Projeto otimiza plástico biodegradável para a agricultura
E se fosse possível utilizar na agricultura um plástico que simplesmente “desaparecesse”? O Agrobiofilm poderá tornar este cenário possível. É a nova geração de plástico biodegradável para agricultura. Produzido a partir de matérias-primas orgânicas é amigo do ambiente e uma alternativa comercialmente viável ao tradicional polietileno.
Optimizar o desempenho, a aplicação e o comportamento biodegradável deste filme foi o desafio proposto pelo consórcio internacional, multidisciplinar do projeto Agrobiofilm, financiado no âmbito do 7º Programa – Quadro da União Europeia.
Ao envolver competências da academia, da indústria e da agricultura, o projeto criou um micro-universo propício à inovação. A Silvex lidera o consórcio que conta, ainda, com mais duas empresas, uma das quais detentora da patente Mater-BI®, base do composto do bioplástico, quatro centros de investigação e três utilizadores, de Portugal, Noruega, França, Espanha e Dinamarca.
“Enorme” e “ambicioso” são os adjetivos aplicados por Elizabeth Duarte, coordenadora da equipa do Instituto Superior de Agronomia (ISA) que integrou o consórcio, a este “desafio” e a este “projeto”, respectivamente. De facto, reduzir o custo e manter a performance do filme envolve a monitorização e análise de um número elevado de parâmetros ao nível das condições climáticas, do solo e do próprio plástico. Sem esquecer, claro, o contexto: “o maior desafio é “montar” a experimentação no campo (…), um agricultor não quer comprometer a sua produtividade, nem em quantidade nem em qualidade”.
Ao longo de três anos de projeto foram testados um total de 42 filmes biodegradáveis, de várias cores: branco, preto, prata e verde, aplicados com os mesmos equipamentos usados para o plástico convencional. Em Portugal, foram testados em culturas de ciclo curto e de ciclo longo, ao ar livre. Na primeira categoria foram escolhidos o melão e o pimento, na segunda, o morango. Em Espanha foram igualmente testados numa cultura de ciclo longo, os morangos, mas em estufa. França experimentou o bioplástico como incubador de vinha, na fase inicial; o resultado foi a antecipação da produção de vinho em um ano.
Em todas as culturas o desempenho dos plásticos biodegradáveis foi “sempre comparado com o plástico convencional e com os NF, a geração anterior de biodegradável que se distingue do atual CF por ter menor quantidade de material biodegradável na matriz”, quer em termos de produtividade, quer em termos de biodegradabilidade.
Os resultados deste projeto de três anos, recentemente divulgados, são encorajadores. O Agrobiofilm revelou-se um substituto viável do polietileno ao manter-se em boas condições ao longo dos ciclos de cultura, não tendo sido necessário alterar as práticas agrícolas nem os equipamentos em nenhum caso.
O projeto conduziu, ainda, ao desenvolvimento de um filme adequado para cada cultura estudada, com espessura diferenciada, o que permite reduzir o custo. Relata Elizabeth Duarte “o custo do filme está relacionado com a espessura. Conseguimos, em alguns casos, reduzir a espessura sem perder as propriedades e sem comprometer a produtividade e a qualidade”.
Não obstante as inúmeras vantagens da aplicação deste plástico biodegradável de nova geração, em Portugal praticamente não é usado. A coordenadora da equipa do ISA considera que o maior obstáculo à comercialização é “o preço”. Mas garante que se o agricultor equacionar o valor que despende para retirar e transportar os plásticos convencionais para aterro “a discrepância entre o custo de ambos os materiais é praticamente inexistente”. Ao contrário, os ganhos são muitos, para o ambiente, para a produção, para a economia.