Edifício da Biblioteca Nacional foi inaugurado há meio-século no Campo Grande
PORTFÓLIO
Samuel Alemão
Texto
Paula Ferreira
Fotografias
CULTURA
VIDA NA CIDADE
Alvalade
12 Abril, 2019
Passou esta semana (quarta-feira, 10 de Abril) meio-século desde que abriu portas a nova casa-mãe da instituição fundada em 29 de Fevereiro de 1796, como Real Biblioteca Pública da Corte. Desenhado por Porfírio Pardal Monteiro, dentro das linhas austeras que caracterizavam a arquitectura pública do Estado Novo, alberga no seu interior mais de dois milhões e meio de livros e documentos, acumulados nos 13 pisos da Torre de Depósitos. Mas são incontáveis as horas de estudo, investigação, descoberta e talvez maravilhamento vividas por quem se sentou numa daquelas mesas e esperou que chegassem as obras contidas na requisição de consulta. Sempre com o voo rasante dos aviões sobre a biblioteca, a poucos instantes de concretizarem a aterragem no aeroporto, a pontuar aquele silêncio.
A pose dos protagonistas era totalmente formal, a condizer com a ocasião, sem dúvida. Mais que isso, exalava uma rigidez na postura e um cansaço a dizerem muito mais sobre aqueles tempos do que as palavras de circunstância propaladas pelos representantes da coisa institucional de então. Nas imagens de arquivo da reportagem feita pela RTP sobre a inauguração do edifício-sede da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), ocorrida a 10 de Abril de 1969, disponíveis online, apercebemo-nos da paradoxal e evidente falta de entusiasmo dos que acorrem ao que deveria ser um dia de festa. E, afinal, até existiam razões sobejantes para comemorar, tal a importância do momento. Depois de obras de quase uma década e meia, Lisboa assistia finalmente à abertura de portas das novas instalações, a condizerem com as exigências do seu tempo, de uma das mais importantes entidades do país, fundada em 29 de Fevereiro de 1796, como Real Biblioteca Pública da Corte.
O edifício projectado por Porfírio Pardal Monteiro (1897-1957), um dos mais destacados arquitectos nacionais do início do século XX, representava uma mudança radical em relação às obsoletas instalações do Convento de São Francisco, onde a biblioteca estava instalada. Mas era, sobretudo na rigidez do seu desenho monumental, uma obra em clara sintonia com os trabalhos já desenvolvidos por Pardal Monteiro para os mais relevantes equipamentos públicos do Estado Novo na capital da então metrópole: Estação Ferroviária do Cais do Sodré (1926), Instituto Nacional de Estatística (1931), Gare Marítima de Alcântara (1934), Laboratório Nacional de Engenharia Civil (1949) ou até a Cidade Universitária, que começou a projectar em 1952, mas não viu concretizada. O mesmo se sucedeu, aliás, com a BNP, que apenas foi inaugurada uma dúzia de anos após a sua morte. O produto do seu trabalho, contudo, fez jus a um dos seus postulados, o de desenhar imóveis sintonizados com o seu tempo, mas com ambição de perdurar.