Renovou-se o espaço à volta do metro da Pontinha, mas parque verde da nova Feira Popular tarda em sair do papel

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Sofia Cristino

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Carnide

17 Setembro, 2018

As obras de requalificação na zona envolvente da estação de metro da Pontinha, na freguesia de Carnide, estão praticamente concluídas, gerando elogios dos utentes. Mas ao lado, a construção do Parque Urbano da Pontinha, espaço de 20 hectares onde nascerá a nova Feira Popular de Lisboa, ainda nem sequer arrancou. Ao contrário do anunciado pelo presidente da Câmara Municipal, no início deste ano. Fernando Medina (PS) prometeu a conclusão das obras até ao final de 2018. Mas só a 21 de Agosto foi escolhida a empresa que realizará esta empreitada, com prazo de execução de cerca de oito meses e ainda um ano para manutenção dos espaços verdes. O concurso público relativo à construção da Feira Popular ainda nem foi lançado. O presidente da Junta de Freguesia de Carnide diz mesmo que, por isso, o parque de diversões apenas deverá estar concluído em 2021. “Não é um verdadeiro mar de rosas, como tem sido publicitado. Há prazos que foram largamente ultrapassados”, critica.

A construção do Parque Urbano da Pontinha, na freguesia de Carnide, não dá sinais de conhecer avanços. Em Abril de 2016, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Fernando Medina (PS), havia anunciado o arranque das obras deste recinto com 20 hectares, onde nascerá a nova Feira Popular de Lisboa, até ao final desse ano. A promessa era feita na Assembleia Municipal de Lisboa (AML), a pretexto da apresentação da informação escrita da sua actividade no período entre 1 de Fevereiro e 31 de Março, mas tal não se concretizou. Meio ano depois, a 25 de Outubro de 2016, o presidente da CML anunciava datas concretas para o início dos trabalhos. “As obras de construção da Feira Popular, em Carnide, terão início no dia 3 de Novembro”, dizia o autarca socialista durante o debate anual sobre o estado da cidade, na AML.

 

A 21 de Fevereiro de 2017, numa sessão dirigida a empresas e investidores para a apresentação do projecto da nova Feira Popular, Medina avançava com uma nova data para a conclusão da empreitada. “Estamos a construir acessibilidades, estamos com os processos para tratar da modelação dos terrenos e para construir o parque verde e creio que, no início do próximo ano, teremos o parque verde concluído e com capacidade para servir a população”, afirmava. Quase um ano depois, em Janeiro de 2018, a autarquia voltava a acenar com datas para o fim da obra, adiantando que os trabalhos deveriam estar terminados no final deste ano. “Dadas as condicionantes inerentes ao curso normal de grandes obras que envolvem vários concursos públicos e empreitadas, como é este caso, não é possível ainda estimar a data de inauguração da Feira Popular, sendo que a meta para a abertura do parque verde é o final de 2018”, garantia a Câmara Municipal de Lisboa, numa resposta a questões colocadas pela agência Lusa.

Os resultados do concurso público para esta empreitada, porém, só foram conhecidos no passado mês. A 21 de Agosto, a consultora portuguesa de engenharia e arquitectura Quadrante anunciava em comunicado ter sido a escolhida pela CML para realizar o projecto de infra-estruturas do parque da futura Feira Popular, que inclui o Parque Verde e o Jardim dos Professores. A empreitada está orçada em 5,1 milhões de euros e tem um prazo de execução de cerca de oito meses, aos quais acresce um ano para manutenção dos espaços verdes. Mas o problema é que, neste momento, não se sabe quando começa.

 

O concurso público para a construção da zona de diversões da Feira Popular ainda nem sequer terá sido lançado. “Não é um verdadeiro mar de rosas, como tem sido publicitado. Há prazos que foram largamente ultrapassados, acho que se vai fazer render o peixe. O ano de 2018 praticamente passou, só em 2019 é que teremos parque verde. A Feira Popular deve estar concluída em 2021”, comenta o presidente da Junta de Freguesia de Carnide, Fábio Sousa (PCP), em declarações a O Corvo. Fábio Sousa critica ainda o atraso na construção do parque de estacionamento dissuasor para aquela parte da cidade, prometido também pela autarquia. “Com a requalificação da zona envolvente do Terminal da Pontinha, suprimiu-se um parque de estacionamento e é urgente que se construa um novo. Temos pressionado a câmara, mas, até agora, continua por fazer”, afirma.

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O parque verde deverá ter uma área de 20 hectares

Mesmo com a renovação do espaço público junto à estação de metro da Pontinha agora concluída, o autarca assume não estar totalmente satisfeito. “À noite, os semáforos, junto ao Centro de Saúde, ainda não funcionam, estamos há três meses a pressionar a câmara para os ligarem, não percebo porque ainda não o fizeram. Sugerimos, também, que construam esplanadas e um quiosque, melhorando o espaço de fruição pública e a segurança de quem apanha ali transportes à noite. Gostávamos de ter um cais da Gira, sistema de bicicletas partilhadas de Lisboa. Acreditamos que ainda venha a surgir no projecto”, conclui.


