Newsletter 4 – Crónica Convidada
Acesso Livre à Literatura Científica: Como e Quando?
Aaron Swartz foi um brilhante programador que se suicidou no início do ano, quando pairava sobre ele uma pesada acusação por ter violado uma base de dados disponibilizada pelo MIT. Estabelecer um nexo causal entre a acusação e este fim trágico seria abusivo, mas é inútil fazer de Swartz um mártir pela forma como morreu, se podemos recordá-lo pelo modo como se empenhou no livre acesso à informação.
Mesmo os mais avessos ao radicalismo de um “Guerrilla Open Access Manifesto”, ou até a um simples boicote, dificilmente discordarão de que o atual modelo de negócio das editoras que controlam as revistas de acesso protegido é bizarro. Em regra, os manuscritos chegam-lhes sem que os procurem e são processados sem grande esforço, com a cumplicidade de uma comunidade científica que aceita rever de graça o trabalho dos colegas. Os grupos editoriais fazem-se depois pagar bem, pela publicação do artigo e pelo seu acesso, sem que os preços traduzam a diminuição do custo de produção decorrente da digitalização das revistas. Assim se perpetuam assimetrias no acesso à informação dentro da própria comunidade científica e o cidadão eventualmente interessado e capaz de aproveitar o conhecimento que os seus impostos financiaram terá de pagar uma segunda vez. Em 2011, este negócio deu ao gigante Elsevier cerca de 900 milhões de euros de lucro.
O que fazer? O auto-arquivo de uma cópia dos artigos das revistas em bases de acesso livre, tal o pagamento obrigatório de um custo extra a partir do dinheiro do projeto para que as revistas tradicionais dêem acesso livre aos artigos resultantes do projeto, são medidas que, pela ineficiência demonstrada ou clara cedência, protegem os interesses dos grupos editoriais. A esperança parece então depender do sucesso das recentes revistas digitais de acesso livre, ainda minoritárias. Porque se a popularidade do acesso livre assentou numa noção elementar de justiça que Swartz e outros pioneiros promoveram, a sua implementação passa por ter como aliado aquilo que mais pressiona a comunidade científica: a bibliometria. É, pois, muito promissora a conclusão empírica de que as revistas de acesso livre têm um impacto positivo no número de citações dos artigos que publicam. Só esse efeito será capaz de promover uma mudança gradual, mas irreversível. Ninguém sabe ao certo quanto tempo demorará, mas se poucos anos chegaram para que uma revista como a Cell escalasse o velho sistema, é bem possível que neste mundo tecnologicamente acelerado, ainda que não baste uma “academic spring”, uma revista de acesso livre consiga idêntica façanha em menos tempo. Nesse dia, teremos entrado num novo mundo, verdadeiramente admirável.