Igreja do Loreto, no Chiado, ficou com a fachada queimada por acto de vandalismo

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Samuel Alemão

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Santa Maria Maior

24 Novembro, 2017

A fachada da Igreja de Nossa Senhora do Loreto, no Chiado, também conhecida como a Igreja dos Italianos, sofreu um grave acto de vandalismo, no passado fim-de-semana, que a deixou queimada numa área considerável. Os danos visíveis no lado direito sobre a escadaria, onde a pedra ficou muito enegrecida, resultaram de uma combustão junto a uma estrutura de andaime utilizada como apoio aos trabalhos de reabilitação a decorrer no interior do templo. O fogo terá sido ateado deliberadamente, com recurso a um líquido combustível altamente inflamável, às 4 horas da madrugada de domingo (19 de novembro), por alguém ou grupo de indivíduos que, suspeita-se, terá realizado actos idênticos naquela zona da cidade, um dos quais na Rua António Maria Cardoso. Vários caixotes do lixo terão sido queimados na noite de sábado para domingo. O caso está a ser investigado pelas autoridades policiais.

A intervenção de reabilitação daquela parte da fachada da Igreja do Loreto acontece no mesmo momento em que se encontram perto do fim os trabalhos de restauro do interior do templo, culminando uma obra de requalificação iniciada há sete meses. A igreja foi mandado erguer em 1518, para servir a então crescente comunidade italiana de Lisboa, e inaugurada quatro anos depois. O edifício original foi destruído pelas chamas de um incêndio resultante do grande terramoto de 1755, tendo acabado por ser reconstruído três décadas depois. Na semana passada, uma fonte da paróquia lembrava a O Corvo o “esforço financeiro muito grande” relacionado com a operação de reabilitação patrimonial realizada nos últimos meses. A última intervenção de fundo ocorrera no início do século XIX.

Igreja do Loreto, no Chiado, ficou com a fachada queimada por acto de vandalismo



O Corvo contactou o provedor da igreja, Giuseppe Maria Negri, que confirmou tratar-se de “fogo posto”, mas se escusou a alongar-se nos comentários ao incidente. “Lamentamos, como é óbvio. O caso está entregue às autoridades. Mas não podemos dizer mais nada”, afirmou. O Corvo pôde, no entanto, trocar algumas impressões, na tarde desta quinta-feira (23 de novembro), com um dos operários da empresa de construção civil encarregue dos trabalhos de restauro – que se encontram em fase de conclusão -, tendo o mesmo atestado existir uma forte convicção de que os danos terão sido resultado de um acto de vandalismo. Uma outra fonte da paróquia garante, todavia, que “os estragos não são assim tão graves, pois a pedra apenas ficou enegrecida pelo fumo e terá de ser limpa”. A mesma fonte salienta ainda o “esforço financeiro muito grande” que tem sido feito para levar por diante as obras em curso. A última intervenção de fundo no edifício – cujo interior é considerado território italiano – terá sido realizada há cerca de 200 anos.

Igreja do Loreto, no Chiado, ficou com a fachada queimada por acto de vandalismo

A Igreja de Nossa Senhora do Loreto foi mandada erguer em 1518, com a intenção de servir a numerosa comunidade italiana da capital portuguesa – tendo a devoção à Senhora do Loreto sido trazida para Lisboa no início do século XIII por mercadores genoveses e venezianos. A igreja abriu quatro anos depois, ficando o templo sob administração directa e protecção do Papa, agregada por isso à basílica de São João de Latrão (Sé de Roma). O terramoto de 1755 causou-lhes danos muito avultados, tendo a destruição sido causada não pelo abalo telúrico, mas sim pelas chamas de um dos muitos incêndios que se lhe sucederam. Apenas escapou a sacristia. O projecto de reconstrução da igreja foi entregue a Joaquim António dos Reis Zuzarte, mais tarde substituído por José da Costa e Silva. A obra ficou concluída em 1785. As escadarias existentes junto à porta principal, onde agora foi colocado o fogo, surgiram em 1860 no lugar do antigo adro.

O Corvo questionou a Direcção Geral do Património Cultural sobre este incidente, mas o organismo estatal garante que, até ao momento, não foi notificado sobre o mesmo. A igreja encontra-se na zona de protecção da baixa pombalina. O departamento de património da Câmara Municipal de Lisboa também ainda não havia sido informado sobre o caso.

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