Residentes de Lisboa vão ser premiados se passarem a produzir menos lixo doméstico

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Sofia Cristino

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AMBIENTE

Cidade de Lisboa

27 Novembro, 2017

Através da utilização de sensores nos contentores, de cartões personalizados e de códigos de barras nos sacos de plástico, será possível avaliar qual a quantidade de resíduos produzidos por cada munícipe. E quem produzir menos terá benefícios. “Todos pagamos a tarifa de resíduos na factura da água. No entanto, a forma mais adequada para todos seria pagarmos em função daquilo que efectivamente produzimos”, diz o vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Duarte Cordeiro avança que atribuir descontos na tarifa da água poderá ser uma das opções de premiação. Da mesma forma, a entrega de objectos para reciclagem também será recompensada com descontos e vales. Serão ainda distribuídos gratuitamente quatro mil compostores por moradias da capital. Medidas apresentadas na passada quinta-feira (23 de novembro), no Hub Criativo do Beato, onde funcionará o Repair Café, espaço de utilização comunitária, onde electrodomésticos aparentemente sem conserto ganharão uma nova vida.

Não falta muito tempo para os munícipes de Lisboa conseguirem saber qual é a quantidade de lixo que produzem. Por vários pontos da cidade já estão instalados sensores em contentores subterrâneos, que registam os depósitos lá efectuados. Através deste sistema de gestão inteligente, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) conseguirá saber quando os mesmos estiverem cheios e monitorizar a quantidade de lixo produzido. Esta é uma das propostas, que se insere no Plano Municipal de Gestão de Resíduos, apresentada esta quinta-feira, dia 23 de novembro, no Hub Criativo do Beato, pelo vice-presidente da autarquia, Duarte Cordeiro.

Em alguns estabelecimentos comerciais, o registo de resíduos já é efectuado através de um cartão electrónico, sabendo-se, assim, a quantidade produzida de lixo em alguns pontos da cidade. A ideia é, agora, alargar o conceito a todos os habitantes da capital portuguesa. A forma como se vai processar esta contabilização ainda está a ser estudada mas, em declarações a O Corvo, o vereador da Higiene e do Urbanismo divulgou os planos que estão em cima da mesa.

“As pessoas que quiserem saber a quantidade de lixo que produzem terão de utilizar sacos de plástico com códigos de barras e um cartão electrónico que as identifique, como os que já foram entregues aos comerciantes. Ao deslocarem-se aos contentores que já têm sensores instalados, é automaticamente registado quem colocou o saco do lixo e quanto peso foi acrescentado ao contentor”, explica Duarte Cordeiro. E, quem produzir menos lixo orgânico ou fizer mais reciclagem, será premiado com descontos ou prémios. “Ainda não está fechado o modelo de premiação, mas há a possibilidade de fazermos descontos na factura da água, sempre com base no comportamento das pessoas”, avança Duarte Cordeiro.

“Todos pagamos a tarifa de resíduos na factura da água. E a própria taxa da água, que tem uma relação directa com a produção de resíduos, é considerada um indicador. No entanto, a forma mais adequada para todos seria pagarmos em função daquilo que efectivamente produzimos. Queremos testar esta solução em Lisboa e contabilizar aquilo que é o volume concreto, tentando premiar as políticas mais ambientais”, diz o vice-presidente.

Vai ser possível, ainda, aos moradores de Lisboa, através de uma aplicação para telemóvel, verificarem quais os ecopontos perto da sua zona de residência que estão cheios e os que não estão, permitindo-lhes poupar uma saída de casa para despejar o lixo em vão ou, se houverem contentores com níveis de enchimento menores, deslocarem-se ao ecoponto disponível mais próximo.

“Neste momento já temos a tecnologia instalada. Já conseguimos perceber, por exemplo, quando o contentor tem uma ocupação de 50% e fazer uma medição da quantidade e do tipo de lixo em toneladas. Através da leitura dos cartões, entregues aos munícipes, vamos conseguir identificar quem é a pessoa que coloca o saco. No fundo, é o cruzamento de dois dados”, esclarece a O Corvo. “Há zonas onde a recolha porta-a-porta não é exequível e as pessoas podem ter necessidade de esvaziar os contentores num dia em que não é feita recolha. Com estas modalidades, conseguimos que a cidade aguente melhor em períodos em que não há recolha e aumentamos a comodidade dos munícipes”, diz, ainda.

