Pombos de Lisboa deixam de ser considerados uma “praga” e passam a ser controlados em pombais contraceptivos

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Samuel Alemão

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Cidade de Lisboa

26 Maio, 2017


Um pequeno passo para os humanos, um gigantesco passo para os pombos, denotando uma clara mudança civilizacional. A partir de agora, e de forma gradual, a Câmara Municipal de Lisboa deixará de tratar os pombos como uma praga, para passar a vê-los como animais iguais a cães e a gatos. “A prazo, iremos acabar com a prática do abate de pombos, reflectindo a mudança de política que estamos agora a iniciar”, garantiu Duarte Cordeiro, vice-presidente da autarquia, na tarde desta quinta-feira (25 de maio), no Parque Silva Porto, em Benfica, durante a inauguração do primeiro pombal contraceptivo da capital. A entrada em funcionamento deste projecto, tornado possível por ser um dos vencedores do Orçamento Participativo 2015-16, marca uma mudança de paradigma.

Até ao final do ano, a câmara quer criar mais sete unidades iguais à que inicia agora actividade na Mata de Benfica, desencadeando uma nova prática de controlo da população destas aves, assim evitando a captura e o abate. Nos pombais da futura rede municipal, com a colaboração das juntas de freguesia e o trabalho de grupos de voluntários, proceder-se-á à retirada dos novos ovos de pombos, ao fim de dois ou três dias, antes da formação do embrião, evitando-se assim a reprodução. “Este é, sem dúvida, o método mais eficaz, melhor que todos os outros que temos vindo a aplicar. O que nos leva a ter uma maior esperança de garantir uma convivência pacífica entre pombos e humanos”, disse Duarte Cordeiro, que destacou a grande importância dos voluntários, inscritos no banco de voluntariado da capital, para o eficaz funcionamento do processo.

Pombos de Lisboa deixam de ser considerados uma “praga” e passam a ser controlados em pombais contraceptivos

Foi um grupo deles, aliás, quem lançou a ideia na origem do projecto vencedor do OP 2016 inaugurado nesta quinta-feira. Orçado em 20 mil euros, consiste num conjunto de cerca de quatro dezenas de casulos instalados num antigo pombal existente no coração do Parque Silva Porto. Atraídos, através de água e alimento, a esta estrutura agora reabilitada, os pombos tentarão ali proceder à nidificação, deixando os seus ovos. E é a partir desse momento que os voluntários – neste caso, são cinco – terão de retirar os ovos e no seu lugar colocar ovos de plástico (foto de abertura), tentando assim enganar as aves. Para que o processo seja eficaz, e os pombos não venham a recusar este poiso por se aperceberem que estão a ser enganados, haverá que deixar singrar uma ninhada por ano. Utilizando os novos pombais contraceptivos deixarão de fazer ninhos em telhados, parapeitos e monumentos. Os ganhos patrimoniais serão óbvios, diz a câmara.

Se tudo correr bem, deixarão de existir razões para que tanta gente nutra um ódio particular para com os pombos – havendo a ideia mais ou menos generalizado de que são o equivalente a “ratos com asas”. Há, contudo, quem não pense assim. “Os pombos também são animais sensientes, como os cães e os gatos. E este método que agora se põe em prática é o único método ético de controlo da população que conheço. Trata-se de uma alternativa à violência inaceitável a que os pombos têm sido sujeitos em Lisboa, através da captura com canhão de rede e abate”, disse a O Corvo Joana Antunes, uma das voluntárias deste pombal e autora da proposta vencedora do Orçamento Participativo 2016 que conduziu à criação da primeira infra-estrutura do género na cidade – que também garante tratamento veterinário às aves que o necessitem. “Esta solução foi testada com sucesso noutros países, como a Alemanha”, disse Inês Drummond (PS), presidente da Junta de Freguesia de Benfica.