Apesar dos atrasos na execução do Parque Urbano da Pontinha e das críticas com ele relacionadas, a recente intervenção no espaço público daquela zona não passa despercebida a quem o frequenta, como pôde constatar O Corvo. No renovado Terminal da Pontinha, logo pela manhã, sente-se uma azáfama fora do normal. O ar desorientado dos utentes dos transportes públicos e as dúvidas constantes sobre as novas localizações das paragens das carreiras da Carris, da Rodoviária de Lisboa e da Vimeca, em funcionamento desde 10 de Setembro, confirmam que algo mudou nesta fronteira da cidade, na freguesia de Carnide. “Ainda há pessoas muito confusas, mas acho que é uma questão de tempo até se adaptarem”, diz Anabela Lourenço, 45 anos, moradora em Odivelas, ao mesmo tempo que esclarece uma dúvida de outra utilizadora.

 

 

Antes das obras de requalificação da zona envolvente da estação de metro da Pontinha, da responsabilidade da Câmara Municipal de Lisboa (CML), só havia uma paragem para a carreira 747 da Carris, independentemente do sentido. Mas, agora, há duas, gerando alguma confusão. Se há quem considere que ainda é cedo para opinar sobre as transformações e esteja reticente quanto às possíveis melhorias que a obra vai trazer, há quem já diga, sem hesitações, que o novo terminal está mais organizado. “Antes, tínhamos de andar alguns metros até chegar à paragem e, agora, as paragens estão mesmo à saída do metro, é muito cómodo. Visualmente, está muito melhor”, diz Claide Vieira, 14 anos, moradora na Pontinha. “Está mais arranjado, mas sobretudo mais bonito”, comenta a mãe, Maria Graciete, 51 anos, enquanto espera por uma carreira para o centro da cidade.

 

O novo cais tem, agora, três faixas de rodagem destinadas só a transportes públicos, tornando mais rápida a entrada e saída de veículos, lancis mais elevados para facilitar a entrada nos autocarros, paragens cobertas e com bancos, novos espaços verdes e uma ciclovia quase concluída. Apesar dessa área destinada aos velocípedes ainda estar em fase de acabamento, já se vêem algumas pessoas a andarem de bicicleta no piso requalificado em redor. João Miranda, 22 anos, está sentado no banco de uma das novas paragens, mas há um mês não o podia fazer. “O sol está muito forte hoje e, finalmente, já tenho uma sombra e posso sentar-me. Como os tempos de espera são elevados, já fazia falta”, observa. Maria Manuela, 23 anos, moradora na Serra da Luz, também elogia a nova comodidade. “Já precisávamos de uma sombra, o tempo de espera continua a ser muito elevado, mas temos condições melhores enquanto esperamos”, comenta.

 

 

Sentado na paragem ao lado, António Silvestre, 17 anos, utilizador do Terminal da Pontinha há sete anos, está satisfeito com a reconfiguração do espaço público. Principalmente com a plantação de novas árvores. “A Pontinha precisava de mais espaços verdes, não é a zona mais bonita da cidade e, agora, está a ganhar um novo ar. Os carros já não circulam na mesma estrada dos autocarros, o que é óptimo”, diz o morador do Casal do Rato, em Odivelas. “Só acho que há carreiras que deviam parar no mesmo sítio, porque fazem um percurso muito semelhante. Às vezes, temos de andar a correr de paragem em paragem, e essa parte podia ter sido melhor pensada”, critica, porém. E há quem já note algum desmazelo no tratamento do espaço público. “Isto parece um jardim? Já está desleixado, acho inútil construírem espaços verdes e não haver manutenção”, diz João Bandeiras, 60 anos.

 

Na praça em frente à estação de metro da Pontinha, a zona pedonal foi alargada e vê-se uma extensão de blocos de cimento a formarem uma linha circular de bancos. Dois jovens, com malas de viagem, estão lá sentados à espera de um táxi. Há espaços verdes, dezenas de árvores e relva ainda a crescer, mas “já se respira melhor”, diz Joaquim Novais, 84 anos. “A requalificação demorou muito tempo, mas chegou. Acho que a Pontinha está a ganhar mais qualidade de vida, o tempo de espera é que piorou desde que a Câmara Municipal de Lisboa passou a gerir o serviço da Carris”, observa.

 

O Corvo tentou contactar a Câmara de Lisboa para saber a data de abertura do parque, se o concurso público para a gestão do espaço da zona de diversões da Feira Popular já foi lançado e em que fase está a empreitada, mas até ao momento da publicação deste artigo não obteve resposta.

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