Residentes de Lisboa vão ser premiados se passarem a produzir menos lixo doméstico

Se este sistema tecnológico se tornar viável, Duarte Cordeiro considera, ainda, a hipótese de vir a ser criada uma rede de munícipes fidelizada. “Até pode haver uma grande adesão e chegarmos à conclusão que temos uma rede de munícipes fidelizados e tomar novas medidas com base nisso. Vamos testar, isto é tudo hipotético ainda”, explica. Outro dos fins da criação de uma “boa rede” de eco-ilhas é dar resposta à pressão turística e comercial que tem vindo a aumentar, contribuindo para a produção de mais lixo. Neste momento, já existem 44 ilhas ecológicas na cidade de Lisboa, cada uma com quatro contentores. Mas a autarquia quer instalar 130 eco-ilhas.

 

Uma das grandes novidades, que irá entrar em vigor no próximo ano, é a disponibilização gratuita de 4.000 compostores domésticos a moradores de Lisboa que vivam em habitações com jardim, de forma a recuperarem os resíduos orgânicos, a maior fatia do lixo produzido pelas famílias. “Sabemos que grande parte do lixo indiferenciado diz respeito a lixo orgânico e tudo o que conseguirmos tirar do lixo orgânico é um ganho ambiental imediato. Se recuperarmos esse lixo, nomeadamente para fazer adubos, conseguimos ganhos imediatos, pois é menos lixo que temos de pagar para tratar ou queimar”, explicou, no decorrer da apresentação, inserida na Semana Europeia da Prevenção de Resíduos.

 

“Queremos ter capacidade de recuperar rapidamente resíduos e evitar que sejam incinerados, pois só assim poderão ser valorizados. Se esta medida tiver adesão e resultados, pretendemos alargar a distribuição de compostores”, acrescentou. As moradias com jardim, em Lisboa, já estão identificadas e será dada formação aos munícipes para utilizarem correctamente os compostores.


 

Para 2019, porque a ambição do projecto assim o exige, está prevista a abertura de um ecocentro. A autarquia pretende, desta forma, cativar os munícipes a reciclarem outro tipo de materiais. “É possível reciclar muito mais para além do papel, do plástico e do vidro. Há linhas de reciclagem em muitas mais áreas. Os ecocentros consistem, no fundo, em espaços limpos, cómodos e atrativos, onde qualquer um pode vir com todo o género de utensílios, como madeira, pneus, eletrodomésticos, entre outros, criando-se também outro tipo de ligações com os munícipes”, esclarece. Depois da avaliação do impacto desta infraestrutura, poderá ser criado um segundo ecocentro.

Se este sistema tecnológico se tornar viável, Duarte Cordeiro considera, ainda, a hipótese de vir a ser criada uma rede de munícipes fidelizada. “Até pode haver uma grande adesão e chegarmos à conclusão que temos uma rede de munícipes fidelizados e tomar novas medidas com base nisso. Vamos testar, isto é tudo hipotético ainda”, explica. Outro dos fins da criação de uma “boa rede” de eco-ilhas é dar resposta à pressão turística e comercial que tem vindo a aumentar, contribuindo para a produção de mais lixo. Neste momento, já existem 44 ilhas ecológicas na cidade de Lisboa, cada uma com quatro contentores. Mas a autarquia quer instalar 130 eco-ilhas.

 

Uma das grandes novidades, que irá entrar em vigor no próximo ano, é a disponibilização gratuita de 4.000 compostores domésticos a moradores de Lisboa que vivam em habitações com jardim, de forma a recuperarem os resíduos orgânicos, a maior fatia do lixo produzido pelas famílias. “Sabemos que grande parte do lixo indiferenciado diz respeito a lixo orgânico e tudo o que conseguirmos tirar do lixo orgânico é um ganho ambiental imediato. Se recuperarmos esse lixo, nomeadamente para fazer adubos, conseguimos ganhos imediatos, pois é menos lixo que temos de pagar para tratar ou queimar”, explicou, no decorrer da apresentação, inserida na Semana Europeia da Prevenção de Resíduos.

 

“Queremos ter capacidade de recuperar rapidamente resíduos e evitar que sejam incinerados, pois só assim poderão ser valorizados. Se esta medida tiver adesão e resultados, pretendemos alargar a distribuição de compostores”, acrescentou. As moradias com jardim, em Lisboa, já estão identificadas e será dada formação aos munícipes para utilizarem correctamente os compostores.

