Medina diz nada ter contra o uso do automóvel “por necessidade”, mas anuncia luta contra congestionamentos

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Kátia Catulo

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Cidade de Lisboa

27 Fevereiro, 2019

Tem sido um dos principais motivos de discórdia, dos últimos anos, relativamente à gestão autárquica da capital, reflectindo não só diferentes visões de cidade mas também uma clara polarização ideológica. Está Lisboa a tornar-se uma cidade inimiga dos carros?, como alguns clamam. Ou, pelo contrário, continua a ser demasiado permissiva no espaço e na preponderância que lhes dá?, como apontam outros. Fernando Medina (PS), o presidente da câmara municipal, tem defendido a importância do aumento do investimento público em transportes públicos, não apenas na cidade mas também em contexto da área metropolitana, como alternativa ao automóvel particular. E voltou a fazê-lo na última sessão da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), nesta terça-feira (26 de Fevereiro), embora tenha sentido necessidade de clarificar não ser agente de uma “fronda ideológica” contra a utilização do carro. Apesar disso, avisou, a câmara manterá o seu objectivo de libertar o espaço público do excessivo peso do automóvel.

“A política da mobilidade na promoção do transporte público não é uma política de conflito com aqueles que utilizam o automóvel por necessidade. É uma política de criação de uma verdadeira alternativa de mobilidade, assente na disponibilidade do transporte público”, afirmou Medina, em resposta ao deputado municipal socialista Pedro Costa, que o interpelara não só para elogiar o papel da autarquia na gestão da Carris, mas também para demonstrar apoio ao alargamento das faixas BUS, como forma de aumentar a rapidez de circulação dos autocarros. Tentando afastar a ideia de que tal poderá corresponder ao que muitos encaram, ainda, como uma guerra ao automóvel, o presidente da câmara sublinhou a importância de se criar uma alternativa credível. “É que há uma diferença. É que não se trata de nenhuma ‘fronda’ ideológica. Trata-se da criação de condições reais, efectivas e concretas para haver uma opção de escolha de qualidade e a preço acessível em matéria de transporte público”, afirmou o líder do executivo camarário.

Como prova do que dissera, Fernando Medina salientou o esforço que tem vindo a ser desenvolvido, desde há dois anos, quando a Carris passou a ser detida pelo município, para tornar mais apelativo o seu uso por quem vive, estuda e trabalha em Lisboa. Sobretudo através da compra de duas centenas e meia de autocarros. “É por isso que o que estamos a fazer na renovação da frota da Carris é tão importante. Depois de tantos e tantos anos sem investimento, é uma alteração significativa no conforto, na eficácia do serviço, na relação com o cidadão, na percepção que os cidadãos têm da qualidade do serviço e também na relação com o ambiente. Mudanças que se têm feito sentir também na oferta – nomeadamente com a criação das carreiras de bairro -, mas sobretudo com os ajustes tarifários em curso. O presidente da câmara não esqueceu, por isso, as críticas feitas aquando da criação dos tarifários especiais para reformados e idosos, bem como os jovens. “Nós hoje sabemos os resultados. Temos mais 40% de procura nos idosos e reformados e sabemos que há largos milhares de crianças e jovens que utilizam o transporte público, porque ele é gratuito e reponde às suas necessidades”, disse.


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A melhoria do serviço prestado pela Carris é uma das armas contra o excesso de automóveis, diz Medina

Uma alteração que, frisou o presidente da câmara, terá ainda maior impacto quando, já em Abril, começarem a vigorar os novos passes únicos de abrangência metropolitana e municipal – o primeiro custará 40 euros e o segundo 30, ficando limitados a 80 euros mensais os encargos familiares com transportes públicos, independentemente do número de passes. Algo que Medina não tem dúvidas em vislumbrar como “umas das maiores transformações estruturais na mobilidade e na promoção do transporte público no país”. Elogiando o papel do Governo nesta alteração, o presidente da câmara e também da Área Metropolitana de Lisboa sublinhou a “grande mudança” que tal oferta tarifária trará não apenas para os municípios circundantes mas também para a cidade de Lisboa. “A redução de 36,70 euros para 30 euros vai ter um impacto significativo. Recordem-me quando é que houve uma redução de quase 20% do tarifário geral de transporte público. Não há memória dessa diminuição”, afirmou.

