PAN pede à Câmara de Lisboa que retire “apoio” a festa de touros com crianças

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Samuel Alemão

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Cidade de Lisboa

17 Fevereiro, 2017




O Partido Pessoas Animais e Natureza (PAN) está indignado com o que considera ser o apoio inexplicável da Câmara Municipal de Lisboa (CML) à festa taurina BullFest, a realizar neste sábado (18 de fevereiro), na praça de touros do Campo Pequeno. Na referida celebração associada à “festa brava” – que tem como um dos promotores a Associação de Turismo de Lisboa (ATL), entidade privada cuja presidência é sempre exercida pela autarquia -, haverá lugar a uma demonstração de toureio para crianças e ainda um espectáculo teatral infantil com o mesmo propósito promocional.

O referido suporte institucional por parte de uma entidade ligada à câmara – e tutelada directamente pelo seu presidente – leva o PAN a expressar publicamente “enorme surpresa e preocupação”. Tanto que André Silva, deputado na Assembleia da República, escreveu um email a Fernando Medina a solicitar a retirada de apoio a tal evento, por o mesmo estar “baseado numa cultura de violência”, denunciando ainda  “as intenções de doutrinamento dos mais jovens pela indústria tauromáquica”.

No BullFest, às 11h30 deste sábado, haverá uma demonstração tauromáquica, promovida desta forma pela organização: “Este é um momentos perfeito para os mais pequenos terem uma introdução à tauromaquia em família”. Meia-hora antes, realiza-se um espectáculo teatral para crianças sob a forma de “dom robertos”. Nele, e de acordo com a informação disponível no sítio oficial do BullFest, existirá espaço para duas encenações, uma denominada “O Barbeiro Diabólico” e a outra “A Tourada”.

Na sinopse desta última, diz-se: “O Toureiro vai tentar tourear o Touro, mas este parece não perceber o que ele quer. Ao fim de várias tentativas, o Toureiro lá consegue fazer alguma coisa do Touro que, afinal, não era nada burro. De seguida, aparecem os Forcados a dançar o fandango, preparando-se para fazer a famosa e arriscada pega de caras com o Touro”.

PAN pede à Câmara de Lisboa que retire “apoio” a festa de touros com crianças

Por causa do enquadramento dado aos públicos mais novos, o PAN apela à Câmara de Lisboa “para retirar apoio institucional a evento tauromáquico com crianças”. “Muitos lisboetas têm contactado o PAN por não entenderem o porquê deste apoio institucional à indústria tauromáquica que tem comprovadamente um peso cada vez mais insignificante no panorama dos espetáculos ao vivo em Portugal, sendo já superada pelos eventos de Folclore, segundo o Instituto Nacional de Estatística”, diz o partido em comunicado enviado à comunicação social, antes de citar um parecer da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP) sobre a discussão das consequências da exposição e participação das crianças em eventos e atividades tauromáquicas.

De acordo com o mesmo documento técnico, citado pelo PAN, “quando as crianças assistem a uma tourada podem interpretá-la como uma forma de violência (e uma violência real, embora limitada à arena) que ocorre numa relação explicável como desigual (uma vez que é perpetrada pelos homens em animais coagidos a estarem presentes) e que tendencialmente serve apenas o prazer de uma das partes”. E acrescenta: “O comportamento lido como agressivo que observam nas touradas recebe um aval social forte, podendo ser visto como apropriado e tolerável (e portanto, repetível ou perpetrável noutras circunstâncias).”

Por isso, o deputado André Silva quer que a Câmara de Lisboa retire, através da ATL, o apoio ao espectáculo em causa. No email enviado a Fernando Medina, o eleito à AR exorta: “Não posso deixar de lhe pedir que ouse ser diferente e que pondere tomar a única atitude consentânea com os mais altos valores éticos e civilizacionais através dos quais a cidade de Lisboa se deve reger, retirando o seu apoio institucional a esta iniciativa baseada na cultura da violência.”

Em 15 de setembro de 2015, o partido conseguiu fazer aprovar na Assembleia Municipal de Lisboa (AML) uma moção solicitando à Assembleia da República (AR) o “reconhecimento inequívoco das competências municipais em matéria de bem-estar de todos os animais”. Nela, num ponto único, pedia-se: “Seja clarificado pela Assembleia da República, por via legislativa e de forma incontestável, que se incluem nas atribuições municipais a proibição de actos de violência contra animais, incluindo touradas”.

O Corvo questionou ontem, ao princípio da tarde, a Câmara de Lisboa sobre este assunto, tendo a autarquia respondido, pouco mais de duas horas depois, que para comentários ou informações sobre a Bullfest deveria ser contactada o Turismo de Lisboa. O Corvo já não conseguiu, porém, fazê-lo em tempo útil para este artigo.

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COMENTÁRIOS

  • Inês C. Paulo
    Responder

    A CML que dê ( mais ) apoios aos jovens para conseguirem arrendar casas em Lisboa ao invés de andar a gastar €€ dos impostos para financiar espetáculos violentos e psicopatas. Sim, andar em cima de um cavalo a espetar touros é coisa de psicopata.

    • José Lopes
      Responder

      Sustentar artificialmente o mercado de arrendamento é também de psicopata. Se me disser que deve disponibilizar algum do imobiliário da CML para arrendamento acho que sim, dentro de limites. Não tem lógica arrendar no centro de Lisboa a 300 euros.
      Alargar o conceito de habitação social para a classe média pode ser uma boa ideia.

  • Vitor Ramos
    Responder

    Vamos acabar com a Tauromafia de uma vez por todas e acabar com esta tortura!

    • José Lopes
      Responder

      Porque tu não gostas!

  • Ines B.
    Responder

    Psicopatas mesmo! (apoios dados ao arrepio das recomendações do Comité dos Direitos da Criança da ONU ao Governo Português em relação à participação de crianças neste tipo de “actividades”)

  • Carlos Miguel Sousa
    Responder

    Baixem é o IMI, às familias e deixem-se de tretas.

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