Torre da Péla, monumento medieval situado no Martim Moniz, vai ser reabilitada pela Câmara de Lisboa
A Câmara Municipal de Lisboa (CML) prepara-se para proceder à reabilitação da Torre do Jogo da Péla, uma parte integrante da Cerca Fernandina, construída no século XIV, e que há muito parecia condenada a uma existência quase clandestina, apesar das suas centralidade e importância histórica. A colocação de sinalética e de iluminação dedicadas, permitindo chamar a atenção para aquela construção situada entre dois prédios da EPUL, no Martim Moniz, faz parte do conjunto de medidas a levar à prática pela autarquia no âmbito do projecto, anunciou Catarina Vaz Pinto (PS), vereadora da Cultura, na tarde desta terça-feira (27 de Novembro). O plano inclui ainda a reformulação paisagística da área circundante e será levado à prática assim que existam “condições financeiras”, garantiu a autarca, na derradeira sessão da Assembleia Municipal de Lisboa (AML), momentos antes da aprovação, por unanimidade, de uma recomendação do CDS-PP instando a câmara a agir nesse sentido. Mas, até lá, há que continuar a agir contra os graffiti.
Uma tarefa qualificada por Vaz Pinto como “difícil”. “Só neste mês de Novembro, foram realizadas limpezas no dias 16 e 20”, informou a vereadora, no momento em que dava conta aos deputados municipais dos cuidados tidos com a conservação de uma edificação que não está classificada individualmente como Monumento Nacional – embora faça parte de um conjunto reconhecido como tal, em 1910, formado pelo Castelo de São Jorge e demais Cercas de Lisboa. “Já foi elaborado um diagnóstico e está prevista a execução do projecto de integração e musealização do monumento, bem como a elaboração de um projecto de arquitectura paisagística, a concepção e a instalação de sinalética e ainda a instalação de um projecto de iluminação monumental”, informou a autarca, depois de assegurar que, para além de estar a trabalhar nesses planos de reabilitação, a direcção de salvaguarda do património cultural da Câmara Municipal de Lisboa tem também assegurado “uma manutenção constante” da torre. Trata-se de uma construção que tem sido “objecto da maior atenção da câmara”, asseverou.
Mas nem sempre terá sido assim. Aquele resto de fortificação mandado construir por Dom Fernando, chamava a atenção uma reportagem d’O Corvo publicada em 21 de Janeiro de 2016, encontra-se há muito degradado – sendo o topo protegido por uma precária chapa metálica – e numa situação de quase anonimato. “O intervalo que a separa a Torre da Péla da parede de um do blocos de apartamentos não ultrapassa os dois metros, intervalo esse que está protegido por uma cobertura de um material semelhante ao vinil – proporcionando um recanto ideal para quem deseja passar a noite ao abrigo da chuva e do vento. A demonstrar essa utilização estão os muitos detritos, incluindo papéis, restos de comida e embalagens vazias que juncam o solo, e um persistente cheiro a urina”, escrevia-se na altura, dando-se ainda conta da inusual localização de monumento, ensanduichado entre dois blocos de apartamentos pertencentes ao empreendimento da EPUL, cuja construção se iniciou em 2001 e terminou apenas no final de 2014.
Um muito peculiar enquadramento para um monumento com esta história
O facto de a torre não beneficiar da protecção especial conferida por uma classificação individual terá permitido, de resto, tal implantação do conjunto habitacional municipal, sem que fosse exigido o cumprimento de um distanciamento mínimo de 50 metros, como sucede com todos os Monumentos Nacionais. Lembrando a obrigação do município da capital – a quem a administração central cedeu a tutela da torre em 1942 – em zelar pelo seu património histórico, a recomendação dos centristas, que ontem acabou por ser votada por unanimidade, considera que tal “não se verifica, pois, no local, não existe qualquer referência ao monumento o que contribuiu para que seja constantemente confundido com uma ruína de um qualquer prédio devoluto destituído de valor patrimonial, histórico ou cultural para a cidade”. Algo para que já alertava um empresário chinês da restauração, ouvido na referida reportagem d’O Corvo de Janeiro de 2016, lamentando então que o monumento fosse pouco conhecido. “Há pessoas sem-abrigo que dormem aqui, fazem piqueniques, este canto funciona como um WC ao ar livre”, dizia.