 

Ora, essa melhoria na oferta, sublinha o presidente do maior município do país, será acompanhada de uma acção mais resoluta no coarctar do uso irrestrito do automóvel. “Com mais procura no transporte público, temos de criar mais condições para ele ser mais rápido. Sabemos que o congestionamento é um dos principais inimigos do transporte público rodoviário de qualidade. É por isso que a introdução e a ampliação dos corredores BUS e de vias dedicadas a nível metropolitano são tão importantes”, destacou, apontando ainda como prioritária a aposta nos parques de estacionamento dissuasores. “Ao contrário do que alguns dizem, não é nenhuma contradição com esta política. É um complemento essencial, porque se trata de retirar automóveis da via pública, onde, tantas vezes, estão em condições que não são adequadas, para locais onde possam ser parqueados de forma adequada – e assim, também, libertar as ruas para a circulação pedonal e mais espaços para o transporte público fluir com mais qualidade”, postulou.

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COMENTÁRIOS

  • Tec
    Responder

    Querem libertar o espaço dos passeios para a circulação pedonal?Não parece,com tanta esplanada e trotinete ao abandono…

    • Pedro Santos
      Responder

      Isso é a questão principal. Libertar o espaço do carros é bom mas se substituem por bicicletas, trotinetes e esplanadas os peões continuam a ser marginalizados!

  • Gonçalo Peres
    Responder

    Há pessoas que precisam mesmo do automóvel e vão continua a usar. E depois há uma grande percentagem de condutores, saudáveis, que andam sozinhos de carro porque é fácil: têm carro e estacionamento oferecido pela empresa, ou podem estacionar ilegalmente sem fiscalização, ou podem conduzir a 120 kmh na cidade porque não acordaram a horas, ou podem ir com o carro até à porta da escola deixar o filho enquanto colocam todos os outros em risco e elevam a concentração naquele local para níveis incompatíveis com o ser humano (quando podiam e deviam parar a mais de 100 metros do perímetro da escola), etc.

  • D. Oliveira
    Responder

    Sr. Presidente!
    Quer acabar com os engarrafamentos em Lisboa?, comece por:
    1- Acabar com as cargas e descargas a qualquer hora do dia na cidade,com fachas
    de rodagem ocupadas por estes veículos
    2- Estacionamentos em 2ª. fila, muitas das vezes os seus donos estão no café ou às compras.
    3- Comece a andar nos transportes públicos de passageiros e veja que se tornaram em transportes mistos (desde pranchas de Surf, carros de crianças nos corredores para os pais irem sentados,transporte de contra-baixos, os lugares para os carrinhos de crianças e deficientes cheios de malas de grandes dimensões e outros volumes,crianças que deviam ir ao colo dos pais como está determinado vão sentados com os pais ao lado etc), tudo acontece nos transportes públicos.
    Como quer que se utilize mais este meio de transporte?, não contando com os preços dos bilhetes por viagem que estão mais caros em relação a países
    com ordenados muito superiores aos nossos.
    4- Era bom que a Carris criasse o passageiro mistério do exterior da Empresa, para ver o comportamento da maioria dos condutores perante os utentes.
    Estas são algumas dicas, pois muito mais coisas se passam nesta cidade que mais parece que anda em roda livre.

    • ___
      Responder

      “3- Comece a andar nos transportes públicos de passageiros e veja que se tornaram em transportes mistos (desde pranchas de Surf, carros de crianças nos corredores para os pais irem sentados,transporte de contra-baixos, os lugares para os carrinhos de crianças e deficientes cheios de malas de grandes dimensões e outros volumes,crianças que deviam ir ao colo dos pais como está determinado vão sentados com os pais ao lado etc), tudo acontece nos transportes públicos.”

      então as pessoas agora não podem sair com os carrinhos de bebé à rua? ou são obrigados a andar a pé? as crianças não pode ir sentadas no autocarro? desde quando? se eu quiser tocar um contrabaixo encontro-me obrigado a andar a pé? e se quiser ir apanhar um avião, tenho de ir a pé ou de taxi, que pelos vistos não posso andar com uma mala no autocarro… que comentário mais triste.

