Medina quer Linha de Cintura como “quinta linha do metro” e nova estação de comboios no Hub Criativo do Beato
A Câmara Municipal de Lisboa (CML) está a pressionar a administração central para que a Linha de Cintura seja sujeita a beneficiações e passe a funcionar como um transporte ferroviário urbano de grande volume e credível nas ligações à zona oriental da capital, ao ponto de poder ser encarada como a “quinta linha do metro”. O desejo, que nem é novo, volta agora a ser referido por Fernando Medina (PS), para quem a entrada em vigor dos novos passes unificados para os transportes públicos da cidade e da área metropolitana, em Abril, representa uma excelente oportunidade para “dar sentido” a esse projecto. Para que tal aconteça, será importante reactivar e colocar ao serviço da população apeadeiros há muito desqualificados, defendeu o presidente da autarquia, na noite de quarta-feira (6 de Março), durante a reunião descentralizada da vereação destinada a ouvir os munícipes das freguesias de Beato e Marvila, realizada no Teatro Ibérico. Momento em que se ficou a saber que a CML está em conversações com a Infraestruturas de Portugal (IP) não só para a requalificação do apeadeiro de Marvila, mas também da criação de uma nova estação ferroviária junto ao Hub Criativo do Beato.
A novidade foi avançada por Miguel Gaspar, vereador da Mobilidade, ao responder ao apelo de um morador do Beato para que se melhorassem as ligações ferroviárias para aquela zona da cidade, como forma de combater os crónicos problema de mobilidade na freguesia. Reiterando o que já dissera a O Corvo, há quase um ano, o vereador informou que a Câmara de Lisboa vê com bons olhos que “o comboio possa funcionar como o metro, dentro da cidade de Lisboa”. E explicou: “As pessoas têm o mapa mental do Metro, mas o do comboio não o têm muito claro. Quem está em Sete Rios e quer ir para a Expo raramente olha para cima e se lembra do comboio. Temos defendido junto da Infraestruturas de Portugal o reforço desta realidade e a própria IP tem-se mostrado sensível a este tema”. Miguel Gaspar revelou que, no caso concreto das duas freguesias, as negociações entre a autarquia e o organismo estatal se têm focado em “duas estações” em particular: o existente apeadeiro de Marvila, integrado na Linha de Cintura, e uma nova estação, a criar junto à futura ala Norte do Hub Criativo do Beato, utilizando o espaço de antigos armazéns militares situados mesmo ao lado da Linha do Norte.
O vereador da Mobilidade explica que está a ser estudada, em conjunto com a IP, a possibilidade de conversão “numa estação com serviço ferroviário” dessas velhas instalações, integradas no complexo da antiga Manutenção Militar e situadas ao lado da linha de caminho-de-ferro, no troço entre Santa Apolónia e Oriente. A confirmar-se a criação dessa infraestrutura, conseguir-se-ia assim assegurar uma ligação de transporte público de grande capacidade numa zona da cidade em acelerada transformação e para onde estão projectados investimentos imobiliários e empresariais de vulto. Ao mesmo tempo, a Câmara de Lisboa encontra-se também a negociar com o Estado a forma de melhor poder aproveitar o potencial do apeadeiro de Marvila, como pólo agregador dos transportes públicos naquela freguesia, apesar de o autarca admitir que aquela “é uma zona difícil, com elevados declives, em particular na direcção do rio”.
O apeadeiro de Marvila encontrava-se bastante degradado até ao verão passado – altura em que foi sujeito a uma intervenção de reabilitação, incluindo a reposição dos bancos, vedações e recipientes de depósito de resíduos e a melhoria da iluminação geral – e é hoje usado apenas pelos comboios suburbanos CP da Linha da Azambuja, permitindo o acesso a estações como Oriente, Roma-Areeiro, Entrecampos e Alcântara. Mas, de acordo com o vereador da Mobilidade, poderá vir a ganhar um novo estatuto. “São coisas que estão em estudo, tem havido receptividade do lado da IP”, assegura Miguel Gaspar, referindo-se às pretensões da câmara relativas a Marvila e ao Beato.
O dinamismo trazido pelo Hub Criativo justificará a criação da estação, considera a Câmara de Lisboa
A utilização da Linha de Cintura como “quinta linha de metro” começou a ser defendida publicamente por Gaspar, há cerca de um ano, tendo o vereador, na altura, em declarações a O Corvo, referido que esse cenário deveria ser fomentado não só através de uma campanha de comunicação como também uma “harmonização do tarifário” dessa linha como o do Metro. Nesse momento, porém, não eram conhecidas ainda as profundas alterações no sistema de bilhética e passes de transportes públicos de Lisboa e da área metropolitana, que entrarão em vigor em Abril próximo – o passe para a cidade custará 30 euros e o passe válido para todo o sistema de transportes colectivos da metrópole será de 40 euros por pessoa (80 euros no máximo por agregado familiar). Ou seja, a desejada harmonização tarifária entre metro e CP será um realidade dentro de semanas. Referindo-se às mudanças que aí vêm no sistema de passes, Fernando Medina disse na reunião de quarta-feira que será “isto que vai traduzir e dar sentido a termos a ferrovia como a quinta linha de metro na cidade de Lisboa”. Para que tal aconteça, salientou, será importante “a abertura dos apeadeiros que não estão accionados e pô-los ao serviço das populações”.
Ouvindo tais promessas, no final da reunião, o vereador comunista João Ferreira manifestou agrado com as mesmas, embora frisasse que o PCP denunciou, na devida altura, como sendo um erro o encerramento do apeadeiro de Chelas – algo que aconteceu em Junho de 2015. “Era bom começar a reverter decisões deste tipo”, advogou. Uma ideia coincidente, aliás, com a opinião do munícipe Nuno Santos, a qual originou as intervenções de Miguel Gaspar e Fernando Medina sobre o assunto. “Seria muito útil, se calhar, reactivar o apeadeiro de Chelas, talvez um pouco mais atrás, fazendo uma ligação à estação de metro das Olaias e criando aí um interface rodoviário e ferroviário”, sugeriu, após criticar as grandes debilidade da oferta de transportes públicos naquela zona da cidade. “Somos atravessados por caminho-de-ferro por todo o lado e, no entanto, não existe uma estação no Beato. O apeadeiro de Chelas foi desactivado e no apeadeiro de Marvila praticamente não param comboios”, disse.
Em Maio do ano passado, foi adjudicada uma intervenção de requalificação de 3,9 milhões de euros da Linha de Cintura, no troço entre Chelas e Braço de Prata, com a substituição integral das velhas travessas de madeira por travessas de betão, mas também dos carris. Na mesma empreitada, estavam previstas, entre outras coisas, a beneficiação do sistema de drenagem em toda a extensão do troço e dos atravessamentos de nível nos apeadeiros de Marvila e de Chelas, bem como a rectificação do traçado da via, incluindo na inserção da Concordância de Xabregas – nome dado ao troço que assegura a ligação de Santa Apolónia à Linha de Cintura.