Visitantes são ajuda preciosa a prevenir incêndios no Parque Florestal de Monsanto
O número cada vez maior de pessoas a visitarem o Parque Florestal de Monsanto, associado à existência de um quartel de bombeiros na área, estará a funcionar como um muito eficaz sistema anti-incêndios naquele que é recorrentemente considerado o “pulmão de Lisboa”. Qualquer ignição que possa ali ocorrer, e que por alguma razão não seja logo detectada pelo dispositivo de detecção e segurança existente, será sempre reportada de forma rápida às autoridades, consideram alguns observadores da realidade daquela área verde ouvidos por O Corvo. A isso acresce, admitem, o conjunto de medidas preventivas tomadas, ao longo dos anos, pela Câmara Municipal de Lisboa para tornar o perímetro mais seguro, evitando-se assim a repetição na capital dos cenários de calamidade causada por fogos, observados em muita da mancha florestal nacional.
“O parque está relativamente bem defendido, porque não só tem um quartel de bombeiros, como tem bastantes visitantes. Qualquer foco de incêndio, qualquer coisa que aconteça, essas pessoas dão logo o alerta”, diz Artur Lourenço, responsável pela Plataforma Por Monsanto, que agrega entidades como a Quercus, a Liga para Protecção da Natureza, o Fórum Cidadania LX ou a Associação Lisboa Verde. Mas não deixa de apontar falhas na limpeza da área florestal, que estará a ser descurada pela autarquia, considera. “Basta ir para a zona da Avenida das Descobertas ou junto ao Bairro da Boavista para perceber que há muito trabalho para fazer nesse campo”, afirma o activista, lamentando a entrega das funções de limpeza de diversas áreas do Parque Florestal de Monsanto a privados e o que considera ser a falta de empenho camarário nessa matéria. “Todas as áreas de fora da alçada dessas empresas não são mantidas, ficam por limpar”, critica. Uma visão contestada pela Câmara Municipal de Lisboa.
Uma perspectiva distinta sobre a mesma realidade tem a Associação Lisboa Verde, integrante da mesma Plataforma Por Monsanto. “Uma floresta tem que ter sempre uma manta morta no solo, a qual vai alimentar o subsolo, faz parte do seu ciclo natural. Além disso, é impossível ter sempre uma área florestal daquela dimensão completamente limpa, porque há muita matéria orgânica a cair no solo, a todo o momento. Uma floresta não é como um praça revestida a lioz”, afirma João Pinto Soares, considerando, no entanto, que tal estará longe de funcionar só por si como um potenciador de relevo de incêndios naquele local. “Monsanto tem um corpo de bombeiros próprio, fontes de água sempre acessíveis, bem como a video-vigilância, além de que, por agora, não existem interesses económicos de madeireiros”, diz Pinto Soares, acrescentando ainda o facto de “existirem cada vez mais pessoas naquela área, o que funciona como elemento vital para detectar e debelar qualquer fogo que possa surgir”.
O mesmo argumento defendido, afinal, por Artur Lourenço. “Os visitantes do parque têm sido muito importantes na sua salvaguarda. Há sempre muita gente e em muitas zonas do parque”, observa, sugerindo que essas pessoas têm funcionado, em certa medida, como um garante de vigilância apertada, que compensará também “a cada vez mais reduzida presença da Polícia Florestal” – força que está integrada na Polícia Municipal de Lisboa. O dirigente da Plataforma Por Monsanto diz que “não ter havido, até agora, um grande incêndio em Monsanto não é uma obra do acaso, mas sim o fruto de um bom trabalho de prevenção, feito sobretudo a partir da presidência de Santana Lopes no município, com a construção de reservatórios de água e rotundas para que os veículos de bombeiros possam manobrar mais facilmente”. Artur Lourenço admite que tal avaliação possa ser vista como contraditória com o diagnóstico de “falta de limpeza” do parque florestal, mas faz questão de distinguir entre este aspecto e o que garante ser o bom trabalho preventivo.
O Corvo questionou, a meio da tarde desta segunda-feira (16 de outubro), o gabinete do vereador José Sá Fernandes, com o pelouro da Estrutura Verde, sobre o assunto. “Assegura a CML que o Parque Florestal de Monsanto é devidamente mantido e limpo, na sua totalidade, para que assim se previna a ocorrência de incêndios?”, foi a questão endereçada. Fonte do gabinete de Sá Fernandes garante a O Corvo que o quadro descrito pela Plataforma não corresponderá à verdade, uma vez que “a Câmara de Lisboa assegura a manutenção integral do parque florestal na sua totalidade e sem distinção de zonas, sejam elas tratadas por privados ou por meios próprios do município”. “Monsanto tem um acompanhamento total por parte dos nossos serviços. Não existem dois Monsantos, apenas um”, afirma a mesma fonte oficial da autarquia.