Pombos de Lisboa deixam de ser considerados uma “praga” e passam a ser controlados em pombais contraceptivos

Alguns minutos depois, a voluntária Joana Antunes, jurista de formação, não se deixou constranger pela solenidade da inauguração e não perdeu a oportunidade para denunciar o que considera ser “o massacre de pombos” perpetrado, até agora, pela autarquia. Prática que deverá terminar com a criação desta rede municipal de pombais contraceptivos. “Não é consentânea com os tempos actuais a forma como a Câmara Municipal de Lisboa trata os pombos. Temos de pôr fim às capturas com canhão de rede e abate. Será uma forma de Lisboa ficar na vanguarda do tratamento ético de todos os animais, não apenas de cães e gatos”, frisou. Ideia que recebeu a concordância de Duarte Cordeiro, tendo o vice-presidente da autarquia lembrado a “viragem” iniciada na forma como os animais são tratados, com a inauguração, há três anos, Monsanto, da Casa dos Animais de Lisboa. Também nesse caso, a abolição do abate de cães e gatos constituiu uma novidade.

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COMENTÁRIOS

  • Irene Meira
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    O. Dr Fernando Medina, sempre a surpreender_nos pela positiva.

    • Joaquina
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      A mim surpreendeu-me com o abate em massa dos pombos e agora, quem teve a ideia e lutou por ela foram pessoas voluntárias, mas a cegueira de polotica é tanta, que o medina já é um herói. ..irra…

      • nuno
        Responder

        Existe um grave problema com os pombos. Os prédios e respectivas varandas e automóveis e candeeiros ficam todos sujos das fezes destes animais

    • Ines B.
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      Isto é o resultado de uma luta cidadã muito sofrida. E espera-se que realmente se alargue a toda a cidade e que não seja só uma medida a pensar nas eleições que se aproximam.

  • Helena Cunha
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    A seguir tem que se pensar nas gaivotas que estão a invadir as cidades por falta de comida junto ao mar. A lei que proíbe os barcos de pesca de atirarem ao mar os restos de pesca contribui para isto! Qual a poluição causada pelos restos de pesca ? Tantos mas tantos animais marinhos os aproveitam ! Problema mesmo é a poluição dos mares mas é por substâncias que não fazem parte dele . De outra forma qual seria a consequência de tantos animais que morrem no mar ? É preciso repensar , para o bem estar destas aves também.

    • Ines B.
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      Bem visto. Realmente as gaivotas estão cheias de fome e cada vez mais se adentram na cidade. Arranjam-se como podem, chegando a caçar pombos e andorinhas.

  • Cristina Raposo
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    Acho uma otima ideia. Gostaria de deixar aqui um reparo. Há cada vez mais pombos com as patas aleijadas ou até sem elas, o que me fez pensar se não será por causa dos picos que põem nos monumentos e noutros sítios, para evitar que os pombos lá poisem. Não haverá solução para isso?

    • Diana
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      “Há cada vez mais pombos” é um eufemismo. Gostava de encontrar um pombo que não estivesse mutilado.

      Já agora, deixo o meu aplauso a esta iniciativa.

    • nuno
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      Temos de proteger o edificado da porcaria que os pombos deixam ou é o Medina que vai limpar ?

    • Ines B.
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      É por causa da poluição de pequenos fios e linhas no ar e até cabelos, que agarrando-se às suas patas as vão estrangulando.

  • Francisco Eustáquio
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    Muito bem!

  • Florentino Marabuto
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    Quando li no portal da Camara que iam ser criados “pombais contracetivos” fiquei assustado e pensei: que raio serão “pombais contracetivos”? é que a componente “cetivos” não me fazia lembrar nada. teria a ver com cetas, com celtas, com…com quê?
    Agora percebo que se trata de mera questão de iliteracia da CML. Continue assim, dr Medina que não leva o meu voto nas proximas eleições!

  • Cidadão n°8600
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    Olha olha, pombinho na grelha é uma iguaria! E com omelete de ovo de pombo a acompanhar ainda se podia tornar prato típico!

  • Ems
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    Já agora recomendo a todos os que apoiam os pombos que financiem a limpeza dos aljerozes dos telhados com pombos mortos e ninhos de pombos, os quais criam infiltrações nos edifícios, para ver os grandes prejuízos que os pombos fazem nos edifícios.

    • Ines B.
      Responder

      Ora essa. Para isso é que o senhor paga o seu condomínio e os cidadãos pagam impostos.

