Com 270 cabines telefónicas, Lisboa ainda espera prometida rede wifi gratuita

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Samuel Alemão

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Paula Ferreira

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VIDA NA CIDADE

Cidade de Lisboa

25 Janeiro, 2016

Nova Iorque começou, este ano, a substituir as tradicionais cabines telefónicas por pontos de acesso wireless gratuito. Uma mudança ditada pela evolução tecnológica, mas que ainda deverá demorar algum tempo a acontecer na capital portuguesa. A Câmara de Lisboa tarda em implementar a concretização de dois projectos vencedores do Orçamento Participativo, um de 2012 e outro de 2013, para a criação de um sistema de pontos wifi grátis na cidade. A Meo, detentora do serviço universal de cabines telefónicas, diz que as 270 instaladas em Lisboa têm existência garantida até 2019. Depois, será feita uma avaliação da sua necessidade.

Ainda está por cumprir o que duas propostas vencedoras de edições sucessivas do Orçamento Participativo (OP) de Lisboa, em 2012-13 e 2013-14, prometiam: a criação de uma rede de pontos de acesso gratuito wireless espalhados pela cidade. Cada uma das ideias escolhidas pelos cidadãos teria direito a uma dotação financeira até 150 mil euros para a sua concretização, a qual iria permitir democratizar o acesso wireless num conjunto alargados de espaços públicos, tais como jardins, praças, miradouros, escolas, edifícios municipais ou paragens de autocarro. Projectos que estarão a cargo da Câmara Municipal de Lisboa, mas tardam em sair do papel.

A proposta apresentada no OP 2012-2013, designada de Lisboa wi fi, é descrita da seguinte forma: “Internet sem fios (wi fi) gratuito em espaços de lazer, nomeadamente espaços verdes, miradouros, praças, escolas e em edifícios municipais”. Já a proposta apresentada no OP 2012-2014, que foi a votos com o número 189 e era designada de Wifi de acesso público na cidade, propunha a realização de uma “parceria com os comerciantes para wifi pública – em espaços públicos sem comércio (ex: jardins, miradouros, paragens) via patrocínios – spots wifi nos mupis”.

Os projectos, que no conjunto não poderiam ultrapassar os 300 mil euros, continuam por passar à prática. O dinheiro está, portanto, por gastar, não tendo a Câmara Municipal de Lisboa (CML) ainda decidido como pô-los em prática. Ao consultar o sítio do OP onde se dá conta do ponto de situação dos diferentes projectos, as mensagens são quase idênticas. O projecto “Lisboa wi fi” “está a ser estudado o modelo de implementação e gestão da infraestrutura de rede”, enquanto na informação sobre o projecto “Wifi de acesso público na cidade” se diz que “está a ser estudo o modelo e infraestrutura de rede”.


Esta era exactamente a mesma informação que lá constava em Agosto de 2014, quando O Corvo escreveu sobre o assunto. Passado um ano e meio, ante a aparente ausência de novidades, as questões voltaram a ser colocadas. Mas, tal como dessa vez, voltaram a ficar sem resposta por parte da Câmara Municipal de Lisboa. Desconhece-se, por isso, o real estado da implementação do par de projectos vencedores de duas edições do OP.

A criação de uma rede citadina de wifi de acesso universal fará cada vez mais sentido, tendo em conta a inabalável evolução tecnológica que tem ditada a banalização dos dispositivos móveis com acesso à internet. A utilização de aplicações que permitem, entre outras coisas, a realização de chamadas gratuitas em smartphones, tablets e outros aparelhos veio tornar a cabine telefónica em algo prestes a ser relegado para o campo da obsolescência. Daí que a cidade de Nova Iorque tenha começado, nos primeiros dias de 2016, a proceder à gradual substituição de cabines telefónicas por pontos de acesso gratuito à rede wireless na via pública. A ideia é criar uma rede de hotspots por toda a cidade. Também a Bélgica começou, em Junho de 2015, a retirar todas as cabines telefónicas das ruas.

O Corvo perguntou, por isso, à Meo – atual prestadora do serviço universal de oferta de postos públicos que se iniciou em abril de 2014, através de um contrato celebrado com o Estado Português e cuja duração é de cinco anos – quais os seus planos neste campo. Fonte oficial da operadora confirmou que se tem “verificado uma tendência decrescente da utilização dos telefones públicos por parte da população, a nível nacional, desde a massificação da utilização dos telemóveis. E tudo indica que essa tendência se mantenha com a crescente utilização das novas tecnologias que vão sendo disponibilizadas à sociedade”.

A mesma fonte oficial da Meo informa que, “durante o período do contrato (até 2019), a oferta será realizada de acordo com as especificações nele previstas”. E acrescente: “na fase posterior, a mesma terá seguramente em conta a evolução tecnológica e dos hábitos de comunicações que forem sendo adquiridos pelos portugueses, salvaguardando sempre a existência de uma oferta universal acessível a todos e a todas as geografias do nosso país”. Ou seja, durante os próximos três anos, tudo ficará como está e Lisboa manterá as suas 270 cabines exploradas pela Meo.

Este número é a soma das 171 existentes em locais centrais, como por exemplo estações de metropolitano e hospitais, com as 99 existentes em diversos pontos da cidade, segundo o critério geográfico que dita “a instalação de um posto público nas freguesias com 1.000 habitantes e dois postos públicos nas freguesias com mais de 1.000 habitantes”. Como as cabines foram, naturalmente, instaladas antes da reforma administrativa de Lisboa – que ditou a redução de 53 para 24 do número de freguesia de Lisboa -, a distribuição, de acordo com esse critério geográfico, acaba por se revelar relativamente homogénea.

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