Eles também são candidatos.

 

É um dos partidos “pequenos”, mas talvez um dos mais conhecidos pelas suas posições polémicas contra a emigração e a União Europeia. E, no caso de Lisboa, também contra as ciclovias e a mesquita que a Câmara Municipal de Lisboa planeia construir na Rua do Benformoso, na Mouraria. O Corvo acompanhou-os numa arruada, entre o Marquês e o Saldanha, sem surpresas nem sustos. Apenas alguns sorrisos, umas quantas negas e uma indiferença generalizada por parte das pessoas. Nacionalistas dizem ser contra o alojamento local e a venda de imobiliário a estrangeiros. E esperam, desta vez, eleger um deputado à assembleia municipal da capital.

 

Texto e fotografias: Margarita Cardoso de Meneses

 

 

Encontrámos um grupo de 9 ou 10 membros do Partido Nacional Renovador (PNR) no Marquês de Pombal, com as suas t-shirts e bandeiras. Junto a eles, uma equipa da RTP e alguns curiosos, que vão olhando e tentando perceber o que se passa e por que está ali a televisão. A ação prevista é uma arruada entre o Marquês de Pombal e o Saldanha. É segunda-feira (25 de setembro) à tarde, antes da hora de saída do trabalho, portanto, o movimento não é assinalável. As bandeiras vão ondulando ao vento, com o Marquês de Pombal em pano de fundo.

 

Este é um lugar simbólico para o PNR. É aqui, nesta praça do centro de Lisboa, que eles colocam habitualmente os seus polémicos cartazes contra a imigração. A primeira paragem faz-se numa barraquinha da Olá, onde a rapariga aceita o panfleto e agradece. A RTP faz a pergunta da praxe: “Vai votar?”. Com um sorriso envergonhado, ela responde que sim, mas que ainda não sabe em que partido. Rita Baldanta diz que conhece o PNR, sabe o que propõem. “Parece um partido interessante”, comenta. Fica a olhar para o folheto e diz que vai “analisar e decidir”, mais tarde.

 

 

Segue-se caminho e, de mão estendida, os membros do partido vão distribuindo os papelinhos. “Aqui tem um flyer… Não quer? Pronto, muito bem”. José Pinto Coelho não insiste, mas também não desiste. Ao logo do percurso, várias pessoas recusam os panfletos. Outras, de telemóvel ao ouvido, nem se apercebem que alguém as tenta abordar e outras ainda aceleram o passo e ignoram os papéis. Alguns aceitam-nos, porém, e retiram-se para ler as propostas. Ninguém faz perguntas, nem dá opinião. Não há beijinhos nem abraços.

 

A população nesta zona da cidade, a esta hora, não se presta a isso, nem o próprio partido procura tal contacto. Ao atravessarmos uma passadeira, a condutora do carro que pára olha para o panfleto e, com um abanão de cabeça, recusa qualquer abordagem. Um senhor aproxima-se para pegar no papel e afasta-se. Uma senhora de pasta na mão parece reconhecer o candidato e responde, sorridente: “Vou votar Assunção”. Pinto Coelho conforma-se e recolhe o braço.

 

Os cafés também não são o alvo da comitiva. Apenas é abordado um casal sentado numa esplanada, que declina o folheto com uma resposta simpática: “Nous sommes français”. Turistas ou residentes, não se consegue perceber, mas, com um sorriso, José Pinto Coelho despede-se em francês “très bien, bonne journée” e segue o seu caminho. Andamos a passo lento, mas o passeio vai correndo depressa. Das pessoas com quem a comitiva se cruza, pode-se dizer, com alguma exatidão, que pelos menos 30% são estrangeiros. E nota-se uma indiferença recíproca. Cada parte segue a sua vida, sem qualquer tipo de contacto.

