Há muita vida dentro das estações do metropolitano de Lisboa, mas “zonas comerciais precisam de ser renovadas”
Nas lojas instaladas nas estações de metro do Campo Grande, Alameda e Marquês de Pombal, há centenas de pessoas a comprarem, todos os dias. Se há vinte anos existia algum preconceito relacionado com os espaços comerciais do metro, hoje, estará a diminuir, ou praticamente já não existe, dizem os lojistas. A Metrocom, responsável pela gestão das 200 lojas da rede metropolitana, quer, agora, tornar estas áreas “mais agradáveis” e arrendar novos espaços a pop-up stores, quiosques, escolas de línguas, centros clínicos, entre outros. Os comerciantes aplaudem a iniciativa, mas não deixam de fazer reparos. No Campo Grande, criticam o estado de “desmazelo” da zona comercial, a sujidade e a falta de segurança. Na Alameda, querem mais limpeza e, no Marquês de Pombal, pede-se publicidade às lojas na entrada da estação.
Logo pela manhã, na estação de metro da Alameda, vêem-se dezenas de pessoas apressadas, carregadas com malas e sacos. Muitos passageiros trocam da Linha Verde para a Linha Vermelha, em direcção ao aeroporto, e outros dirigem-se para o local de trabalho. Nesta que é uma das estações de mais movimentadas da capital, há também quem entre na estação, ou abandone a carruagem, só para ir às compras aos 16 espaços comerciais ali instalados. A Metrocom, empresa responsável por gerir as 200 lojas da rede metropolitana, quer tornar estas zonas comerciais mais agradáveis e abrir mais cafés, restaurantes, serviços de conveniência, e até escolas de línguas e centros clínicos.
Quem trabalha nestes espaços elogia a iniciativa e pede mais diversidade de estabelecimentos. “Há vinte anos, se houvesse uma loja de roupa de mulher, não podia haver outra. Havia mais controle. Agora, é uma salgalhada de espaços e repetem-se muitos do mesmo género. Não sei como é que alguns aguentam os negócios”, diz Maria Teresa, 62 anos, enquanto dá uma nova vida às solas de umas botas, na loja mais antiga da estação de metro da Alameda. Quando começou a trabalhar aqui, há pouco mais de duas décadas, a Linha Vermelha ainda estava a ser concluída. Os critérios para a admissão de lojas nas estações de metro, conta, “eram muito diferentes”, o que poderá explicar a existência de espaços comerciais muito semelhantes.
Maria Teresa está há mais de 20 anos na estação da Alameda
Maria Teresa faz fechaduras, arranja sapatos e fechos de malas, entre outros, e acredita que este género de serviços e as lojas de conveniência são “as que fazem mais falta”. “Somos o estabelecimento mais antigo, provavelmente, porque toda a gente precisa de arranjar alguma coisa. As rendas são elevadíssimas e nem todos os negócios aguentam, é preciso vender muito”, explica. Apesar de algumas queixas, como a falta de ar condicionado dentro da loja e do valor que tem de despender todos os meses para ocupar o espaço comercial, a lojista diz que a Alameda é uma estação de metro “muito dinâmica”. “Há outras que precisam de mais apoio, felizmente esta tem imenso movimento”, diz.
Na Mestre Gelataria, um dos espaços mais recentes, Carolina Figueiredo, 18 anos, tem a mesma opinião. “Há sempre muitas pessoas a circular no sentido do aeroporto e levam um gelado para o caminho. No Verão, temos mais clientes, claro, mas não nos podemos queixar. Agora, também vendemos muito chocolate”, diz a funcionária da gelataria, instalada desde Julho passado, na Alameda. Ao lado, uma loja de roupa feminina também chegou há pouco tempo. Junia Menezes, 36 anos, natural do Brasil, não podia estar mais satisfeita. “Trabalhei em Portugal, durante alguns anos, e, depois, voltei para o Brasil. Quando regressei, demorei algum tempo a conseguir visto de residência e o metro ajudou-me imenso, ao dar-me a oportunidade de trabalhar aqui, enquanto estava à espera da documentação”, conta. A movimentação e a diversidade de lojas é um dos aspectos mais positivos do local de trabalho. “Apesar de não se ver a luz do dia, gosto muito de estar aqui. Há sempre pessoas”, diz.
A estação de metro da Alameda é a única estação de toda a rede de metropolitano onde é necessário transpor as cancelas para visitar as lojas. Esta particularidade leva um dos lojistas, que não quis ser identificado, a apelidar este espaço de “centro comercial fino”. “Muitas pessoas não têm passe e têm de pagar um bilhete para virem às nossas lojas, o que não compensa na maior parte dos casos”, diz. O proprietário de duas lojas de malas queixa-se do aumento das rendas, todos os anos, e da falta de ajuda da empresa que gere os espaços comerciais do metro, a Metrocom. “Não temos apoio nenhum. Quando tentamos falar com a Metrocom, diz-nos que temos de falar com o Metro de Lisboa, e vice-versa”, relata.
