Nasceu um novo parque verde entre o Palácio Nacional da Ajuda e Monsanto

REPORTAGEM
Samuel Alemão

Texto

AMBIENTE

Ajuda

22 Março, 2017


A relva que ladeia os caminhos foi agora mesmo plantada e deverá singrar durante a primavera, tal como as 429 árvores e os 1509 arbustos também colocados em toda a área norte do Corredor Verde do Rio Seco, inaugurada nesta terça-feira (21 de março). A vista sobre o casario do Alto da Ajuda, num primeiro plano, e, sobretudo, o Tejo e a Ponte 25 de Abril, lá mais ao fundo, ajudam a criar um quadro surpreendente nesta parte da zona ocidental de Lisboa, num local onde antes apenas se adivinhava potencial por entre uma paisagem bastante desarrumada. Ao fim de mais de década e meia de intervenções – a primeira ocorreu já em 2001 -, está concluído o projecto de criação de uma faixa de território verde renaturalizado e ordenado, com mais de 11 hectares e a atravessar a freguesia da Ajuda, entre o Parque Florestal de Monsanto, o Alto da Ajuda e a Rua Eduardo Bairrada.

O tormento de Fernanda Silva é tão persistente que ela conhece quase de cor os horários dos aviões que lhe sobrevoam a casa. “O pior de tudo é ao meio-dia, quando passa aí um Boeing enorme da Emirates Airlines ou por volta das 18h30, quando passa um da TAAG. O ruído é tão avassalador que as janelas até abanam”, conta a moradora de 34 anos da Avenida Columbano Bordalo Pinheiro, mãe de uma criança com um ano de idade. Ela reside na artéria que liga a Sete Rios à Praça de Espanha desde 2003 e não se lembra de alguma vez ter sentido algo assim. “Este ruído muito intenso causado pelos aviões começou a agravar-se há dois ou três anos e tem estado a piorar, de dia para dia, de forma absurda. Tem-se causado angústia e desânimo”, relata. E não está sozinha. “Toda a gente aqui se queixa”, assegura. Pode não ser toda a gente, mas será, por certo, considerável o número de pessoas que se têm sentido acossadas pelos sobrevoos em Lisboa.

Uma obra que José Sá Fernandes, vereador da Estrutura Verde, qualifica como de “importância fundamental”. Em declarações a O Corvo, após a cerimónia de inauguração desta fase final do parque, o autarca salientou o facto deste cenário conferir uma identidade nova a um “sítio que era completamente desqualificado e desarrumado”. Havia ali um grande baldio, que servia de local de pasto de cavalos pertencentes a alguns moradores do Bairro 2 de Maio, situado mesmo ao lado, bem como construções precárias, entre as quais estábulos e pombais. Com o projecto agora concluído, os terrenos e a ribeira que dá nome ao parque foram limpos, preservaram-se algumas árvores lá existentes, plantaram-se muitas mais e fizeram-se caminhos. Surgira ainda zonas de merendas e mobiliário urbano, construíram-se uma aldeia columbófila, hortas e um pequeno picadeiro.

Nasceu um novo parque verde entre o Palácio Nacional da Ajuda e Monsanto

“Criou-se um parque urbano com um bom enquadramento, ordenou-se a paisagem e, assim, é possível estabelecer uma ligação entre o Parque Florestal de Monsanto e o Palácio Nacional da Ajuda e o resto do Rio Seco”, diz o vereador, lembrando ainda a importância da integração do Bairro 2 de Maio neste plano de regularização paisagística – que desempenha ainda um papel determinante no ciclo da água, ao criar uma área naturalizada situada a jusante da futura bacia de retenção do Alto da Ajuda, também ontem apresentada. Este projecto, que deverá arrancar este ano, é anunciado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML) como “uma solução de base natural para controlo de cheias prevista no Plano de Drenagem” e que “vai contribuir para minimizar o impacto dos fenómenos climatéricos extremos nas zonas baixas na Ajuda e Belém”. Em conjunto com o novo parque, travará os sedimentos arrastados pelas chuvas.

Nasceu um novo parque verde entre o Palácio Nacional da Ajuda e Monsanto

Tal revela-se de grande importância num local, o Rio Seco, caracterizado “por ser um leito de uma ribeira com correntes torrenciais, em solos de calcário e granito”, como explicou a O Corvo João Castro, coordenador do gabinete de projecto da Estrutura Verde da CML. O responsável destaca a importância de se criar uma paisagem “mais naturalizada e orgânica” na parte Norte, coincidente com a última fase do projecto – integrado na Estrutura Verde Municipal -, por ser a zona onde se estabelece uma ligação com o Parque Florestal de Monsanto e onde a ribeira original não foi afectada por construção. Esta área começa junto ao Pólo Universitário da Ajuda e termina na denominada zona do Cruzeiro – onde há um conjunto de edifícios sem particular importância patrimonial, situado a algumas centenas de metros do Palácio Nacional da Ajuda, mas que os projectistas optaram por manter intactos. Na área Sul, junto ao geomonumento do Rio Seco, o curso de água tem o seu percurso encanado sob urbanizações.

