Lisboa de portas abertas
ACTUALIDADE
Rui Lagartinho
Texto
Luísa Ferreira
Matos Gameiro & Trienal de Arquitectura
Fotografias
URBANISMO
VIDA NA CIDADE
Cidade de Lisboa
30 Junho, 2016
Durante o próximo fim-de-semana (2 e 3 de julho), alguns dos espaços mais emblemáticos da cidade abrem as portas à curiosidade do público. Todas as actividades da Open House Lisboa, que pela primeira vez se realiza em julho, são de entrada livre. Ao contrário do que era costume, a maioria das visitas não necessita de marcação prévia. A entrada, nesses casos, é feita pela ordem de chegada.
É um evento que os lisboetas já puseram no calendário. Sobretudo aqueles que se deixam seduzir pela ideia de serem, durante um fim-de-semana, turistas na sua própria cidade. Uma atitude que agrada ao comissário da Open House, o arquitecto José Mateus. “Existe esse paradoxo que é o deixar que os nossos olhos procurem, por uma vez, o desconhecido e a surpresa que está, afinal, ao virar da esquina. A Open House dá-nos o tempo da descoberta”, diz.
Esta quinta edição do evento organizado pela Trienal de Arquitectura de Lisboa acontece pela primeira vez em Julho. Se, por um lado, se aposta em que não chova durante a Open House – e o desafio está ganho, o tempo vai estar bom -, por outro lado, houve uma razão prática para a mudança. “Setembro coincidiria, este ano, com o arranque das actividades da Trienal e não quisemos sobrepor os dois acontecimentos”, explica-nos o comissário.
São 73 espaços que estarão de portas abertas, muitos pela primeira vez. É o caso do primeiro e do último da lista, se nos ativermos ao critério do eixo Ocidente – Oriente, um dos roteiros propostos. Partindo do Farol do Bugio, com destino ao Aeroporto de Lisboa, há toda uma cidade que se encaixa. Estas são dois locais que, por compreensíveis razões de segurança e de logística, exigem que a visita se faça com marcação prévia.
“São algumas das sete excepções. A nossa aposta é que a Open House se faça de portas abertas e que os lisboetas tenham acesso às visitas por ordem de chegada. Com a experiência, percebemos que resulta melhor desta forma. As pessoas não desistem de sair de casa”, explica.
Casa em Alfama (Fotografia: Matos Gameiro Arq.)
Se, geograficamente, a diversidade da cidade está coberta, o mesmo acontece em termos de escala e de tempo histórico: os palácios misturam-se com casas muito mais modestas, os teatros sucedem-se aos museus, as visitas panorâmicas alternam com visitas aos bastidores, os ateliers de artista deixam espreitar o processo criativo.
Para que esta festa da arquitetura seja sentida e melhor explicada aos leigos, a organização mobilizou quase oitenta especialistas. Alguns são os autores dos próprios edifícios, outros dedicaram uma vida inteira à paixão por um tempo histórico, por um monumento.
Mantém-se, por outro lado, uma vontade de a Open House não ser um plasma de edifícios históricos dos quais sabemos o que esperar. Nesse sentido, será interessante conhecer por dentro o Hospital do Desterro, quando se perspectiva, para breve, a sua reabilitação e utilização futura, ou visitar um mais recente, mas já quase eterno elefante banco, o Pavilhão de Portugal da Expo 98.
Álvaro Siza, o autor deste pavilhão, estará à conversa no centro Ismaili. Irá explicar o seu novo projecto, um centro de acolhimento de visitantes no Alhambra de Granada. Nos últimos anos, sempre que o arquitecto fala, as multidões acotovelam-se para o ouvir.
Pavilhão Panóptico do Hospital Miguel Bombarda.
Numa altura em que o futebol europeu se mudou para França, por cá um habitualmente pouco calmo Estádio da Luz abre as suas portas para aos fãs do futebol e não só. “Esta vai, com certeza, ser uma das visitas aos bastidores mais concorridas. É que não se imagina o que há de específico e único sempre que se desenha um estádio de futebol”, entusiasma-nos o presidente da Open House.
Para os mais jovens, haverá um programa especial com uma dezena de iniciativas em actividades interactivas e de expressão artística preparadas pelos serviços educativos de alguns dos museus participantes. No ano passado, passaram pela Open House cerca de 16 mil pessoas. “O crescimento pelo crescimento não é o obectivo principal, é qualitativamente que queremos afirmar-nos”, reitera a organização. Mesmo assim, projecta-se um crescimento, com o número de participantes a poder chegar aos 18 mil.