Noutra loja, de produtos de estética e cabeleireiro, Kashim, 52, sobrevive com dificuldade há sete anos. “Em qualquer outra estação de metro, o valor das rendas é metade do nosso. Aqui, são caríssimas”, queixa-se. A deterioração da casa-de-banho é outra das críticas. “Há sempre alguma coisa estragada, ou o autoclismo, o secador das mãos ou as torneiras. Só existe uma casa-de-banho para todos os funcionários e público e, sendo uma das estações com mais pessoas a circularem, deviam melhorar os serviços. Já fiz várias queixas, mas dizem-me sempre que não é com o Metro de Lisboa, mas com a empresa de limpeza”, conta.
Na estação do Campo Grande, onde segundo o site do Metro de Lisboa haverá 19 lojas, Maria Almeida, 52 anos, anseia há muito tempo por uma renovação do espaço comercial. A zona das lojas é sombria, há algum lixo no chão e alguns estabelecimentos estão pouco visíveis. “Isto está um nojo. Gostava muito que melhorassem o aspecto do centro comercial e que voltássemos a ter uma zona de lazer. Tínhamos um espaço, com algumas cadeiras, que foram desaparecendo. Além de que entram muitos pombos – alguns até fazem ninhos – na estação e ninguém tem vontade de comer ali”, conta, por detrás do balcão, onde se prepara para almoçar uma refeição trazida de casa. A proprietária de uma loja de malas considera que o metro devia dar “mais oportunidades” a outros lojistas. “Quando fecha um espaço, este é apenas trespassado para outro, ou seja, não muda o género de negócio. Acho que deviam dar oportunidade a outras pessoas”, sugere.
Shaida Gani, 41 anos, funcionária de uma loja de roupa, faz reparos semelhantes. “Deviam melhorar o espaço, começando pelo tecto, é muito escuro. O chão está sempre sujo, e a zona comercial tem um ar desmazelado”, critica. Apesar da falta de higiene, mas também de segurança, de uma das principais estações de metro – na qual passar-se-á a fazer o transbordo para a futura Linha Circular –, a lojista diz que o negócio tem crescido. “Há bastante movimento e sentimos que passam mais turistas, o que se sente, ao final do mês”, diz. Entre cafés, pizzarias e lojas de comida pronta a levar, Mariana, há vários anos a vender cosméticos, pede mais flexibilidade do metro para publicitar a sua loja. “Muitas pessoas passam aqui, há anos, e não nos vêem. Podiam deixar-nos pôr publicidade, à entrada do metro”, diz.
Na estação de metro do Marquês de Pombal, onde a fila de pessoas para a loja de apoio aos utentes do metro se estende quase até às cancelas, acompanhando os espaços comerciais, os lojistas estão optimistas. “Há vinte anos, era assustador entrar em algumas estações de metro. Muitas pessoas não vinham às lojas por isso e, nos últimos anos, sinto que se perdeu um bocadinho o preconceito que há com as lojas de metro, apesar de ainda existir”, conta Ana Carrilho, 40 anos, funcionária de uma loja de roupa para crianças. O Metro de Lisboa tem, porém, “muitas regras e condicionantes”, diz. “Podiam-nos deixar pôr um cavalete com publicidade lá fora ou deixarem as nossas colegas da perfumaria darem amostras de perfume”, propõe. Nos últimos três anos, com o encerramento de várias empresas à volta, perdeu alguns clientes habituais, mas, conta, “rapidamente se renovaram”. “Há sempre pessoas novas a surgir”, explica. Nos restantes estabelecimentos da estação de metro do Marquês de Pombal, há uma grande afluência de pessoas. “É sempre esta confusão, não paramos”, diz outra comerciante, de uma loja de lençóis e colchas, que não quis ser identificada.
O Metro de Lisboa anunciou, no passado dia 11 de Fevereiro, que quer melhorar estes espaços, transformando-os em locais de comércio e de serviços “mais agradáveis e com mais procura”. A rede de transportes, através da Metrocom, empresa responsável pela gestão das lojas, lançou, por isso, uma campanha com o mote: “Não deixe passar o seu negócio no Metro”. Esta contempla a decoração das montras de algumas lojas, com o objectivo de encontrar novos parceiros para estes locais, tornando as zonas comerciais “mais dinâmicas e atractivas”, diz em comunicado.
Um dos principais objectivos é “garantir uma maior adequação da oferta de produtos e de serviços às actuais necessidades dos clientes do metro”. O plano de dinamização das lojas prevê, além do arrendamento de novos espaços, a instalação de pop-up stores, quiosques e espaços para pequenos negócios, “cada vez mais procurados e que queiram alavancar as suas marcas e testar a sua presença com o Metropolitano de Lisboa”.