Lixo. É o nome de uma nova “unidade monetária”, emitida pela Junta de Freguesia de Campolide, e também o que se pretende eliminar do espaço público daquela zona de Lisboa. Os cidadãos que entregarem, nos serviços da autarquia, resíduos recolhidos na rua receberão vales de compras para utilizarem em cerca de sete dezenas de estabelecimentos do comércio local. A cotação cambial é de paridade entre a moeda “lixo” e o euro. Mas os resíduos serão pagos de forma distinta, consoante a sua qualidade: cada quilo de lixo reciclável corresponde a € 2 (2 moedas lixo) e um quilo de lixo indiferenciado/doméstico corresponde a € 1 (1 moeda lixo). Apesar de não haver limite às quantidades entregues, apenas serão remunerados até dez quilos por pessoa.

 

“Mais que permitir às pessoas ganharem dinheiro com isto, o objectivo principal da iniciativa é o de fazer a pedagogia ambiental”, explica ao Corvo o presidente da junta, André Couto (PS), reconhecendo as dificuldades sentidas em manter limpo os arruamentos da freguesia. “Sobretudo na zona antiga de Campolide, onde o espaço dos passeios é mais exíguo e inclinado, nota-se o efeito de uma minoria de pessoas que ainda não aderiu às boas práticas da higiene urbana e continua a deitar lixo para o chão”, admite o autarca, justificando assim a vertente pedagógica e de consciencialização do projecto Pago com Lixo – que será apresentado publicamente na manhã (10h) desta quinta-feira (15 de setembro), no Jardim da Amnistia Internacional.

 

O incentivo do comércio local é o outro grande objectivo do projecto. “As lojas de comércio tradicional de Campolide, como as do resto da cidade, estão a sentir dificuldade há já algum tempo, com muita gente a preferir as grandes superfícies. Mas, desde 2009, com a crise económica, essa situação agudizou-se. Diversas lojas que conhecia desde criança fecharam nos últimos anos, tem sido uma autêntica sangria. E nós queremos contrariar esse cenário”, afirma André Couto, apesar de reconhecer a existência, nos últimos tempos, de uma dinâmica de “retorno” de algumas pessoas a este tipo de comércio. O presidente da junta de freguesia diz que, em breve, outras lojas se juntarão às cerca de 70 aderentes do Pago em Lixo.

 

notapagoemlixo

 

Nesta primeira fase do projecto, a autarquia de Campolide assumiu a responsabilidade pela emissão de moeda “lixo” num valor de € 3.500. A expectativa é de que venham a ser gastos nas lojas da freguesia aderentes o “mais depressa possível”. André Couto diz que tal “será um bom sinal”. “Estamos preparados para emitir novos lotes, se assim se justificar, embora o objectivo da iniciativa seja, em primeiro lugar, o de alertar as pessoas”, explica, salientando que outras acções de educação neste campo serão levadas a cabo, em breve, nomeadamente junto da população escolar e dos idosos. Além do sítio criado para o efeito, será realizada uma campanha de sensibilização que inclui um vídeo com depoimentos de diversas figuras públicas residentes em Campolide.

 

Mais informações: www.pagoemlixo.pt

 

Texto: Samuel Alemão

 

  • Sónia Martins
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    Excelente iniciativa, espero que haja vontade de aderir. Além da questão do lixo, a ideia de incluir uma nova moeda local é um excelente modo de ajudar a comunidade 🙂

  • Margarida Noronha
    Responder

    uma aproximação ao que foi um costume antigo e o vasilhame valia dinheiro…

  • Paula Gomes
    Responder

    Infeluzmwnte só com incentivos é que as pessoas fazem alguma coisa pela sua freguesia!

  • Artur C. Margalho
    Responder

    Lixo, que belo nome para uma “unidade monetária”.

  • Rui Martins
    Responder

    Uma Moeda Local?
    Sim! a favor! https://t.co/Yc7oiva8BJ

  • Bei
    Responder

    …porque ter pessoas a receber um salário para fazer esse trabalho já não é uma opção.

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