
Novo projeto refina dados de perigosidade sísmica em Portugal
“Os sismos são intrinsecamente imprevisíveis”, afirma João Duarte Fonseca do Instituto Superior Técnico (IST), coordenador da equipa que pretende produzir, nos próximos três anos, um novo mapa de perigosidade sísmica para Portugal. O projeto SEICHE, financiado no âmbito do concurso nacional para projetos de investigação 2012, na tipologia “ linhas de investigação de excelência”, criará condições para a sua concretização.
A incerteza associada à ocorrência de sismos impõe, antes de mais, investir na prevenção. A minimização dos riscos está, em primeira instância, nas mãos duma acurada definição científica de zonas com diferentes níveis de perigo. Este zonamento da perigosidade sísmica serve de base à tomada de decisões relativamente à qualidade da construção e definição da localização não só de edifícios, mas também de barragens, pontes, viadutos, centrais nucleares e de todas as estruturas potencialmente vulneráveis.
![[FOTO] Equipa do Instituto Superior Técnico](https://arquivo.pt/wayback/20200714115655im_/http://newsletter.fct.pt/wp-content/uploads/2013/04/Sismos_equipa.jpg)
Equipa do SEICHE: Sandra Heleno (IST), João Fonseca (IST), Carolina Catalan (IST) e Susana Custódio (Instituto Dom Luiz)
Conduzida no Laboratório de Sismologia do IST, a investigação envolve a recolha massiva de dados para uma análise probabilística robusta, facilitadora da extrapolação para o futuro, através duma abordagem multidisciplinar que permite recuar até 100 000 anos na história geológica de um dado local.
Recorre, para isso, a documentos históricos, com relatos e descrições dos maiores sismos ocorridos em determinada região e, para eventos mais recentes, aos catálogos sísmicos obtidos a partir de registos instrumentais, com início na década de 1940. Os dados obtidos a partir destas fontes nem sempre são exaustivos, verificando-se algumas lacunas de informação e imprecisões relativamente à dimensão e localização dos eventos.
![[FOTO] Equipa sismos no terreno](https://arquivo.pt/wayback/20200714115655im_/http://newsletter.fct.pt/wp-content/uploads/2013/04/sismostrincheiras.jpg)
Escavação para procura de indicíos de sismos do passado
Paralelamente, modelos digitais do solo e imagens aéreas apoiam a identificação de formas anómalas no terreno que podem indiciar deformações sísmicas, por exemplo, alterações subtis nos cursos de água.
![[IMAGEM] Fig. 1 - Sismos, Mapa de Portugal](https://arquivo.pt/wayback/20200714115655im_/http://newsletter.fct.pt/wp-content/uploads/2013/04/sismos_fig1.jpg)
Fig. 1- Mapa de zonamento sismico para Portugal (Documento Nacional de Aplicação do Eurocódigo 8). Fonte: João Duarte Fonseca
Para além disto, a comparação entre o novo mapa de perigosidade sísmica para a Europa, resultado do projeto europeu SHARE (Fig. 2), e o mapa correspondente em vigor em Portugal (Fig.1), documenta “a necessidade de aprofundar a investigação nesta área”, alerta o coordenador do SEICHE.
![Fig. 2 - Sismos, Mapa da Europa [IMAGEM] Fig. 2 - Sismos, Mapa da Europa](https://arquivo.pt/wayback/20200714115655im_/http://newsletter.fct.pt/wp-content/uploads/2013/04/sismos_fig2.jpg)
Fig. 2 -Valores de aceleração espectral de vibração do solo (período de 1 segundo) com a probabilidade de 10% de serem excedidos num intervalo de tempo de 50 anos. Imagem © Projecto SHARE
Atualmente em fase de arranque, o SEICHE é um dos 30 projetos “em linhas de investigação de excelência” financiados no concurso 2012, nesta nova tipologia. Referindo-se a este apoio, o investigador salienta a sua “relevância para a estabilidade e continuidade” desta linha de investigação e congratula-se com “o reconhecimento da pertinência da investigação que se faz em função da sociedade”. Estão materializados num só projeto dois pilares do Horizonte 2020: excelência e desafios societais.