Livraria Municipal de Lisboa vai fechar portas em breve

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Fernanda Ribeiro

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CULTURA

Avenidas Novas

22 Janeiro, 2016


Ironia das ironias, a Livraria Municipal de Lisboa, instalada, em 1991, na Avenida da República, por João Soares, quando era vereador da Cultura, fecha portas agora que o ex-autarca é ministro da Cultura. Oficialmente, a Câmara diz apenas que “o futuro da Livraria Municipal está em estudo”. Mas, ao que O Corvo apurou, a decisão de encerramento está tomada. Para onde irão as centenas de publicações municipais sobre a história de Lisboa é algo que a câmara não revela. E os funcionários estão impedidos de falar.

A decisão está tomada e a Livraria Municipal, instalada na Avenida da República pelo actual ministro da Cultura, João Soares, quando em 1991 era vereador com esse pelouro na Câmara Municipal de Lisboa, vai fechar as portas em breve, soube O Corvo.

A notícia não suscitou, porém, nenhum comentário de João Soares. Contactado pelo Corvo, o ministro da Cultura optou por não se pronunciar relativamente ao fecho da Livraria Municipal, que criou, alegando que esta se encontra sob a tutela da autarquia. O seu futuro não depende do governo, de acordo com o seu assessor, Horácio César.

Já os clientes lamentam que tal aconteça e sugerem alternativas.“É mais uma coisa que se perde em relação ao estudo de Lisboa”, diz Mário Martins, 42 anos, a propósito da intenção de encerramento da Livraria Municipal, da qual é cliente há já 20 anos e onde consulta livros sobre a história da cidade, a sua toponímia e também livros de fotografia, um dos seus hobbies.

“Aqui, encontra-se muita coisa interessante e há mesmo publicações que já são raras. É o caso do Lisboa de Lés a Lés, de Luís Pastor de Macedo, ou de Lisboa Antiga, de Júlio Castilho”, salienta ao Corvo este frequentador assíduo da Livraria Municipal, que se queixa apenas de haver cada vez menos edições da Câmara.

“Houve muitas publicações municipais editadas quando se realizou a Lisboa-94 e depois, também, por altura da Expo 98. Fizeram-se coisas muito boas. Mas, agora, as edições rareiam, o que é pena. A fechar esta livraria, o que se edita com o prelo da câmara vai ser ainda mais difícil de encontrar. Só mesmo nos alfarrabistas”, acrescenta.

No entender de Mário Martins, a Câmara devia considerar a transferência da Livraria Municipal para outro local, tendo em conta que a autarquia pretende vender o edifício da Avenida da República – que foi colocado em hasta pública em 2014 e em 2015, mas que não chegou a ser alienado pelo município, por falta de comprador.

“A livraria poderia transitar para outro sítio, como o edifício da Câmara no Campo Grande, onde estão os serviços e têm bastante espaço ”, sugere.

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Na visita do Corvo à Livraria Municipal, foi impossível obter declarações dos funcionários que ali trabalham. “Só podemos falar com autorização do gabinete da vereadora da Cultura”, dizem. Mas o gabinete de Catarina Vaz Pinto, contactado pelo Corvo, nunca deu a autorização requerida. “Estando neste momento o futuro da Livraria Municipal em fase de estudo, não nos parece oportuno falar com os funcionários”, respondeu, via email, ao fim de mais de uma semana de contactos.

Criada ainda no tempo de Nuno Abecasis como presidente da câmara, a Livraria Municipal esteve inicialmente instalada nas Escadinhas de São Francisco, num imóvel que acabaria por ser cedido à pastelaria Ferrari na sequência do incêndio do Chiado, em 1988. Esteve então sem funcionar até 1991, quando, por decisão de João Soares – então vereador com o pelouro da Cultura na câmara presidida por Jorge Sampaio – foi instalada no edifício da Avenida da República.

Para onde irão agora os milhares de títulos que ali se encontram é a questão a que a Câmara Municipal de Lisboa não responde.

A publicação “Oito séculos de História”, com ilustrações de Almada Negreiros, “O Beau Séjour”, “A Igreja dos Paulistas”, “O Mosteiro de São Vicente de Fora”, “A Cor de Lisboa”, “Cemitérios de Lisboa”, “Estudos Olisiponenses” , ou ainda os pequenos livros da colecção “Lisboa Porta a Porta” são apenas exemplos das centenas de títulos que se podem ver, percorrendo as prateleiras da livraria que, pelo menos até ao fim de Janeiro, se deverá manter aberta ao público, na Avenida da República, 21-A.

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