  • Alzira
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    Apesar de tudo que os vai matando diariamente, não posso deixar de pensar nos esterminios pelos quais já TANTOS pereceram….
    O último que dei conta foi perto da entrada do jardim zoológico…..
    Foi pela calada da noite??????

  • M. Ryon
    Responder

    Incrível: propus isto há 20 anos e nesta altura fui considerado um extra-terrestre. Até – para a cidade de Coimbra -fiz um plano de “combate” à proliferação dos pombos da cidade (sem crueldades, à base da contenção da procriação), mas aí também os políticos iluminados não estavam prontos. Porque em Portugal ideias novas por vezes necessitam de 20 anos – ou mais –
    para chegar aos centros de decisão?
    M.Ryon Veterinário

  • Manuel Costa
    Responder

    Sabem quantos ovos põe uma pomba de cada postura e quantas vezes faz isso ao ano?
    Sabe que as crias de uma pomba passado meio ano já estão a fazer o mesmo que a progenitora
    Sabia que essas crias ainda conseguem criar uma vez nesse mesmo ano?
    Sabia que um pombo dura +- 5/6 anos e não tem predadores.
    Agora faça as contas e veja quanto a população dos pombos, aumenta num ano?
    Tenham paciência, isso do ovos, milho contraceptivo, espetos ou redes é tudo uma treta, elas sai-em de um lado e vão para outro, não faltam sítios para nidificar e o mesmo vai acontecer com as gaivotas. A única solução de controlar é captura por armadilhas de captura de pombos e o abate, não existe milagres, por muito que custe.

  • mariana palma
    Responder

    Manuel Costa, que bela solução, em pleno séc. XXI. Ponha-se nas penas do pombo, e sinta a dor que eles sentem quando levam com um canhão em cima.
    Eu alimento-os e garanto que são bem espertos. A maioria dos ovos que põem não vingam. Estão sempre a fazê-los na minha varanda. Nasceu uma vez um pombo e não durou 3 dias, pq a pomba esborrachou-o, sem querer.

  • ana sousa
    Responder

    Já não há tantos pombos em Lisboa como havia na minha juventude. Esses eram gordos, saudáveis, reproduziam-se sem entraves como em qualquer outra grande cidade europeia (Praça de S. Marcos em Veneza, Roma, Paris, Londres, Madrid e tantas outras). A população local alimentava-os e disponibilizava-lhes água. Olhem só agora, esta gente mal formada, maldosa, que envenena os pombos e escrevem alarvidades contra a sua existência na cidade. Como se esses energúmenos fossem os únicos a ter direito a ocupar o espaço da cidade. Por certo gente vinda da província, não são naturais de Lisboa. Observem os pombos de Lisboa no tempo presente, em pequeno número, as penas sem brilho, baças, magríssimos, esfomeados, sedentos, escorraçados, caçados por indigentes e não só… e por tudo isto somado eles têm um ar de ser animais doentes e stressados. Não pode a CML destacar um veterinário dos seus serviços para os observar, tratar devidamente e identificá-los colocando uma anilha? DEIXEM OS POMBOS DE LISBOA EM PAZ, ELES TÊM DIREITO AO SEU ESPAÇO NA CIDADE.

  • Luísa Rodrigues
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    O meu comentário , foca-se na quantidade de pombos , que quem sabe e está informado , transmite n doenças . Adoram os parapeitos das janelas e aí deixam as suas “ cagadelas “.
    Pergunto apenas : quem limpa ? Quem se preocupa com esta praga ? Já sei se vozes se levantarão que não história de animais, e tudo o resto. Adoram dar pãozinho aos pombinhos , e inclusive poderiam , nas residências , e criar pombais , como animais de estimação..A câmara não consegue controlar as pragas , nem responder aos munícipes . Tomar medidas impopulares , será difícil .. com eleições há porta . A limpeza dos dejetos 💩, será feita voluntáriamente ? Há que assumir as decisões , e ser bem coerente !

    • Pedro Dias
      Responder

      Transmitem N doenças? Apanhas mais doenças se entrares num comboio da CP ou no Metro do que se te meteres no meio de milhares de pombos. Ridículo! Ignorância do mais puro que há.

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