Cientistas e empresas portuguesas prontas para o maior telescópio do mundo
Em 1986 existiam em Portugal três astrónomos “certificados”. Em 1996 eram mais de 20. Quem o afirmou foi Teresa Lago, Delegada Nacional ao Conselho do ESO (European Southern Observatory), Investigadora no Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) e um desses três astrónomos. E a comunidade das ciências do espaço tem continuado a evoluir: hoje estão mais de 200 astrónomos e astrofísicos registados na Sociedade Portuguesa de Astronomia.
Esta evolução da área da astronomia em Portugal foi descrita na reunião de 3 de junho, promovida pelo Ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, para estimular a participação de astrónomos e da indústria nacional no mais recente projeto do ESO – o European Extremely Large Telescope (E-ELT) – a que Portugal aderiu em Maio. Na reunião esteve também o Diretor-Geral do ESO, Tim de Zeeuw, que apresentou aquele que será o maior telescópio óptico no mundo, quando estiver construído, perspetiva-se, em 2024. Localizado no Paranal, no deserto de Atacama no norte do Chile, o telescópio será do tamanho do Coliseu de Roma, e terá um espelho segmentado com 39 metros de diâmetro. O E-ELT permitirá localizar planetas extra-solares – planetas em órbita a outras estrelas – com massas tão pequenas quanto a da Terra (a partir da medição dos efeitos sobre as estrelas que orbitam), visualizar planetas maiores e, possivelmente, caracterizar as suas atmosferas. Os instrumentos do E-ELT permitirão aos astrónomos investigar o início da formação de sistemas planetários e responder a questões fundamentais sobre a formação e evolução de planetas.É precisamente esta fase que agora decorre: de preparação para a construção dos instrumentos e do próprio telescópio, nomeadamente da sua enorme cúpula. O ESO contrata, através de concursos públicos, a construção dos seus telescópios à comunidade científica e a empresas, principalmente dos estados membros, mas também de outras regiões do mundo. Desta forma, contribui para estimular o desenvolvimento de indústria de alta-tecnologia nos estados membros. Portugal tem beneficiado enormemente da sua adesão ao ESO em 2001 – algo várias vezes reiterado na reunião de 3 de junho. A comunidade científica tem tido acesso aos melhores telescópios do mundo, e à participação em projetos multinacionais de grande impacto, o que tem contribuído para o crescimento – em quantidade e competitividade internacional – da astronomia. Também as empresas portuguesas têm colhido benefícios da participação de Portugal no ESO: desde 2005 foram estabelecidos 49 contratos (e sub-contratos), num valor de aproximadamente 4 milhões de euros. Algumas das empresas que têm assegurado contratos estiveram na reunião promovida pelo Ministro: ISQ (controlo de qualidade), Critical Software, Active Space Technologies (instrumentação), Solidal (cabos eléctricos).
Existem já vários projetos com participação portuguesa no telescópio Very Large Telescope (VLT), em funcionamento há 15 anos, a poucos quilómetros de onde será construído o E-ELT. Um exemplo destes é o ESPRESSO, que conta com a participação do CAUP e do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa, um instrumento que permitirá medir variações na velocidade radial das estrelas causadas pela presença de planetas semelhantes à Terra em seu redor. Agora, a adesão de Portugal ao E-ELT, numa fase muito precoce do projeto, é vista como extremamente positiva, por investigadores, empresas e pelo Ministro, Nuno Crato, pelo impulso que dará à astronomia, à ligação a outras áreas da ciência e da tecnologia, e à indústria de alta tecnologia nacional.