      • Carla Oliveira
        Responder

        Comentário triste é o seu que até dá vergonha ler o que escreve, pois mostra que nem conhece as leis e as regras.
        1-As crianças são OBRIGADAS a ir ao colo e os carros fechados,
        2-Não é permitido transportar malas dentro dos autocarros porque os autocarros são colectivos de PASSAGEIROS e não de mercadorias, as únicas malas permitidas são as de pequenas dimensões e são OBRIGADAS a ir no local reservado para tal que, normalmente é a trás do motorista ou do outro lado logo a seguir ao primeiro acento, que é um quadrado de ferros, por isso, se quiser apanhar o avião e transportar malas maiores, sim É OBRIGADA a ir de taxi ou outro transporte que não os autocarros.
        3-Nos lugares para cadeiras de rodas não é permitido transportar malas nem pessoas de pé.
        4-Pode tocar contrabaixo, mas não o pode transportar nos autocarros pelos motivos que já referi acima.
        5-As pessoas de pé não podem ir a mexer nem falar ao telemóvel por questões de segurança, sua e dos outros.

        Etc, etc, etc,…

        Podia fazer-lhe aqui uma lista ENORME das regras a que está obrigado/a quando anda de autocarro, mas como já mostrou a sua ignorância, não o merece porque já deu para ver que nada vai entrar nessa cabeça.

  • Anónimo
    Responder

    Não sei se ele em particular é contra o uso do automóvel, mas muitos anormais na CML são. E isso de quem tem motorista todos os dias à porta para o levar para o trabalho de pópó.

  • José Colaco
    Responder

    Para acabar com engarrafamentos em Lisboa:
    a) todas as ruas de Lisboa terem parquimetros e/ou serem exclusivas de residentes com dístico da zona
    b) portagem de entrada em Lisboa para não residentes. Como em Londres. Tipo 10,00 euros/dia

  • Rui Gomes
    Responder

    Recebo “O Corvo” com regularidade desde o início da sua criação. Uma excelente iniciativa.
    Não participo habitualmente nas redes sociais, limito-me por vezes a dirigir, sugestões e críticas, sobre a vida em Lisboa, diretamente à Junta de Freguesia da Estrela, onde resido, e à CML.
    Embora reconheça que este meu lamento, embora próximo, não se ajusta totalmente à questão do saber-se que “Medina diz nada ter contra o uso do automóvel”, prende-se efetivamente com aspetos ligados ao seu uso …
    Refiro-me ao mau estado em que a generalidade das ruas da cidade estão, aos buracos nos (empedrados) passeios, à falta de adequada iluminação na totalidade das passagens de peões, à lentidão no avivar da sinalização das referidas faixas, à manifesta ‘desatenção’ na otimização do funcionamento do semáforos.
    Os exemplos que poderia avançar são dispensáveis pelo conhecimento direto dos fregueses e munícipes que se confrontam no seu dia a dia com tais situações, mas permitam-me três ou quatro casos para servirem de exemplo a saber:
    1 – piso da avª Infante Santo ou das ruas Domingos Sequeira e Ferreira Borges e/ou Campo de Ourique. Nas duas primeiras situações parece estar-se perante falha na fiscalização dos serviços do Município, aquando da repavimentação. Não!?
    2 – semáforos – p.e., no cruzamento das ruas Domingos Sequeira, Saraiva de Carvalho, Ferreira Borges e do Patrocínio, a análise atenta pela entidade/serviço responsável pela semaforização levaria a muito menos tempo de espera inútil. Não querendo entrar no detalhe, não resisto a duas anotações – quem circula na Domingos Sequeira e pretenda ir para a Ferreira Borges tem de esperar que o trânsito seja cortado na Ferreira Borges, quando nada obstaria a que pudessem circular em simultâneo, uma vez que não é permitido a quem vem da Ferreira Borges voltar à esquerda naquele cruzamento. O mesmo acontece a quem, proveniente dos Prazeres, na Saraiva de Carvalho pretenda seguir para a Domingos Sequeira ou para a rua do Patrocínio … já havendo duas faixas de rodagem naquele troço da Saraiva de Carvalho. Neste como noutras situações haverá recorrente acompanhamento?
    3- não faltam exemplos de faixas de peões devidamente sinalizadas e iluminadas em muita cas cidades que visitei na vizinha Espanha. Por Lisboa, nem por isso !? Há acidentes que certamente poderiam ser evitados se a autarquia mais contribuísse para os evitar, creio.

    Cumprimentos

  • Goncalo Serras Pereira
    Responder

    O gradiente do transporte foi sempre o indivíduo. Desassociá-lo na definição de uma política de mobilidade na cidade que temos Lisporto ( Lisboa ao Porto) é um erro crasso. Chamem o Musk que ela dá uma ajuda no conceito

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