Medina diz nada ter contra o uso do automóvel “por necessidade”, mas anuncia luta contra congestionamentos
Tem sido um dos principais motivos de discórdia, dos últimos anos, relativamente à gestão autárquica da capital, reflectindo não só diferentes visões de cidade mas também uma clara polarização ideológica. Está Lisboa a tornar-se uma cidade inimiga dos carros?, como alguns clamam. Ou, pelo contrário, continua a ser demasiado permissiva no espaço e na preponderância que lhes dá?, como apontam outros. Fernando Medina (PS), o presidente da câmara municipal, tem defendido a importância do aumento do investimento público em transportes públicos, não apenas na cidade mas também em contexto da área metropolitana, como alternativa ao automóvel particular. E voltou a fazê-lo na última sessão da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), nesta terça-feira (26 de Fevereiro), embora tenha sentido necessidade de clarificar não ser agente de uma “fronda ideológica” contra a utilização do carro. Apesar disso, avisou, a câmara manterá o seu objectivo de libertar o espaço público do excessivo peso do automóvel.
“A política da mobilidade na promoção do transporte público não é uma política de conflito com aqueles que utilizam o automóvel por necessidade. É uma política de criação de uma verdadeira alternativa de mobilidade, assente na disponibilidade do transporte público”, afirmou Medina, em resposta ao deputado municipal socialista Pedro Costa, que o interpelara não só para elogiar o papel da autarquia na gestão da Carris, mas também para demonstrar apoio ao alargamento das faixas BUS, como forma de aumentar a rapidez de circulação dos autocarros. Tentando afastar a ideia de que tal poderá corresponder ao que muitos encaram, ainda, como uma guerra ao automóvel, o presidente da câmara sublinhou a importância de se criar uma alternativa credível. “É que há uma diferença. É que não se trata de nenhuma ‘fronda’ ideológica. Trata-se da criação de condições reais, efectivas e concretas para haver uma opção de escolha de qualidade e a preço acessível em matéria de transporte público”, afirmou o líder do executivo camarário.
Como prova do que dissera, Fernando Medina salientou o esforço que tem vindo a ser desenvolvido, desde há dois anos, quando a Carris passou a ser detida pelo município, para tornar mais apelativo o seu uso por quem vive, estuda e trabalha em Lisboa. Sobretudo através da compra de duas centenas e meia de autocarros. “É por isso que o que estamos a fazer na renovação da frota da Carris é tão importante. Depois de tantos e tantos anos sem investimento, é uma alteração significativa no conforto, na eficácia do serviço, na relação com o cidadão, na percepção que os cidadãos têm da qualidade do serviço e também na relação com o ambiente. Mudanças que se têm feito sentir também na oferta – nomeadamente com a criação das carreiras de bairro -, mas sobretudo com os ajustes tarifários em curso. O presidente da câmara não esqueceu, por isso, as críticas feitas aquando da criação dos tarifários especiais para reformados e idosos, bem como os jovens. “Nós hoje sabemos os resultados. Temos mais 40% de procura nos idosos e reformados e sabemos que há largos milhares de crianças e jovens que utilizam o transporte público, porque ele é gratuito e reponde às suas necessidades”, disse.
A melhoria do serviço prestado pela Carris é uma das armas contra o excesso de automóveis, diz Medina
Uma alteração que, frisou o presidente da câmara, terá ainda maior impacto quando, já em Abril, começarem a vigorar os novos passes únicos de abrangência metropolitana e municipal – o primeiro custará 40 euros e o segundo 30, ficando limitados a 80 euros mensais os encargos familiares com transportes públicos, independentemente do número de passes. Algo que Medina não tem dúvidas em vislumbrar como “umas das maiores transformações estruturais na mobilidade e na promoção do transporte público no país”. Elogiando o papel do Governo nesta alteração, o presidente da câmara e também da Área Metropolitana de Lisboa sublinhou a “grande mudança” que tal oferta tarifária trará não apenas para os municípios circundantes mas também para a cidade de Lisboa. “A redução de 36,70 euros para 30 euros vai ter um impacto significativo. Recordem-me quando é que houve uma redução de quase 20% do tarifário geral de transporte público. Não há memória dessa diminuição”, afirmou.
Ora, essa melhoria na oferta, sublinha o presidente do maior município do país, será acompanhada de uma acção mais resoluta no coarctar do uso irrestrito do automóvel. “Com mais procura no transporte público, temos de criar mais condições para ele ser mais rápido. Sabemos que o congestionamento é um dos principais inimigos do transporte público rodoviário de qualidade. É por isso que a introdução e a ampliação dos corredores BUS e de vias dedicadas a nível metropolitano são tão importantes”, destacou, apontando ainda como prioritária a aposta nos parques de estacionamento dissuasores. “Ao contrário do que alguns dizem, não é nenhuma contradição com esta política. É um complemento essencial, porque se trata de retirar automóveis da via pública, onde, tantas vezes, estão em condições que não são adequadas, para locais onde possam ser parqueados de forma adequada – e assim, também, libertar as ruas para a circulação pedonal e mais espaços para o transporte público fluir com mais qualidade”, postulou.