Contra críticas ao turismo, Medina lembra a sua relevância na economia de Lisboa

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Samuel Alemão

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VIDA NA CIDADE

Cidade de Lisboa

28 Junho, 2017


Perante as dúvidas, a dimensão dos números. O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML) acena com o volume de negócios e, por conseguinte, com a riqueza que a actividade turística tem trazido à cidade e ao país. “O turismo representa hoje no concelho de Lisboa um valor de vendas agregadas de cerca de 6.300 milhões de euros. Repito, são 6.300 milhões de euros. Isto é o equivalente para a economia do país a quatro vezes o sector do calçado e a três vezes a produção da fábrica da Auto-Europa”, afirmou Fernando Medina (PS), na tarde desta terça-feira (27 de junho), perante a Assembleia Municipal de Lisboa (AML), durante a apresentação a este órgão da informação sobre a actividade da autarquia por si liderada, durante os meses de abril e maio. Os partidos da oposição, mesmo que reconhecendo os lucros trazidos pelo turismo, lembraram os efeitos nocivos do mesmo, sobretudo no mercado da habitação.

Quando elencava alguns dos muitos que vê como méritos do executivo por si tutelado, o autarca admitiu a sensibilidade do que considera ser um “tema central de debate na cidade”. “Esta é uma realidade naturalmente complexa, nas contradições que encerra, que traz consigo. Se, muitas vezes, discutimos os impactos do turismo nos bairros históricos, sobre a habitação e sobre as características de autenticidade da cidade, acho que nunca podemos discutir o turismo, sem discutir o impacto no emprego, na riqueza e nas condições de vida da população da cidade de Lisboa”, afirmou o presidente da câmara, para quem é, por isso, importante recordar “a importância dos números” do sector turístico para a “subsistência económica da cidade”. Hotelaria, restauração, construção e “tudo o que está associado à dimensão do fenómeno turístico”, foram exemplos apontados por Fernando Medina.

Antes da enumeração de tais virtudes, porém, o autarca havia ensaiado uma tentativa de marcação de uma posição de compromisso. No fundo, algo que não o deixasse colado a uma imagem de defensor acérrimo e acrítico desta actividade económica, bem como dos seus efeitos nocivos. “Acho que está errada a posição de quem, por um lado, de forma simplista, diz que o turismo é um mal e que, no fundo, o ideal era não termos esse turismo. Mas acho que está igualmente errada a posição do lado oposto, a de dizer que podemos crescer indefinidamente sem cuidarmos que o turismo está a transtornar a vida da cidade de Lisboa”, afirmou o líder do executivo camarário. Por isso, defende, nunca se deve deixar de apreciar toda a “complexidade”, “dimensão” e exigência de debate de “uma das portas importantes para a melhoria das condições de vida de tantos e tantos na cidade”. Embora sem a dimensão macro-económica do turismo, também a actividade das start-ups tecnológicas sedadas em Lisboa recebeu palavras elogiosas de Medina.

E se o seu longo discurso, de cerca de três quartos de hora, foi, no seu todo, alvo de fortes críticas da oposição – que, de forma quase o unânime, o acusou de mera propaganda -, couberam a Modesto Navarro (PCP) e a Sofia Vala Rocha (PSD) os mais directos reparos ao que consideram ser o lado negativo do turismo. “Reconhecemos os méritos do turismo, mas a cidade tornou-se demasiado cara. Se a Madonna acha a cidade barata, a classe média lisboeta não pode dizer o mesmo”, considera a deputada social-democrata. Já o eleito comunista, que admitiu a existência de um lado “benéfico em termos económicos”, lamentou, porém, o que considerou ser a atitude de “serventia e de toalha na mão” corporizada pela dependência económica em relação à actividade turística. Por causa dela, garante, “hoje assiste-se a um suicídio da identidade da cidade” e a uma grave crise habitacional, “que está a levar à expulsão da cidade dos seus habitantes e a impedir a vinda de jovens”.

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