Nasceu um novo parque verde entre o Palácio Nacional da Ajuda e Monsanto

MAIS REPORTAGENS

COMENTÁRIOS

  • Paulo Ramos
    Responder

    Aldrabice se forem iguais as árvores que plantaram na alameda das faculdades e no alto da ajuda estão todas mortas vão ver para quer

  • Armando Viegas Lopes Lopes
    Responder

    E os pilaretes? Esqueceram-se deles?

  • Artur Virgílio
    Responder

    Magnífica recuperação de uma zona degradada que é devolvida à população.
    Está, mais uma vez, de parabéns a Câmara !

  • Joao Pereira
    Responder

    Encostado ao 2 de Maio! Vai ter uma frequencia de visitantes assustadora.

  • Joel
    Responder

    Então e quando é que cortam as árvores à volta dos miradouros de Monsanto? É que não se vê quase nada da cidade em nenhum deles por causa da altura da vegetação…

  • Maria Oliveira
    Responder

    São de apoiar todas as realizações que promovam a melhoria dos espaços públicos e incentivem as boas práticas de conservação e higiene por parte dos moradores e utentes. Veremos como serão mantidas as estruturas agora inauguradas – pessoal de jardinagem, fiscalização/policiamento dos espaços – quanto tempo resistirão em boas condições para uso e usufruto de todos.
    Pena é que continuem por recuperar no Bairro do Alto da Ajuda duas zonas contíguas ao Bairro 2 de Maio, inexplicavelmente maltratadas. Quem subir do Palácio da Ajuda em direção a Monsanto, ao parque verde e ao polo universitário da Ajuda, entrando à direita no Bairro do Alto da Ajuda por uma rua de empedrado desigual que aguarda asfalto há mais de seis décadas (Rua 4), encontra a meio dessa rua um resto de muro outrora alto, agora transformado em murete de suporte de uma recentissima vedação de rede. Veja-se o estado em que foi deixado esse “murete” depois de demolido o primitivo muro alto e questione-se sobre a competência de quem executou a obra, paga com o dinheiro de todos nós.
    Deixo por comentar a segunda zona que mencionei acima, situando-a apenas para quem tiver interesse no assunto: a Rua 2, paralela à Estrada dos Marcos, termina num talude onde outrora existiu uma escadaria bastante íngreme, com degraus de terra batida fixados por troncos de madeira. Em garota, Subi por ela várias vezes a caminho de Montes Claros. Esse acesso poderia hoje ser utilizado por quem, vindo do Bairro, se dirija ao Polo Universitário da Ajuda. É de lamentar que os responsáveis urbanos se esqueçam de vistoriar estes espaços e exerçam de modo tão leviano as funções que lhes foram confiadas pelos munícipes.

  • henrique
    Responder

    espero que tenha video-vigilancia e bastante policiamento!!!!!ao serio mesmo, sem brincar minimamente com este assunto!!…fiquemos muito atentos nos proximos tempos á espera de novidades…

  • Amadeu Barbosa
    Responder

    Parece que o dinheiro podia ser mais bem aproveitado. Há camadas da população que não utiliza os parques.
    No rio seco há um parque lindo junto às grutas da cal. Raramente é utilizado.
    Os locais não o utilizam por causa dos vizinhos, e estes levam os dias à porta do prédio social.

Deixe um comentário.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.

O Corvo nasce da constatação de que cada vez se produz menos noticiário local. A crise da imprensa tem a ver com esse afastamento dos media relativamente às questões da cidadania quotidiana.

O Corvo pratica jornalismo independente e desvinculado de interesses particulares, sejam eles políticos, religiosos, comerciais ou de qualquer outro género.

Em paralelo, se as tecnologias cada vez mais o permitem, cada vez menos os cidadãos são chamados a pronunciar-se e a intervir na resolução dos problemas que enfrentam.

Gostaríamos de contar com a participação, o apoio e a crítica dos lisboetas que não se sentem indiferentes ao destino da sua cidade.

Samuel Alemão
s.alemao@ocorvo.pt
Director editorial e redacção

Daniel Toledo Monsonís
d.toledo@ocorvo.pt
Director executivo

Sofia Cristino
Redacção

Mário Cameira
Infografías 

Paula Ferreira
Fotografía

Margarita Cardoso de Meneses
Dep. comercial e produção

Catarina Lente
Dep. gráfico & website

Lucas Muller
Redes e análises

ERC: 126586
(Entidade Reguladora Para a Comunicação Social)

O Corvinho do Sítio de Lisboa, Lda
NIF: 514555475
Rua do Loreto, 13, 1º Dto. Lisboa
infocorvo@gmail.com

Fala conosco!

Faça aqui a sua pesquisa

Social Media Auto Publish Powered By : XYZScripts.com

Send this to a friend