 

 

Perante a presença de mais dois órgãos de comunicação social nacionais, que apareceram para acompanhar esta ação de campanha, faz-se uma pausa para uma entrevista. A primeira pergunta é a do costume: Quais as propostas do PNR para Lisboa? José Pinto Coelho, mais descontraído por não haver câmaras focadas nele, responde prontamente: “Defendemos a habitação para os lisboetas. Lisboa está a ser alvo de uma especulação imobiliária sem precedentes, por causa de políticas materialistas e economicistas. A venda do património a estrangeiros, o alojamento local, tudo isso está a aumentar os preços. E foi extinta criminosamente a EPUL, empresa que construía habitações de baixo custo para os lisboetas”.

 

“Se o PNR fosse eleito”, promete resoluto, “seria combatido ferozmente o alojamento local e a venda de património a estrangeiros”. E para todos os lisboetas que vivem do alojamento local, a solução era “serem fortemente taxados”. As taxas que foram criadas não chegam “porque, antes de mais, é preciso pensar nas pessoas mais desfavorecidas”, diz o líder do PNR e candidato à autarquia da capital.

 

Para o dirigente nacionalista, o seu partido é “o mais diferenciador de todos”, visto que defendem “a nossa identidade”, enquanto os outros defendem “uma cidade multicultural”. “Uns defendem a construção de mesquitas, nós somos contra a construção dessas mesquitas”, garante.

 

 

No campo dos transportes e da mobilidade, os dirigentes do PNR acreditam num regresso aos elétricos em vez de se benificiar a construção de mais ciclovias – ou, como ele chama, “ciclovazias”. “Uma linha de elétrico do Saldanha ao Lumiar” e “ruas de um só sentido, com estacionamento em espinha que permitam mais estacionamento”, são duas das ideias que preconiza. “Ciclovias, sim senhora, mas nunca com prejuízo para os carros!”.

 

Para o Partido Nacional Renovador, tudo isto são, porém, “problemas menores”, quando comparados com o que considera ser “a invasão islâmica”. Sejam refugiados ou imigrantes, não há diferença, assegura. “Muitos vêm de países que nem sequer estão em guerra. São emigrantes económicos e são jovens, homens em idade de trabalhar e sabem perfeitamente que vêm para invadir. Portanto, explica, “no limite, sim, proibimos a entrada dos muçulmanos”. “Mas, no intermédio, os que querem vir sujeitam-se às nossas regras, não andam para aí de burcas, não andam a rezar de rabo para o ar”, acrescenta.

 

De acordo com a Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, nas últimas eleições autárquicas, o PNR obteve cerca de 3000 votos a nível nacional, dos quais pouco mais de 2600 foram em Lisboa. Não elegeram, por isso, nenhum vereador. Mas não perdem a esperança. “Desta vez, acho que vamos conseguir um lugar na assembleia municipal”, diz José Pinto Coelho, esperançoso, antecipando uma “grande surpresa” nos resultados.

 

O candidato afirma que o contacto que tem tido com as pessoas lhe faz “acreditar que muitos eleitores que votavam noutros partidos, ou não votavam em partido nenhum, muitíssima gente vai votar no PNR”. Nesta ação de rua, porém, o que O Corvo observou é que foram raras as pessoas que fizeram perguntas ou manifestaram interesse no partido.

 

  • Vítor Carvalho
    Responder

    Tenham medo, muito medo do “susto” que este grupúsculo nos irá pregar…

  • Ricardo Xavier Antunes
    Responder

    #cagufa #miaúfa

  • Ana Gomes
    Responder

    Nunca se sabe se acontece o mesmo que na Alemanha.

  • Mario Fernandes
    Responder

    Entre entrevistas e comentários online, verifico que gente do PNR e da extrema-direita é sempre gente que falhou na vida e que culpa sempre os outros, geralmente quem é diferente deles.

  • Paulo Duque
    Responder

    Boa Sorte PNR.O Unico partido que luta contra as extremas exquerdas que dominam Portugal os Lobbys Gays e economicos na mão de quem nada tem a ver com Portugal.Tudo o que combata os comunistas e Blocos de Excremento são benvindos.Força

  • Luis Miguel
    Responder

    conseguiram ter menos 3 votos que em 2013 e nunca mais de 1200 no total. realmente, que susto.

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