Uma visita aos bastidores do Teatro São Luiz no momento em que comemora 125 anos

PORTFÓLIO
Paula Ferreira

Fotografia

CULTURA

Santa Maria Maior

20 Maio, 2019


A história de cada edifício, de cada casa, acaba por criar como que uma cosmogonia do lugar, justificando regras muito próprias. Ao ponto de quase subverter os significados. Não deixa de ser curioso que no Teatro São Luiz se tenha desenvolvido uma especial afeição por uma palavra que, nos dias correntes, e com fundadas razões, é encarada como uma espécie de maldição para cada imóvel. São Amianto orbita junto à caixa do palco da sala de espectáculos situada na zona do Chiado. A imagem em madeira de um bispo, adereço de uma peça teatral, terá sido a única a sobreviver ao terrível incêndio que a 14 de Setembro de 1914 praticamente reduziu a escombros o então Teatro República. Sorte que lhe conferiu o estatuto de amuleto desde essa época, derivando o nome da elevada resistência térmica daquele material. Na verdade, esse é apenas um detalhe de uma história muito rica – e até convirá mantê-lo longe da vista, por superstição.

Comemoram-se a 22 de Maio próximo os 125 anos da inauguração do então chamado Theatro D. Amélia. Nessa data, em 1894, abria portas na antiga rua do Tesouro Velho - desde 1907 denominada António Maria Cardoso –, e em terrenos propriedade da Casa de Bragança, o resultado do desejo expresso, dois anos antes, pelo actor Guilherme da Silveira. O aspecto final do edifício era o resultado da adaptação que Emílio Rossi fizera, no local, do modelo do arquitecto francês Louis-Ernest Reynaud. A sala de espectáculos lisboeta levava a cena a opereta "A Filha do Tambor-Mor", de Jacques Offenbach (1819-1880). A mesma que voltará, em dia de aniversário e até 26 de Maio, a estar em cena, desta vez com direcção musical de Cesário Costa e encenação de António Pires. Um retorno que é apenas uma parte do programa das comemorações a acontecerem este ano.

Entre elas está também a peça “XTRÒRDINÁRIO”, levada a palco pelo Teatro Praga, entre 10 e 18 de Maio. Foi durante os ensaios desta que a fotógrafa Paula Ferreira teve permissão para, por momentos, penetrar nos meandros de uma das mais emblemáticas salas de espectáculos de Lisboa e do país e registar para O Corvo o que a sua lente captou. São instantes na vida de uma casa que, sendo vocacionada para a representação teatral, foi a segunda em Portugal a exibir imagens em movimento, depois do Real Coliseu, logo em 1896. Entre eles contava-se aquela que se supõe ser a primeira imagem portuguesa registada em filme — A Boca do Inferno em Cascais, de Erwin Rousby.

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