 

Para 2019, porque a ambição do projecto assim o exige, está prevista a abertura de um ecocentro. A autarquia pretende, desta forma, cativar os munícipes a reciclarem outro tipo de materiais. “É possível reciclar muito mais para além do papel, do plástico e do vidro. Há linhas de reciclagem em muitas mais áreas. Os ecocentros consistem, no fundo, em espaços limpos, cómodos e atrativos, onde qualquer um pode vir com todo o género de utensílios, como madeira, pneus, eletrodomésticos, entre outros, criando-se também outro tipo de ligações com os munícipes”, esclarece. Depois da avaliação do impacto desta infraestrutura, poderá ser criado um segundo ecocentro.

Aqui, à semelhança do que acontecerá com os sensores dos contentores, a entrega de resíduos será monitorizada por meio de um cartão e, depois, serão atribuídos prémios ou vales, consoante o que for reciclado. “O facto de a nossa rede não ter meios de recolha selectiva para todo o tipo de materiais não significa que não temos resposta para quem quer reciclar”, sublinha, ainda.

No Hub Criativo do Beato, espaço físico escolhido para a apresentação pública das novas medidas da CML, vai nascer o Repair Café, o Bazar e o Zero Waste, três iniciativas com finalidades distintas, mas que têm um ponto em comum: o combate ao desperdício através do reaproveitamento. “São projectos pensados para quem quer reaproveitar, mas também é um processo de educação. O Hub Criativo não pode ser só criatividade, nem inovação tecnológica, também tem de ser sustentabilidade”, disse o vereador responsável pelo pelouro da Higiene Urbana.

No Repair Café, funcionará um espaço de utilização comunitária, onde as pessoas poderão deixar electrodomésticos que, aparentemente, já não tinham conserto, para então ganharem uma nova vida. Pretende-se, ainda, com a ajuda de voluntários e profissionais, ensinar a reparar bens e equipamentos, tais como brinquedos, bicicletas, roupa, entre outros tipos de objectos, e doá-los para escolas, IPSS, e outras instituições na área da economia social, gerando, desta forma, novos “greenjobs”.

No bazar, poder-se-ão trocar, reparar e expor bens usados e o ‘Zero Waste Lab’ funcionará como uma espécie de laboratório, onde serão testados diferentes tipos de modelos de consumo. “O Zero Waste Lab é mais experimental, vão haver workshops e serão feitos planeamentos de consumo para as famílias. O principal objectivo é testar todas as soluções que existam para o desperdício zero e educar as pessoas para um consumo mais sustentável”, explicou o vice-presidente da CML.

Estes programas deverão entrar em funcionamento no terceiro trimestre do próximo ano. Enquanto o espaço físico onde funcionarão, no Hub Criativo do Beato, não está concluído, estas iniciativas terão lugar nos espaços Fab Lab. A empreitada avança no primeiro trimestre de 2018.

Outra das medidas em vista, que ainda está em fase de preparação, é o projeto Force (Cities Cooperating for Circular Economy), uma parceria europeia entre Lisboa, Copenhaga, Hamburgo e Génova, em que Lisboa lidera o consórcio do programa de combate ao desperdício alimentar no valor de 1,8 milhões €.

O executivo camarário, que já recupera 32% do que vai para o lixo, quer reciclar e reutilizar mais, desafiando os habitantes da cidade de Lisboa a reutilizarem mais. Nesse sentido, a Câmara Municipal de Lisboa, em parceria com algumas entidades do sector do ambiente, vai implementar estas medidas de forma gradual, envolvendo mais a população, associações de moradores e comerciantes. Em conjunto, através de medidas concretas que possam ser implementadas por todos, pretende-se atingir “metas muito difíceis”, como aquelas que estão nos planos nacionais, mas também as que estão no programa municipal de resíduos. Uma delas é reduzir em 10% a quantidade de lixo produzida em relação a 2012.

A autarquia criou, recentemente, um conselho Consultivo para Redução de Resíduos, de forma a definir medidas concretas para atingir estas metas. “Queremos que isto seja um passo na consciencialização da cidade e de todas as famílias e um exemplo a seguir por outras cidades do nosso país”, concluiu Duarte Cordeiro. Deste novo conselho, que também está a trabalhar nos projectos acabados de anunciar, fazem parte entidades como a Direcção-Geral das Actividades Económicas, a Direcção-Geral do Consumidor, a Agência Portuguesa do Ambiente, a Valorsul, a Ersar, a Sociedade Ponto Verde e a Quercus.

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