Um grupo representativo dos moradores de Arroios e da Penha de França diz ser ainda possível travar a construção de um parque de estacionamento num baldio na zona da encosta do Caracol da Penha, localizado entre ambas as freguesias, preferindo ali ver a funcionar um jardim público. Mobilizados, desde o início do verão, através do Movimento Pelo Jardim do Caracol da Penha, os residentes conseguiram recolher 2.500 assinaturas contra o projecto da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) para a criação de um parque com capacidade para 86 viaturas, as quais entregarão na Assembleia Municipal de Lisboa (AML), nesta terça-feira (12 de setembro).

 

“Esta é a última oportunidade para fazer um jardim naquela zona, que, na nossa opinião, está muito mais necessitada de espaços verdes do que de lugares de estacionamento”, diz ao Corvo Miguel Pinto, um dos membros do colectivo contestatário da transformação em mais um depósito de carros do terreno municipal, com uma área superior a 8.000 metros quadrados e até aqui semi-abandonado. Apesar de reconhecer que outras pessoas até poderão ter opinião contrária, o activista urbano diz ser sua convicção, bem como dos restantes membros do movimento, estar a dar voz a um sentimento dominante entre os moradores.

 

Para além das assinaturas recolhidas através da petição, Miguel Pinto fala nas opiniões obtidas informalmente. “Todas as pessoas que encontro na rua, curiosamente, preferem um jardim a um estacionamento”, diz, antes de evidenciar o facto de esse sentimento de défice de espaços verdes naquela zona da capital poder ser comprovado através de uma análise mais fria dos números. Com uma população agregada de 60 mil pessoas, as duas freguesias têm muito poucos jardins, apresentando alguns dos valores mais baixos da cidade no rácio de espaços verdes por cada habitante: Arroios tem 1,2 metros quadrados por residente, enquanto a Penha de França se fica pelos 0,8 metros quadrados. As duas circunscrições fazem parte do lote das cinco freguesias de Lisboa com menos área verde.

 

O membro do grupo de moradores – que apresentou uma candidatura de proposta (com o número 573) visando a construção de um Jardim no Caracol da Penha, à próxima edição do Orçamento Participativo de Lisboa 2016, a ser votada em Outubro – diz que as portas ainda não estão fechadas, até porque “há alternativas de parqueamento para residentes naquela área”. O porta-voz do movimento diz já ter sido sugerida, à EMEL e à Câmara Municipal de Lisboa, como alternativa, uma melhor utilização de uma vintena de garagens existentes numa área compreendida entre o Intendente e a Rua Morais Soares.

 

“Os 86 lugares que querem agora colocar naquele sítio, onde entendemos ser mais interessante ter espaço verde, podem bem ser encontrados nesses espaços identificados”, considera, lembrando ainda o facto de o Bairro das Colónias estar sob a alçada da EMEL desde junho de 2015. Tal, diz, tem facilitado a vida aos moradores, dissuadindo terceiros de ali estacionarem. A construção do parque de estacionamento no Caracol da Penha, diz, além de “não ter resultado da auscultação da população sobre o que ali queria”, será o desperdiçar da oportunidade de converter o derradeiro espaço não urbanizado naquela zona da cidade num espaço verde – algo de que as pessoas daquelas zonas apenas podem beneficiar se forem a locais como o Campo dos Mártires da Pátria, a Alameda Dom Afonso Henriques ou o pequeno Miradouro do Torel.

 

O Movimento Pelo Jardim do Caracol da Penha – para quem o estacionamento para ali planeado pela EMEL contaria a política autárquica de investimento em melhor espaço público, corporizada através do Programa Uma Praça em Cada Bairro – está a preparar mais acções para conseguir os seus intuitos. A 7 de outubro, haverá uma mesa redonda sobre o assunto, no Instituto de Ciências Sociais.

