É oficial: antigo Cinema Paris vai mesmo ser demolido e dar lugar a novo edifício

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Samuel Alemão

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URBANISMO

Estrela

15 Junho, 2018


O antigo Cinema Paris vai mesmo ser demolido para dar lugar a um novo empreendimento imobiliário. As dúvidas sobre o futuro do velho imóvel ainda persistiam, ante o arrastar do processo, nos últimos anos. Mas foram dissipadas pelo vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, na semana passada,  durante a última reunião descentralizada da vereação, em resposta às dúvidas de uma munícipe. O autarca revelou que os serviços da Câmara Municipal de Lisboa (CML) se encontram a apreciar o projecto de construção de um novo edifício naquele local, depois de um outro ter conhecido um parecer negativo por parte da Direcção Geral do Património Cultural (DGPC). Em todo o caso, garante Salgado, o destino da antiga sala de espectáculos passa mesmo pela demolição, pois, considera, “do ponto de vista arquitectónico não é propriamente um edifício com grande valor”.

O Cinema Paris, situado na Rua Domingos Sequeira, entre a Basílica da Estrela e Campo de Ourique, abriu em 1931, resultado do traço do arquitecto Victor Manuel Carvalho Piloto, que nele optou por aplicar um desenho simples mas influenciado por elementos Art Déco. A sala de bairro tinha 885 lugares divididos entre plateia, balcão e camarotes e manteve-se em actividade regular até à transição entre as décadas de 70 e 80. Depois disso, tanto a indefinição quanto ao futuro do imóvel como a sua degradação têm-se mantido constantes. Tanto que, já em 2003, a Câmara de Lisboa havia autorizado a demolição, tendo como base uma vistoria feita no ano anterior e que concluíra pela existência de “perigo de aluimento de tectos e desagregação de fachadas”. Só a contestação a tal desfecho por um grupo de cidadãos levou a que o mesmo fosse suspenso.

Passada uma década, e sem que nada tivesse sido feito pelo então proprietário para preservar o imóvel, chegou a falar-se, em Janeiro de 2015, da possibilidade de a CML tomar posse administrativa do mesmo. Naquela altura, a autarquia admitia esse cenário, após o dono do imóvel – que se encontra listado no Inventário do Património Municipal – ter falhado todos os apelos para a realização das obras de reabilitação, consideradas imprescindíveis, na sequência de vistorias realizadas em 2013 e 2014. Mas, no final do mesmo ano de 2015, a câmara admitia já como muito provável um cenário de demolição. A acelerada degradação do edifício havia levado à tomada de medidas cautelares, com a colocação de resguardos metálicos em seu redor, por se temer pela segurança dos passantes. Ao mesmo tempo, dessa forma impedia-se também o propagar da insalubridade, pois o imóvel estaria a ser frequentado por toxicodependentes.

Por tudo isso, nos últimos anos, tanto a CML como a Junta de Freguesia da Estrela assumiram que a batalha pela preservação da histórica sala de cinema estava perdida. Tanto que, no final de 2016, a câmara falava já no projecto de criação de uma unidade de execução – através da qual se previa o surgimento de um novo empreendimento imobiliário – para a área composta pelo decrépito edifício bem como, nas suas traseiras, pelos terrenos das antigas instalações da Guarda Nacional Republicana (GNR) e de uma antiga fábrica de chocolates. “O edifício encontra-se num estado de degradação muito avançado, não justificando, neste momento, um investimento para repor o cinema”, dizia Manuel Salgado, há pouco mais de ano e meio, numa sessão da Assembleia Municipal de Lisboa. Nesse momento, o vereador esclareceu que a referida unidade de execução urbanística a surgir a partir da junção de três propriedades (cinema, antiga fábrica de chocolates e quartel da GNR) previa uma passagem pedonal, ligando a Rua Domingos Sequeira às ruas Saraiva de Carvalho e da Estrela.

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Uma "chaga" de décadas, entre a Estrela e Campo de Ourique, com os dias contados

Agora, e com o edifício ainda mais degradado, o vereador confirmou, na tal reunião descentralizada da semana passada, o mais que certo destino da antiga sala de espectáculos. “O Cinema Paris é uma chaga já há décadas”, disse Manuel Salgado, antes de rememorar o tortuoso processo a que o mesmo tem sido sujeito – e que incluiu frustradas tentativas de compra e de venda, no final dos anos 90 e princípio da década seguinte, e diversas intimações do proprietário para fazer obras. Salgado informou que, em Agosto de 2017, os serviços de urbanismo receberam um pedido de informação prévia (PIP) com uma proposta para a demolição do cinema e a construção de um edifício naquele local. Processo que teve parecer desfavorável da DGPC. Por isso, nova proposta foi entregue no passado dia 18 de Maio, estando agora a iniciar-se a apreciação da mesma.

O referido projecto, disse Manuel Salgado, deverá “arranjar uma solução para aquele local, pela demolição daquele edifício e a construção de um novo”. O vereador justificou tal decisão com o facto de, disse, “o valor patrimonial que o edifício tinha era sobretudo uma pintura no interior, uma vez que, do ponto de vista arquitectónico, não é propriamente um edifício com grande valor”. E mesmo que se quisesse recuperá-lo, explica o autarca, já não valeria a pena tal esforço, porque “já está tudo danificado e chegou-se a um ponto de tal degradação, que já não é viável a recuperação daquele imóvel para a função de cinema ou cineteatro”.

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