Achados arqueológicos no Carmo mudam projecto de Siza Vieira

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Samuel Alemão

Texto & Fotografias

URBANISMO

Santa Maria Maior

4 Fevereiro, 2014


Os trabalhos de arqueologia associados ao projecto do arquitecto Siza Vieira para a requalificação das imediações do Convento do Carmo desenterraram muitos vestígios. De antes e de depois do terramoto de 1755. Alguns deles revelaram-se tão interessantes que serão integrados na configuração final dos chamados Terraços do Carmo, que ligarão o Chiado ao Largo do Carmo e acabam por funcionar como a derradeira etapa do processo de reabilitação da área afectada pelo incêndio do Chiado, ocorrido em 25 de Agosto de 1988. As escavações arqueológicas, iniciadas em Julho passado, encontram-se suspensas, devido à muita chuva que tem caído nas últimas semanas. Ao mesmo tempo, o projecto de Siza está a sofrer ajustes para comportar algumas das estruturas encontradas.

Nota Redactorial: Texto corrigido e actualizado às 16h45, de 4 de Fevereiro

Entre os achados encontram-se três ossários de grande dimensão, cuja data estará ainda a ser averiguada. Foi também descoberto igual número de enterramentos, dentro dos quais estavam artefactos diversos. Cerâmica, metais, vidros, azulejos ou moedas, entre outras, com cronologias entre os séculos XIV e XX, foram desenterrados dos terrenos situados junto às fundações das traseiras do Convento do Carmo. Nessa zona, foi também revelado o que resta de um antigo tanque que assegurava a existência de uma linha de água.

Nestas escavações, conduzidas pelo Centro de Arqueologia de Lisboa (CAL) da Câmara Municipal de Lisboa (CML), desde 2008, e em parceria com a empresa Neoépica, desde o ano passado, foram também descobertas pedras de diversas construções e ainda elementos das bicas de dois fontanários.

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Parte dessas estruturas será agora integrada no espaço público a construir segundo o projecto concebido por Álvaro Siza Vieira – o qual se integra no Plano de Pormenor da Recuperação da Zona Sinistrada do Chiado, por si elaborado. “Alguma destas descobertas levarão à realização de adaptações ao projecto original, que viu alguma riqueza ser-lhe acrescentada”, explica o arquitecto Carlos Castanheira, que coadjuva Siza Vieira neste projecto. Os trabalhos de arqueologia, normais em obras decorridas em zonas históricas, desenterraram a cabeceira da Igreja do Carmo. “Fico impressionado com a qualidade das fundações da igreja”, diz Carlos Castanheira, salientando esse facto como a provável causa de o templo ter sobrevivido ao impacto do terramoto.

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Os Terraços do Carmo garantirão a ligação pedonal entre o denominado Pátio B do Chiado e o Largo do Carmo, circundando as ruínas do convento e o elevador de Santa Justa. Quando abrirem, assegurarão não apenas uma nova acessibilidade nesta zona, como criarão uma inédita área de observação da cidade a partir do coração da Baixa, sobranceira à Rua do Carmo. Para a obra avançar – planeada em 2006 e a realizar com verbas resultantes das contrapartidas da exploração do Casino de Lisboa –  foi necessário demolir uma série de construções pouco qualificadas usadas, durante décadas, como alojamentos privativos de elementos instalados no quartel da Guarda Nacional Republicana.

A conclusão da construção dos Terraços do Carmo estava prevista, quando os trabalhos se iniciaram, para “o início de 2014”, mas tal meta já não será atingida. O mais provável será lá para o meio deste ano. O Corvo tentou obter mais informações sobre o projecto, junto da Câmara Municipal de Lisboa e da empresa Neoépica. Sem sucesso, todavia.

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