que poderá apoiar o desenvolvimento de futuras medidas regulamentares relativamente aos limites máximos de misturas de micotoxinas em alimentos” e para a melhoria das condições de saúde e segurança alimentar.
Como explica a investigadora “estas toxinas ocorrem com frequência nos alimentos: a contaminação pode ocorrer na produção, transformação, acondicionamento, transporte e conservação e a maioria resiste aos métodos de processamento habitualmente utilizados na indústria alimentar”. Uma grande variedade de produtos alimentares poderá estar, assim, potencialmente contaminada: cereais (trigo, milho, cevada, aveia, sorgo e arroz), figos, nozes e outros frutos de casca rija, leite e produtos derivados, café, vinho, frutos e sumos de frutos e especiarias.
Neste contexto, “a diversificação alimentar, base de uma alimentação equilibrada” é, de acordo com a investigadora, “a forma mais adequada de tentar reduzir a ingestão de alimentos potencialmente contaminados com micotoxinas”. Aconselha, ainda, “ a remoção de cerca de 2 cm para além da área deteriorada” no caso especifico de frutos contaminados com micotoxinas, que apresentam formação de bolor azul.
Debater estas questões e apresentar novos avanços na investigação sobre as micotoxinas é possível no Auditório 3 da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, no próximo dia 26 de novembro.