As vicissitudes de ter um negócio na fronteira entre duas freguesias

ACTUALIDADE
Samuel Alemão

Texto

Paula Ferreira

Fotografia

VIDA NA CIDADE

Misericórdia
Santa Maria Maior

28 Abril, 2016

Quando decidiu avançar para a abertura do bar de cerveja que, há já algum tempo, idealizara com um amigo, Miguel Nozolino, 30 anos, sabia que teria muito trabalho pela frente. E alguns obstáculos burocráticos a contornar. Afinal, sabe que costuma ser assim. Mas não estava preparado para que o pedido de licenciamento da sua esplanada no topo da Calçada do Duque – situada no roteiro habitual dos turistas, liga o Largo Trindade Coelho ao Rossio, tendo o Castelo de São Jorge à vista – desse de caras com o que considera ser a “rigidez administrativa” da cidade. Mas a Junta de Freguesia de Santa Maria Maior diz que as regras são assim mesmo.

 

Apesar de o estabelecimento, o Duque Brew Pub, se situar na freguesia de Santa Maria Maior – nascida da agregação de 12 antigas freguesias, após a reforma administrativa de Lisboa, em 2013 -, ficou a saber que a junta não podia passar a respectiva licença da colocação da esplanada no espaço público. Porquê? Porque a escadaria que garante a passagem entre o Bairro Alto e a Baixa serve de fronteira com a freguesia da Misericórdia, também ela nascida da agregação de outras circunscrições administrativas. Além de o surpreender, tal informação fê-lo perder mais de um mês e meio em atribulações burocráticas só para colocar oito mesas num espaço de 11 metros quadrados.


“Ligaram-me da Junta de Santa Maria Maior a dizer que, como a esplanada estaria destacada em relação à fachada, já não podiam fazer nada. Tinha que pedir uma licença à Junta de Freguesia da Misericórdia”, explica o empresário. Mas nesta junta não lhe conseguiram resolver o problema porque, ao dar a morada do bar como pertencente à freguesia vizinha, o sistema informático bloqueava o procedimento. Teve, por isso, de se deslocar a dois balcões distintos da Câmara Municipal de Lisboa (CML), o que o deixou algo agastado. Sobretudo porque Miguel sabe que o licenciamento da ocupação do espaço público deixou de ser competência da CML e passou a ser das juntas. “Tudo isto foi uma perda de tempo”, diz, já com o problema resolvido.

 

Mas a Junta de Freguesia de Santa Maior considera que nada de estranho aconteceu. “O procedimento administrativo é objetivo: na Calçada do Duque, em área de jurisdição da Freguesia da Misericórdia onde se pretenda instalar uma esplanada destacada da fachada, e em que o estabelecimento de restauração a que servirá de apoio se situa no território da Freguesia de Santa Maria Maior, o pedido de autorização é submetido, nos termos da legislação em vigor, à Junta de Freguesia da Misericórdia. Ou seja, para este caso, se fosse submetido à Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, esta estaria a licenciar espaço público sobre o qual não tem competência”, diz ao Corvo, por escrito, Célia Mota, chefe de divisão de gestão territorial da junta.

 

Também o presidente da autarquia, Miguel Coelho (PS), desvaloriza as queixas do empresário. “Houve uma situação de divergência de um comerciante. Indeferimos-lhe parte das pretensões, pelo que achou que não seríamos competentes nesta matéria. Mas nós temos um acordo com a Junta da Misericórdia sobre estes assuntos de licenciamento do espaço público”, esclarece.

MAIS ACTUALIDADE

COMENTÁRIOS

O Corvo nasce da constatação de que cada vez se produz menos noticiário local. A crise da imprensa tem a ver com esse afastamento dos media relativamente às questões da cidadania quotidiana.

O Corvo pratica jornalismo independente e desvinculado de interesses particulares, sejam eles políticos, religiosos, comerciais ou de qualquer outro género.

Em paralelo, se as tecnologias cada vez mais o permitem, cada vez menos os cidadãos são chamados a pronunciar-se e a intervir na resolução dos problemas que enfrentam.

Gostaríamos de contar com a participação, o apoio e a crítica dos lisboetas que não se sentem indiferentes ao destino da sua cidade.

Samuel Alemão
s.alemao@ocorvo.pt
Director editorial e redacção

Daniel Toledo Monsonís
d.toledo@ocorvo.pt
Director executivo

Sofia Cristino
Redacção

Mário Cameira
Infografias & Fotografia

Paula Ferreira
Fotografía

Catarina Lente
Dep. gráfico & website

Lucas Muller
Redes e análises

ERC: 126586
(Entidade Reguladora Para a Comunicação Social)

O Corvinho do Sítio de Lisboa, Lda
NIF: 514555475
Rua do Loreto, 13, 1º Dto. Lisboa
infocorvo@gmail.com

Fala conosco!

Faça aqui a sua pesquisa

Send this to a friend