 

Mais informações: www.caracoldapenha.wix.com/jardim

                                www.facebook.com/jardimcaracoldapenha

 

Texto: Samuel Alemão

 

  • Vasco Leitão
    Responder

    desde que seja um amigo da gorda a construir não há problema nenhum

    • Vítor Carvalho
      Responder

      Comentário parvo. Critique, sugira, apresente alternativas concretas e deixe de rotular as pessoas pelo seu aspeto físico. Já reparou se eu dissesse que “leitão” é da família do porco?..

  • Pedro Fradique
    Responder

    RT @ocorvo_noticias: Moradores de Arroios e Penha de França insistem na construção de jardim público – https://t.co/JB5KWndWCV

  • Miguel M
    Responder

    Não é preciso ir ao Torel ou ao campo de Santana para usufruir de um espaço verde. Temos o miradouro do monte agudo bem mais perto.

    • João
      Responder

      E acha que esse miradouro é suficiente?

      Por amor de deus…

    • Jorge
      Responder

      Curioso que só se tenham mobilizado depois de saberem do projecto de parque de estacionamento. Quando o terreno estava abandonado ao lixo e pragas não queriam saber…
      Se a questão não fosse uma guerra ideológica contra o automóvel, seria perfeitamente possível contentar ambos os tipos de moradores: os que não têm automóvel e portanto não vêem utilidade no parque, e os que têm carro e têm dificuldade em estacionar.

  • Henrique Dias
    Responder

    O jardim serve muito mais os munícipes. A EMEL, além da extorsão que pratica, anda nitidamente a usurpar o espaço público. Alguém elegeu a EMEL?

  • Tania Fortuna
    Responder

    Precisamos urgentemente de mais espaços verdes em Lisboa.

  • Ana Rita Sá Pimentel
    Responder

    e porque não um estacionamento por baixo de um jardim???

    • Luís Teixeira Neves
      Responder

      Quando se faz um estacionamento por baixo de um jardim ou se têm que abater as árvores desse jardim ou impossibilitado de as plantar nele. O resultado é um jardim sem árvores.

  • Laura Pereira
    Responder

    agora está na moda jardin construídos em escarpas

  • José
    Responder

    O que necessitamos, é a manutenção dos espaços verdes que já existem.
    Fazem depois ficam ao abandono.

  • Carlos Maciel
    Responder

    Isto é cidadania!! RT(Moradores de Arroios e Penha de França insistem na construção de jardim público https://t.co/GaJ5CgFR9z

  • Vitriólica CORRosiva
    Responder

    RT @maciel_mac: Isto é cidadania!! RT(Moradores de Arroios e Penha de França insistem na construção de jardim público https://t.co/GaJ5CgFR…

  • Vasco
    Responder

    Só é pena os residentes dessas freguesias não manterem os espaços verdes dos seus logradouros. Geralmente enchem tudo de cimento e anexos abarracados para aumentar a casa.

    • Maria João
      Responder

      Um jardim é muito mais interessante, sem dúvida, mas a prioridade está na resolução do problema do estacionamento. A Penha de França não tem o problema resolvido tal como uma parte do Bairro dos Colónias e portanto não existe parqueamento para moradores. Não são os jardins que estão a menos, são os carros que estão a mais. Terá que haver mudança profunda na mentalidade das pessoas que ali moram e nas que irão morar. Este problema não pode ser posto como jardim versus parque de estacionamento

    • Maria João
      Responder

      Tens razão Vasco! desculpa ter respondido ao teu comentário, o meu comentário é suposto ser geral

  • Academia Cidadã
    Responder

    Os cidadãos participam e fazem propostas para tornar a cidade mais habitável. Numa época em que se desenham… https://t.co/LW2DKVIfVY

  • Cláudio da Silva
    Responder

    A Emel tb faz falta. Eu nunca tinha lugar para estacionar e sou morador há anos e agora tenho sempre que chego a casa (durante o dia) O bairro era ocupado por pessoas de fora que enchiam o mesmo com os carros todo o dia, todos os dias… Podiam era conciliar as duas coisas ali… Penso eu…

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