Moradores de Arroios e Penha de França insistem na construção de jardim público

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Samuel Alemão

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Penha de França

13 Setembro, 2016


Um grupo representativo dos moradores de Arroios e da Penha de França diz ser ainda possível travar a construção de um parque de estacionamento num baldio na zona da encosta do Caracol da Penha, localizado entre ambas as freguesias, preferindo ali ver a funcionar um jardim público. Mobilizados, desde o início do verão, através do Movimento Pelo Jardim do Caracol da Penha, os residentes conseguiram recolher 2.500 assinaturas contra o projecto da Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL) para a criação de um parque com capacidade para 86 viaturas, as quais entregarão na Assembleia Municipal de Lisboa (AML), nesta terça-feira (12 de setembro).

“Esta é a última oportunidade para fazer um jardim naquela zona, que, na nossa opinião, está muito mais necessitada de espaços verdes do que de lugares de estacionamento”, diz ao Corvo Miguel Pinto, um dos membros do colectivo contestatário da transformação em mais um depósito de carros do terreno municipal, com uma área superior a 8.000 metros quadrados e até aqui semi-abandonado. Apesar de reconhecer que outras pessoas até poderão ter opinião contrária, o activista urbano diz ser sua convicção, bem como dos restantes membros do movimento, estar a dar voz a um sentimento dominante entre os moradores.

Para além das assinaturas recolhidas através da petição, Miguel Pinto fala nas opiniões obtidas informalmente. “Todas as pessoas que encontro na rua, curiosamente, preferem um jardim a um estacionamento”, diz, antes de evidenciar o facto de esse sentimento de défice de espaços verdes naquela zona da capital poder ser comprovado através de uma análise mais fria dos números. Com uma população agregada de 60 mil pessoas, as duas freguesias têm muito poucos jardins, apresentando alguns dos valores mais baixos da cidade no rácio de espaços verdes por cada habitante: Arroios tem 1,2 metros quadrados por residente, enquanto a Penha de França se fica pelos 0,8 metros quadrados. As duas circunscrições fazem parte do lote das cinco freguesias de Lisboa com menos área verde.

O membro do grupo de moradores – que apresentou uma candidatura de proposta (com o número 573) visando a construção de um Jardim no Caracol da Penha, à próxima edição do Orçamento Participativo de Lisboa 2016, a ser votada em Outubro – diz que as portas ainda não estão fechadas, até porque “há alternativas de parqueamento para residentes naquela área”. O porta-voz do movimento diz já ter sido sugerida, à EMEL e à Câmara Municipal de Lisboa, como alternativa, uma melhor utilização de uma vintena de garagens existentes numa área compreendida entre o Intendente e a Rua Morais Soares.

“Os 86 lugares que querem agora colocar naquele sítio, onde entendemos ser mais interessante ter espaço verde, podem bem ser encontrados nesses espaços identificados”, considera, lembrando ainda o facto de o Bairro das Colónias estar sob a alçada da EMEL desde junho de 2015. Tal, diz, tem facilitado a vida aos moradores, dissuadindo terceiros de ali estacionarem. A construção do parque de estacionamento no Caracol da Penha, diz, além de “não ter resultado da auscultação da população sobre o que ali queria”, será o desperdiçar da oportunidade de converter o derradeiro espaço não urbanizado naquela zona da cidade num espaço verde – algo de que as pessoas daquelas zonas apenas podem beneficiar se forem a locais como o Campo dos Mártires da Pátria, a Alameda Dom Afonso Henriques ou o pequeno Miradouro do Torel.

O Movimento Pelo Jardim do Caracol da Penha – para quem o estacionamento para ali planeado pela EMEL contaria a política autárquica de investimento em melhor espaço público, corporizada através do Programa Uma Praça em Cada Bairro – está a preparar mais acções para conseguir os seus intuitos. A 7 de outubro, haverá uma mesa redonda sobre o assunto, no Instituto de Ciências Sociais.

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